segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Laima, Deusa do amor e do destino

Vera Pinheiro

            Os países bálticos, a 19 de julho, celebram a Deusa Laima, doadora da boa sorte, da beleza, dos poderes mágicos e do amor. Ela era representada em forma de cisne e, por isso, guardar uma pena de cisne atraía as suas bênçãos, conta Mirella Faur, escritora e sacerdotisa da Grande Mãe, criadora da Teia de Thea. Na Lituânia, nessa data, os jovens se reuniam de noite para danças circulares e trocas de votos. Eles usavam guirlandas de flores colhidas nos campos como promessas de amor e celebravam dançando ao redor do altar de Laima.
Os países bálticos são formados por Estônia, Letônia e Lituânia e se localizam na porção nordeste do continente europeu, na costa leste do mar Báltico. Essas três nações integraram a extinta União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), e declararam suas independências em 1991, passando a Estados autônomos.
Com o fim da URSS em 1991, as ex-repúblicas soviéticas, juntamente com a Rússia, criaram a Comunidade dos Estados Independentes (CEI), que consiste num bloco econômico cujo principal objetivo é estabelecer um sistema econômico e de defesa entre as nações. De todas as ex-repúblicas soviéticas, somente os países bálticos (Estônia, Letônia e Lituânia) nunca integraram a CEI, pois essas nações, desde a independência, sempre tentaram diminuir as relações políticas com a Rússia, principal integrante do bloco.
O panteão de deuses da Lituânia é bastante rico e diversificado. Os lituanos, assim como outras nações antigas, desenvolveram no período do patriarcado a imagem do único Deus supremo, o criador e Senhor do universo e de toda a vida, considerado o Mestre do Destino, o Senhor do mundo, que governou o Céu e a Terra. “Dievas”, o nome de Deus em lituano, muitas vezes personifica o brilho do céu, luz ou dia.
Os lituanos respeitavam os deuses e deusas da fazenda e da casa. O culto dessas divindades originava-se a partir da imagem da Mãe Primordial; mais tarde, a imagem do pai influenciou também. Estas deidades protegiam a casa, as pessoas que vivem nela, a agricultura, os animais domésticos e aves.
Alguns elementos arcaicos do culto da Mãe Primordial sobreviveram no século 19. Durante o casamento, a noiva se despedia de sua casa paterna e de seus deuses, devendo rezar e fazer sacrifícios para um ídolo feminino feito de um feixe de palha, implorando para perdoá-la por sair de casa e se mudar para um novo lar, onde teria de adorar outros deuses.
As deusas de nascimento e morte eram, respectivamente, Laima e Giltine. Ambas pertenciam à geração mais velha de deusas. Laima era responsável pela fertilidade, predeterminando o destino do recém-nascido, cuidando de mulheres no parto, segundo os fenômenos cósmicos. Originalmente com imagem ornitomorfa (forma de ave), aos poucos ela adquiriu forma humana. Na área de Aestii, as aves de pedra encontradas no chão devem ter representado a Deusa Laima. Estas aves-estatuetas expressavam a ideia do elemento feminino. O culto das árvores tílias é vinculado à Laima-pássaro. Como Laima adquiriu uma imagem antropomórfica, ela se tornou protetora não só da vida terrena, mas também da vida celeste.
A natureza é um ponto muito importante na religião dos lituanos, que têm muitos deuses e deusas que simbolizam os poderes da Natureza, que são o vínculo das pessoas com fatos supranaturais. Os ancestrais costumavam realizar seus ritos religiosos em florestas sagradas, perto de riachos sagrados. Mais tarde, especialmente na Idade do Metal, apareceram templos, cujas relíquias foram descobertas em diferentes lugares da Lituânia.
Segundo o livro “Senoves Lietuviu mitologija ir religija”, de Prane Dunduliene, traduzido em inglês para “Ancient Lithuanian Mythology and Religion”, desde os tempos mais remotos, os lituanos respeitavam criaturas divinas como ídolos: primeiro, totens; depois, zoomórficas-antropomórficas e, finalmente, divindades puramente antropomórficas, conforme revelado por fontes arqueológicas e escritas, bem como por dados linguísticos e etnográficos.
A Lituânia foi o último país a ser cristianizado, em 1387, e foi uma tarefa muito difícil, que durou séculos. No entanto, seus cultos pré-cristãos sobreviveram pelas tradições orais e a sua religião pagã é uma das mais poderosas dentre as que foram reconstruídas em nossos tempos.
A Deusa Laima é a personificação do amor, do destino e da sorte, e, associada ao parto, é padroeira das mulheres grávidas. O nome Laima deriva-se da palavra laime, que significa “felicidade” ou “sorte”. Os nomes alternativos incluem Laime, Laimė (Lituânia), Laimas Mate, Mate Laimes (“Mother of Luck”).
Laima é uma das poucas deusas dos povos bálticos que incorpora uma ampla variedade de funções individuais e sociais, dos quais dois são particularmente notáveis: determinação do destino e agente de fertilidade. Essa deusa está intimamente envolvida com a vida humana. Sua função básica está relacionada com o nascimento da criança e decidir o seu destino. Laima profetiza como será a vida de um recém-nascido, detendo o poder supremo de determinar a vida do indivíduo.
Suas decisões neste contexto são radicais e imutáveis, não racionalmente motivadas: determina se a vida vai ser curta ou longa, abastada ou pobre, despreocupada ou não, bem como cabe a Ela decidir o momento da morte de uma pessoa. Ela assegura a fertilidade dos campos e dos animais (do cavalo, em particular) e as moças solteiras rezam para ela, pedindo bons maridos e um casamento feliz. Ela ajuda, ainda, em outros aspectos importantes da vida e para o bem estar das pessoas em geral.
Por vezes, havia apenas uma Laima, enquanto em outros casos, três Laimas dariam previsões contraditórias com frequência. O pronunciamento final sobre o destino da pessoa seria irrevogável e nem mesmo Laima poderia alterá-lo.
A menção às três Laimas significa que essa deusa tem três aspectos ou que este pode ter sido o nome de três divindades. No moderno Dievturi, movimento religioso neopagão que afirma ser um renascimento da religião popular dos letões antes da cristianização no século 13, essas três deusas são referidas como a mesma deidade em três aspectos diferentes.
O triunvirato de irmãs decidia o destino dos seres humanos desde a gestação até a morte. Laima cuidava dos fetos, Dekla das crianças e Karta dos adultos. Quando um nascimento estava por ocorrer, as três faziam previsões sobre o destino da criança, mas Laima tinha a palavra final, e era também quem decidia sobre a data de morte. Laima toma a decisão final sobre o destino individual e é consideravelmente a mais popular delas.
Assim como a bondosa Zemyna, a deusa da terra, uma das mais populares divindades lituanas, o trio de deusas era visto como o combustível para a ferocidade lituana nas batalhas. Por isso, seu politeísmo resistiu tanto, de forma similar ao que ocorria com os vikings e sua mitologia. A religião dos lituanos era fatalista: já que o seu destino, assim como os dos inimigos, estava traçado, eles se entregavam à batalha sem temor.
Enquanto três deusas do destino têm menos apoio entre os acadêmicos, o conceito está bem estabelecido nas religiões europeias. Na Letônia, Laima e suas irmãs Dekla e Karta formavam uma trindade de deidades do destino semelhante às Nornes, da mitologia nórdica, às Moiras, da mitologia grega, e às Parcas romanas.
Em conexão com a Deusa Laima, agradeçamos o nosso destino, a nossa vida e todas as experiências, mesmo as que preferimos não ter vivenciado ou que tivessem sido evitadas por interferência divina. Nada é inútil ou em vão, pois tudo o que vivemos tem um significado e um propósito, e serve ao nosso processo evolutivo espiritual, do que não conhecemos a extensão. A confiança de que o nosso destino foi divina e amorosamente traçado substitui as suspeitas de que isso ou aquilo não devia ser como é, afasta os temores do que virá a ser e nos dá a certeza de que a nossa vida está em sintonia com a sagrada vontade da Grande Mãe.

Como Laima é deusa do amor também, convém lembrar que os pedidos neste sentido não devem incluir pessoas nem identificar nomes. É preciso confiar que a Deusa do Destino sabe o que – e quem – é melhor para nós. Às vezes, a solidão é a melhor alternativa. Vamos pedir amor, simplesmente tudo isso! O amor que nutre, cura, abençoa, alegra, enche a alma de contentamento! O amor que faz vibrar o coração das pessoas entre si e delas por toda a humanidade e por todos os seres. O amor de que o mundo está carente hoje, mais do que sempre.

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