segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

O brilho da Deusa Thea

"Mãe de Hélios, Grande Thea,
deusa de tantos nomes,
graças a Ti os homens atribuem ao ouro
 um poder acima dos outros metais.
 Senhora, impeça com a Tua força de luz
os combates dos navios e das carruagens,
que se enfrentam como rivais
para receberem o cobiçado troféu da glória dourada..."
 - Pindar, Ode à Thea, século 5 a.C.


                                                                                                         Vera Pinheiro

            Simplesmente Thea, a Deusa. Assim ficou conhecido o nome da deusa pré-helénica da luz, mãe dos luminares e da aurora. Apesar da sua importância arcaica, nada ficou registrado sobre seu culto ou mito. Assim como outras antigas deusas gregas, Ela foi substituída pelas divindades dos invasores indo-europeus, permanecendo oculta nas brumas dos tempos.
            Sabe-se apenas que Thea fazia parte da raça antiga dos Titãs, sendo filha de Urano, o deus celeste, e Gaia, a Mãe Terra, irmã de Anfititre (ou Tetis), Dione, Fibe, Mnemosine, Rhea e Têmis. Reverenciada como Senhora da Luz – Aetra ou Thea –, regente do céu claro, do éter (aithre) e da luz dos olhos (thea), era também honrada como Eurifessa, “a toda resplandecente”, regente do brilho do ouro, da prata e das pedras preciosas.
            Da sua união com Hyperion, o deus da luz, nasceram três filhos luminosos: Hélios, o Sol; Selene, a Lua, e Eos, a aurora.
            Reverenciada como Ichnaea, “Aquela que descobria” ou Theia, “Mãe da inspiração divina” (theiazô significava divinação ou profecia), Thea tinha um templo oracular em Tessália, assim como suas irmãs, também deusas oraculares, tinham os seus: Phoebe em Delphi, Mnemosine em Lebadeia, Dione em Dodona e Têmis desfrutando de todos estes altares.   
            E como podemos trazer a luminosidade da Deusa Thea para as nossas vidas? De que modo Ela pode orientar o caminho sagrado das mulheres, quer sejam ou não sacerdotisas iniciadas? Como desfrutar de toda a sua resplandecência?
            A primeira condição para fazer cintilar o feminino é reconhecer que o simples fato de ser mulher é algo tão belo quanto sagrado, e isso merece ser reverenciado por si mesma, antes de esperar que os outros o façam. É construir uma autoconfiança que dispense elogios alheios, embora os aprecie. É não viver na dependência de opiniões favoráveis sobre si, e saber conviver com as divergências, sem querer ser consenso, unanimidade.
            Uma mulher consciente de seu poder brilha naturalmente, é como o Sol, a Lua, a Aurora, que mostram sua luminosidade independentemente de quem se extasia diante de sua beleza, ou não. Brilham no que são e por serem o que são, e assim também aquelas mulheres que sabem quem são, com identidade própria, que não são pedintes da aprovação dos outros. Elas mesmas reconhecem seu valor, seu poder feminino, a graça de ser mulher.
            A mulher que brilha exala a divindade feminina que a habita. Tem o fulgor das pedras preciosas, a graciosidade das brisas suaves, o fascínio que as águas despertam, o magnetismo tão atraente do fogo. Ela é a quinta essência e toda a força dos quatro elementos. Tem uma fé em si com a mesma intensidade com que crê na Deusa Mãe. Exerce a sua totalidade com convicção e sem titubeios. E mesmo quando tem dúvidas não perde o esplendor nem a vivacidade. Ela é também as suas incertezas e convive bem com isso.
            Thea ficou oculta nas brumas dos tempos e a mulher que a resplandece vivencia seus mistérios e os guarda. É um tanto enigmática, um pouco indecifrável, o misterioso transitando com o místico.  Suscita questionamentos, mas não se sente obrigada a responder nem a explicar. Tem enorme capacidade de se importar pouco com o que não importa e de desvelar com o que realmente interessa. Não estimula confrontos, rivalidades, disputas. Conhece o próprio espaço e sabe merecê-lo. Age com justiça e equilíbrio e tece a vida com entusiasmo e alegria.
            Para atrair a resplandecência divinal de Thea, a luminosa, é preciso cultivar a gratidão. Agradecer traz um desvanecimento que faz a alma sorrir. E uma alma feliz resplandece! Sejamos gratas por tudo o que vivenciamos, mesmo por aquilo que está sob a aparência de desafios intransponíveis. É preciso amar para resplandecer a luz. O amor é um sentimento curador que vibra emoções positivas e felizes. Amemos, pois, cada vez mais, todos os seres do universo, e especialmente o que se reflete em nosso espelho, mesmo com cabelos desgrenhados e olhos inchados de chorar desilusões e desenganos.
            A mulher que brilha acende luzes nos caminhos em que os outros passam.  Pelo sorriso, afasta o mau humor, provoca simpatia, cria empatia, identificação instantânea e sem protocolo. A sua luminar presença transforma ambientes e torna tudo melhor do que estava, antes de ela chegar. Tem ânsia de aprendizado, desejo de sabedoria e arquejo de conhecimento. Pratica o que aprende, exercita o que conhece, executa os projetos e os aperfeiçoa com a experiência. Faz a vida com prazer. Desfruta a existência em êxtase. É feliz por existir, isso basta. E brilha, resplandece, fulgura e reluz. De bem com a vida e por ser quem é. Simplesmente mulher. Uma deusa mulher.
             

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