sábado, 24 de novembro de 2012

Nós, mulheres (*)

Vera Pinheiro
            Nós, mulheres, somos seres espetaculares esculpidos pela inspiração divina. Não nascemos para passar trabalho, mas para sermos elevadas permanentemente à condição de musas. Nossas mãos não foram criadas para carregar baldes para faxina nem para sustentar o peso das compras de supermercado, mas para se dedicarem a acalentos e carícias em rostos muito amados. No máximo, poderiam carregar sacolinhas de lojas pagas por outrem, que não nós mesmas, a custo de muito esforço. Nossos braços não existem para medir forças com os homens, mas para dar neles abraços demorados. E para espichar mãos a serem beijadas ou para mexer nos cabelos muito bem arrumados sempre, a qualquer hora.

            Nossas pernas caprichadamente torneadas não são feitas para correr de um lado para outro atrás de preços baixos, mas para ir ao encontro de namorados ou de confidentes fidelíssimas com quem compartilhar tempo livre, que pouco temos. Se for para correr que nunca seja atrás de alguém que nos tenha abandonado, nos despreze ou ignore. A gente só precisaria correr atrás de duas palavrinhas irresistíveis: promoção e liquidação. É pra já! E para marcar boa quilometragem na ergométrica em horas e horas dentro da academia ou num SPA dentro de casa.

            A cabeça linda das mulheres não devia ocupar-se com as dores de todo mundo nem se dedicar tanto às preocupações com a família. Bem que podíamos ser acariciadas por cafunés intermináveis, o corpo usufruindo de massagens à disposição. Ah, massagear o ego, que bom! Ouvir que somos belas, maravilhosas, insubstituíveis, admiráveis e arrebatadoras quase sem fazermos nada, só pelo fato de sermos mulheres. Não haver ninguém que nos aponte os defeitos nem cite os equívocos, ninguém a nos relembrar imperfeições, tropeços, ambiguidades e controvérsias. Ninguém para nos dizer que somos falíveis como não gostaríamos de ser. Merecer respeito sem precisar reivindicá-lo e uma contemplação extasiada por quem somos.

            Seria tão bom se nós, mulheres, não fôssemos usurpadas em salários, o que nos faz trabalhar mais do que seria justo, acumulando ainda as tarefas de que não conseguimos abrir mão, como atender os filhos quando eles e nós voltamos para casa. Podíamos, com sobra de merecimento, desfrutar de mais descanso, lazer e muito mais prazer em sermos mulheres se nos sobrasse mais tempo e dinheiro para gastar conosco. Não aprendemos o saudável egoísmo de nos dedicarmos um tanto mais para nós mesmas. Se não temos filhos, há os pais. E irmãs, irmãos ou algum parente que precise do amparo que não conseguimos (e podemos?) negar.

            A nobre origem feminina não se destinava à pilha de louças por lavar, um batalhão de gente esperando comer por nossas mãos obreiras, varal cheio de roupas – ora para pôr, ora para recolher! Enquanto tratássemos de nossa linda e delicada pele, assemelhada à textura de um pêssego maduro e apetitoso, pensaríamos num jeito de consertar o mundo. E acharíamos uma solução, com certeza, se não estivéssemos tomadas de obrigações que nos tiram da cama num susto, de madrugada, e não os permitem dormir direito, tampouco mais cedo ou até tarde. Seria ótimo se houvesse pelo menos um turno de não fazer nada, coisa alguma! Sem sermos incomodadas por pilhas de contas a pagar, dependendo dos ganhos para um sustento que não é compartilhado.

            Nós, mulheres, merecemos que portas se abram à nossa presença! Que cadeiras sejam puxadas para que nos sentemos em conforto, que nos deixem passar primeiro, inclusive em meio ao trânsito maluco. Que nos perguntem o que queremos fazer, ir aonde, beber o quê? O mundo inteiro homenageando a formosura, o encanto e a incomparável alegria de sermos a fonte nutridora do amor, da bondade e da compaixão. E quem melhor do que nós, fazendo isso? Os homens não seriam capazes de nos causar nenhuma dor! Eles estariam aos nossos pés, beijando-nos incessantemente dali até a nossa cabeça iluminada (e com produtos e tratamentos de beleza em dia com os melhores lançamentos, claro!). Eles seriam uma espécie de súditos privilegiados pela convivência que lhes permitiríamos ter conosco.

            Nós, mulheres, enfrentamos a parte rude da vida com um sorriso no rosto e lágrimas trancadas na garganta. Resistimos bravamente às dificuldades sem perder a elegância nem a fé! Tomamos sustos sem cair da pose. Rimos e choramos ao mesmo tempo quando nos alegramos intensamente. Sofremos com dignidade e brigamos com a coragem aprendida com o que surpreendeu a nossa índole avessa a embates. Nós, mulheres, somos o máximo! Podem nos aplaudir agora mesmo!
 
          (*) Crônica publicada na edião de 24/25 de novembro de 2012 do jornal A Razão, de Santa Maria, RS (www.arazao.com.br)
 

           

           

 

domingo, 18 de novembro de 2012

Caminhos cruzados (*)

Vera Pinheiro

            A saudade é a melhor homenagem que podemos prestar a alguém que se ausenta de nossas vidas. Por morte, afastamento necessário ou partida decidida por escolha pessoal, quem se afasta deixa um legado ou um vazio. Depende do que foi o tempo de convívio, que é avaliado no distanciamento em meio a uma pergunta recorrente: por que veio?

            Há pessoas que nos marcaram tão positivamente que sua herança é farta de aprendizados a merecerem que lhes rendamos o preito da mais sincera gratidão. Temos certeza de que os nossos caminhos se cruzaram com os delas por alguma razão muito especial, que nem sempre conseguimos alcançar, e concluímos que o destino se encarregou de escolher-nos, e a elas, para a experiência de mestres e aprendizes.

            Há aqueles que ficaram muito menos do que gostaríamos e se foram. A intensidade, nesse caso, se encarrega de recompensar o tempo que não vimos passar e que queríamos reter. Não importa se estiveram conosco por uns dias apenas. Tudo, então, se avalia pela intensidade, e aprendemos assim que medir quanto dura a felicidade experimentada é mera e inútil convenção.

            Há os que, com sua presença, acendem luzes na estrada que percorremos, sinalizando atitudes que nos beneficiam. São as que nos desafiam a ser o máximo de nossas possibilidades. Não nos dizem o que fazer, mas nos mostram que podemos descobrir em nós todas as respostas e nos encaminham para a vitória sobre as dúvidas e sobre os medos que nos abalam. Impingem em nós a ousadia e a coragem para a superação de angústias que não puderam ser resolvidas e nos estimulam a realmente confiarmos em quem somos, no que sabemos e naquilo que podemos fazer.

            Há quem se achegue para nos trazer o bálsamo do conforto espiritual de que necessitamos em determinadas circunstâncias. Suas palavras curadoras recuperam o viço de nossa alma que, naquele momento, está em sofrimento. Seu abraço nos abastece de forças que substituem as que perdemos nos embates. O seu otimismo põe um sorriso em nossas faces e seu amparo nos reconforta em meio às lágrimas que vertemos quando conhecemos o desalento.

            Há aqueles que se destinam a ocupar o espaço de eternidade em nossos corações como um grande e inesquecível amor. E quem não quereria um amor desses, ainda que partisse? São os que resgatam a nossa melhor capacidade de amar e de retribuir o amor compartilhado, os que nos dão a sensação de que nascemos com a finalidade de amar e ser amados, os que afirmam a nossa índole amorosa e nos validam como seres com uma dimensão humana e espiritual que somente o amor descreve.

            Há os grandes amigos, parceiros de caminhada, com quem dividimos alegrias e desilusões. Eles conhecem as expectativas que acalentamos, as esperanças que nutrimos e as frustrações que amargamos. Quando eles partem ou nós os deixamos ainda assim continuamos juntos, e basta um reencontro para avivar os laços da imorredoura amizade.

            Há aqueles que sequer são nossos amigos, mas se eternizam em nossas recordações. Eles ingressam em nossa existência para se doarem, e nos ajudam a realizar os sonhos, desejos e projetos que temos em mente. Não nos conhecem, mas acreditam em nós e nos dão um voto de confiança que nos impulsiona a chegarmos aonde queremos. Raramente permanecem. Vêm e passam depois de cumprirem o que parece ser a sua missão na trilha que percorremos, e nos fazem saber o que é, verdadeiramente, o reconhecimento que alguém merece por tudo o que nos deu.

E, sem dúvidas, há a família, de eterno vínculo. Pais, irmãos e irmãs, tias e tios, avós, cunhadas, cunhados, sogros e sobrinhos. Maridos e esposas, incluindo os ex, todos estão conosco por uma linhagem traçada no plano divinal. Nem adianta discutir, blasfemar ou reclamar do parentesco! Cada um está em seu devido lugar na família para que possamos exercitar as virtudes de que somos dotados – e a paciência deve ser uma delas! No fantástico cruzamento de nossos caminhos com os dos outros está a forma mais original de sermos o melhor de nós, esboçando elevados sentimentos em cada oportunidade que a vida nos apresenta. Ninguém vem ao nosso encontro por acaso. Todos nos vinculamos de algum modo para que cresçamos e aprendamos juntos o mistério e a beleza da vida. Antes que tudo vire saudade.   

(*) Crônica publicada na edição de 17/18 de novembro de 2012 do jornal A Razão, de Santa Maria, RS.

A voz interior (*)

Vera Pinheiro

            Imagina alguém ao teu lado durante as 24 horas de cada dia e que, o tempo todo, te deprecia, critica impiedosamente os teus defeitos, te põe para baixo, enaltece as tuas fraquezas, duvida da tua capacidade e não bota a mínima fé nos teus talentos. Impossível!, dirias. “Eu nunca permitiria que alguém assim ficasse ao meu lado, daria logo uma dispensa!”, garantes. Será?

Pode ser que sim. Pode ser que não. Sabes por quê? Porque muitas vezes não toleramos mesmo que absolutamente ninguém aja desse jeito conosco, mas – muitas vezes também – nós agimos exatamente assim em relação a nós mesmos. É ou não é? Talvez não seja muito frequente ou não seja assim sempre, mas pelo menos uma vez na vida todos já estiveram na pele de seus próprios algozes, e quando nos colocamos nessa condição somos cruéis como qualquer outro não conseguiria ser. Então, devemos ser nossos maiores amigos, nossos melhores amores e os mais aguerridos defensores das causas que envolvem a nossa felicidade. E ninguém pode fazer isso melhor do que fazemos por nós. Esse é um assunto pessoal e intransferível. Não cabe delegar competência.

            A começar pela felicidade. Quantas vezes espichamos o olhar na direção de alguém, sonhando que aquela pessoa é capaz de nos fazer felizes? Ou, pior: em arroubos de paixão, fazemos promessas que não podemos cumprir. Juramos que vamos fazer o outro feliz como se fôssemos capazes de tamanha proeza. Isso é uma ilusão! Ninguém é capaz de trazer felicidade a quem se faz infeliz por sua conta e risco. Somos felizes com alguém, não pelo outro. Podemos contribuir para que ele seja mais feliz, mas não é de nossa responsabilidade fazê-lo feliz. Isso sequer se enquadra no rol de possibilidades.  Do mesmo modo, ninguém é responsável pela infelicidade de quem quer que seja. Dizer que alguém nos fez infelizes expressa que concedemos poder a outra pessoa para gerenciar as nossas emoções. Ser feliz ou infeliz é de competência própria, depende de nós, não dos outros.

            No meio de uma circunstância venturosa é corriqueiro que apareça quem diga “Estou tão feliz por ti!”. Vamos atribuir essa frase impensada aos ânimos entusiasmados por contentamento, mas é algo impossível de realizar. Pensemos: como transferir a felicidade que sinto para quem está infeliz? Não dá. O que podemos fazer é estimular a pessoa a encontrar motivos para reconhecer a felicidade, e o termo é esse: reconhecer! Senão, a pessoa encontra excelentes motivos para se julgar a mais feliz das criaturas sobre a face da Terra, mas não os reconhece. Sem reconhecer, nada feito! Fica cabisbaixo, contando as razões para sua infelicidade e alimentando-a com sua negatividade. O correto seria, então, afirmar: “Estou feliz contigo”. Ou seja, compartilho da felicidade que sentes e, no lado oposto, sou solidário contigo nas amarguras, desventuras e nos sofrimentos de todas as origens. Solidariedade, no entanto, não deve gerar culpa por não sofrer a dor do outro.

            E quando a gente é a corda que nos enforca, a pedra que rasga nosso joelho, o murro desferido em nossa autoestima? E quando assumimos o papel de nossos inimigos e nos derrubamos dos sonhos, sabotando as iniciativas e podando as chances de realização que temos, mas não aproveitamos? E quando somos, ao mesmo tempo, a voz interior que nos maltrata e o ouvido que acolhe as palavras rudes que proferimos a respeito de quem somos?

            Quando acontece de nos tornamos nossos adversários privilegiados pelas informações de como efetivamente somos, precisamos urgentemente fazer as pazes conosco e ingressar em novo tempo. Sabemos o que nos derrota e o que nos eleva, o que nos agrada e o que nos desgosta, o que nos contenta e o que nos aborrece. Podemos fazer uma escolha criteriosa do que queremos viver e ter conosco. A menos que seja caso de derrotismo crônico, é hora de sermos time e treinador, líder e equipe, todo mundo unido para a vitória da alegria! É hora de calar a boca se a gente não tiver nada melhor a dizer além de nos arrasarmos – o mundo já se encarrega dessa parte!

Que a voz interior tenha vez, mas fale com carinho! Vamos, sim, falar conosco, dizendo que somos as nossas melhores virtudes! Façamos um afago nessa pessoa fantástica que enxergamos no espelho todos os dias e dizer que nos amamos muito e que sabemos nos fazer felizes! Isso não é decretar independência e solidão, é se preparar emocional e energeticamente para encontros felizes com pessoas igualmente felizes que se aproximam atraídas pela felicidade que exalamos por todos os poros.

(*) Crônica publicada na edição de 10/11 de novembro de 2012 no jornal A Razão, de Santa Maria, RS (www.arazao.com.br)

sábado, 3 de novembro de 2012

Reencontros (*)

Vera Pinheiro
            De repente, sem notificação prévia para amenizar o inevitável susto, encontramos o passado numa hora qualquer desta vida. De uns a gente tem vaga lembrança e alguma dúvida sobre quem seja. Isso demonstra que a pessoa teve pouca ou nenhuma importância para as nossas emoções. Às vezes nem do nome nós lembramos e o constrangimento se apresenta inteiro diante da pergunta: “Lembras de mim?”. É de bom tom não confessar que temos recordações mais precisas do cãozinho de estimação que morreu há cinco anos. Então, um sorriso gentil salva a cena e a pessoa supõe que, sim, lembramos dela. A conversa, por mínima que seja, resta tensa, dado o sincero temor de que sejamos arguidos em nossa memória afetiva que, em relação àquela pessoa, tem carimbado um “Nada consta”.
            O melhor desse reencontro é quando dizemos “Tiau, foi bom te ver”, pelo alívio que causa. Somente mais tarde, entre remexidas de cabeça no travesseiro e passeios pela memória, talvez – mas sem nenhuma garantia –, quem era vaga lembrança passa a ser parte de um feliz reencontro.
            De outras vezes, já de véspera as sensações anunciam emoções fortes. Buscamos o horóscopo para ver se é alguma conjunção astral a responsável pela angústia indefinida que nos assombra antes de nos confrontarmos com quem ainda é capaz de fazer o nosso coração bater descompassado e que nos deixa com as pernas bambas a ponto de buscarmos uma escora por medo de desfalecer. Se não for um problema de saúde que mereça atenção médica é um daqueles reencontros esperados por toda uma vida, mas nunca planejados o suficiente para não despencarmos do nosso sólido equilíbrio.
            Tudo o que vivenciamos com aquela pessoa vem à tela mental como se estivéssemos vendo o filme da própria vida. Comédia românica ou drama, tanto faz. Não importa quantos anos se tenham passado. Se a recordação está viva é porque o outro não foi colocado na vala do esquecimento, e é bem possível que tenhamos querido muito esquecer, mas não conseguimos.
            Quando reencontramos alguém que mexe com as entranhas dos nossos sentimentos é grande o esforço para nos mantermos contidos, sem pular no pescoço alheio para encher de beijos quem lota a nossa vida de saudade e que, outra vez, está bem diante de nossos olhos, ao alcance de uma carícia. O tom da conversa e a profundidade do olhar vão mostrar se tudo sucumbiu ao silêncio e à distância ou se há chance de o passado emendar sua história com o presente, produzindo outro inesquecível capítulo entre os dois.
            E há encontros de velhos amigos que logo armam uma festa quando se avistam. A ausência não consegue corroer uma amizade selada no coração. Assim, o antigo diálogo reinicia como se jamais tivesse sido interrompido e queremos atualizar as novidades que ainda não são nossas velhas conhecidas. Ansiamos por compensar todo o tempo que não passamos juntos, embora saibamos que haverá nova despedida.
            Há, ainda, reencontros que faríamos qualquer coisa para evitar. Dobraríamos a primeira esquina; nos abaixaríamos, fingindo pegar algo no chão, puxaríamos a gola até as orelhas e o chapéu até cobrir o rosto. Numa atitude extrema, disfarçaríamos a nossa presença como manequim vivo dentro de uma vitrina ou tentaríamos nos esconder em uma arara de roupas na loja mais próxima. Podemos avaliar a possibilidade de forjar um desmaio até sermos retirados de olhos fechados daquele local. Para não corrermos maiores riscos, há a hipótese de pegar um jornal emprestado e nele enfiar a cara até que o perigo do reencontro seja totalmente superado. Vai da coragem de cada um. E de sua criatividade.
Porém, pensando bem, todo esse desgaste é pura tolice. Não tem sentido, pois já passou o fato que nos vinculava a alguém e nada vai impedir que a vida siga seu curso. É inútil qualquer manifestação de ressentimento. Um cumprimento rápido que demonstre civilidade e um adeus colado nele, nada mais.   É preciso esvaziar as mágoas até que possamos beirar a indiferença. Deste modo seguiremos adiante, leves e livres do fardo que carregamos quando nos damos o trabalho de detestar alguém, ainda que tenhamos razão para fazê-lo. O passado guarnece as lembranças, mas não é a nossa moradia. Deixemos que ele fique em paz onde está e vivamos o presente que o momento presente é. A menos que uma recaída sentimental compartilhada valha muito, claro.
(*) Crônica publicada na edição de 03/04 de novembro de 2012 no jornal A Razão, de Santa Maria, RS.

Tentações (*)

Vera Pinheiro
            Tentação não é apenas a gente se inclinar a fazer alguma coisa. Difere de tentativa, ato que nos faz por em prática uma ideia ou executar um projeto, e que tanto pode dar certo como restar frustrada. Tentações são armadilhas que estão à espreita de um deslize nosso, de um mero esquecimento de como devemos nos conduzir pela vida, de um voto de aceite expresso por uma brecha de virtude em algum aspecto de nosso comportamento.
            Somos tentados a odiar o mundo e todas as pessoas quando nos sentimos vilipendiados por confiarmos em alguém. A traição de quem acreditávamos merecedor de nossa melhor confiança fere profundamente os nossos sentimentos. Isso nos leva a transferir aos outros a dor que experimentamos, passando a desconfiar de tudo e de todos, assim revelando uma autoestima claudicante. Para não nos enclausurarmos na desconfiança, precisamos isolar o fato e a pessoa. Ninguém tem de pagar pelo que aconteceu. Fatos têm a virtude de terem o invólucro de determinado tempo e espaço, por isso ganham logo a estrada do passado, embora repercutam ainda depois. Fatos vêm com data de validade e contra eles não há o que possamos fazer, senão, ao máximo, tentar evitá-los ou corrigir seus efeitos e danos. Por mais dolorosos ou felizes que sejam, eles passam. Pessoas que nos feriram também passam, a menos que as resgatemos com nossas repetidas e magoadas lembranças ou pelo perdão que, no entanto, não chama à convivência. Esta depende exclusivamente de nossas escolhas e decisões.
            Com tantas falsas promessas de felicidade – ou com tantas promessas de falsa felicidade – deixamo-nos acalentar pela ideia de que podemos ser felizes mesmo quando passamos por cima dos outros, se os enganarmos, se não nos importamos pelas feridas que plantamos no coração de quem está conosco por qualquer dessas contingências que  aproximam as pessoas sem sabermos as razões. Essa é uma tentação que mede a retidão de nossos valores. Não há felicidade real quando ela se constrói sobre o infortúnio alheio ou tendo como fundamento o engano. Mais cedo ou mais tarde a vida mostra que ser feliz necessariamente tem de ser bom para nós, para todos e para o Todo, pois estamos universalmente integrados.
             A tentação da vaidade faz crescer desmesuradamente as qualidades e os méritos que temos pelo que somos e fazemos. Nada é suficientemente grande para cultivarmos o orgulho e todas as realizações proveitosas devem incentivar o aperfeiçoamento da humildade. Se nos envaidecemos, a arrogância se achega e derrota todos os feitos, que perdem importância quando o ego se levanta e pede aplausos.
            Mesmo que ninguém veja, a consciência percebe. E ainda que desdenhemos a consciência, o universo tem suas leis e faz com que elas se cumpram a despeito de nosso querer. Uma moedinha que hoje alguém, equivocado, nos deu a mais será a nossa fortuna que irá à derrocada amanhã. Um troco que representa aparente – e mísera – vantagem é o prejuízo que teremos mais adiante, pois há uma lei de equivalência entre o mal que se pratica e a cobrança que a seguir é imposta. Ninguém escapa da lei do retorno, portanto é prudente evitar a prática de atos que desrespeitem a ética, o bem e o mínimo de acertos que a gente tem de fazer no concurso da existência. E a gente veio aqui para algum propósito, embora muitos pensem que seja a passeio ou para a farra de fazer o que queiram independente do prejuízo que possam causar em torno de si.
            Existe também a tentação de se entristecer absurdamente quando alguém machuca nosso coração, e a consequente tentação de não dar a si mesmo a chance de se recobrar da dor. Tudo passa. Todos passam.  A gente vai passar também e o mundo haverá de seguir seu curso apesar das lágrimas que derramamos. Já que é assim, vamos colocar um sorriso nos lábios e deixar o amor sair por todos os poros, tendo a noção de que tudo nos acresce aprendizado, por duro que seja entender e aceitar. Não sejamos tristes nem alegres, essa não é a busca focal. Sejamos serenos, ao menos.
Tentações, sendo sabidamente ruins, a gente se esforça para não acolher. Sendo boas, por que não? Que proteste quem nunca cometeu um escorregão que envolva os sentidos, por exemplo. Nada é exatamente ruim nem totalmente bom. Tudo depende do que fazemos com o que está à volta e em nós, despertando os furacões ou as brisas de nossas emoções.

            (*) Crônica publicada na edição de 27/28 de outubro de 2012 no jornal A Razão, de Santa Maria, RS.

sábado, 20 de outubro de 2012

Panela queimada (*)


Vera Pinheiro
            Minhas habilidades domésticas são boas. Ponto. Por mais que a minha elevada autoestima reclame da nota média, devo reconhecer que sou apenas boa nas lidas do lar. Não tive muito tempo para aprimorar dotes culinários, donde me resta alguma esperança de que possa melhorar pelo fazer continuado nesses tempos de aposentadoria. Porém, sou esforçadinha. E a gente sabe que o esforço compensa as eventuais – e não muito graves – falhas de competência. É o caso.
            Para cozinhar, por exemplo, preciso de ingredientes, claro, e de máxima concentração, o que não me impede de ouvir um CD de mantras que fica engatado no ponto para rodar no aparelho de som da cozinha, que considero área nobre da casa.  De orar gosto e posso, mas prefiro não conversar enquanto cozinho, e entreter visitas nem pensar, se estou fazendo um prato, por trivial que seja. Marco hora, preparo tudo antes de a pessoa chegar, e me escabelo se a criatura chega antes e quer ajudar.
Certa vez, um querido amigo meu, a quem eu recebia em casa com a mulher dele, disse que eu parecia uma barata tonta nesse sagrado local. É que ele não fechava a boca! Desde então, separo visitas do local do preparo de alimentos para que todos possam saborear os meus quitutes que, aliás, boto tanta fé no sucesso deles que sequer provo enquanto cozinho. Isso é que é autoconfiança!
            Meus filhos têm, ambos, memória privilegiada com relação aos meus feitos e defeitos. Quando querem me chatear puxam uma fileira de histórias de fiascos gastronômicos que cometi, sendo eles as minhas vítimas, quando não alguém de fora. Isso fez parte do meu aperfeiçoamento, a duras penas e a quilos de sal. Hoje eu me tenho por uma boa cozinheira, embora quase sempre esteja no limite entre o susto e a surpresa. De vez em quando a panela queima, fazer o quê?
            Justamente aquela panelinha que eu amo tanto foi a que ganhou uma casca grossa no fundo, por conta de um telefonema na hora de preparar o almoço. Depois disso tomei uma providência: boto o telefone no silencioso, desligo, não atendo ninguém, enfim. Somente volto ao contato depois que a mesa está servida e enquanto não chega a pessoa que vai se sentar comigo. Acho muito feio alguém ocupar a orelha e a boca ao mesmo tempo. A gente pode falar depois da refeição, o mundo não vai desabar se fizer isso. E é bom não se esquecer de pedir licença aos outros antes de atender o celular, pois tem gente que não se dá conta, mas está conversando conosco e de repente para o assunto e fala horas com alguém que não está presente. De corpo presente, quero dizer, mas interfere e atrapalha mesmo assim.
            E o que é que eu faço com a minha rica panelinha queimada? Esconder o fato era impossível, porque o cheiro de queimado se estendia a légua e meia de casa. A primeira opção era jogar no lixo, torcendo para que alguém mais paciente a encontrasse e desse uma limpeza geral, recuperando-a para uso. Para limpá-la, seguramente eu deixaria as pontas dos dedos nela, tamanho o estrago havido. Pensei em raspar com uma faca e vi que seria um caminho fácil para furar o fundo dela, sem contar o risco de me cortar com aquele fio que a gente só vê o quanto é afiado quando tira um bife da mão. Pedir ajuda era hipótese descartada. Desisti do restauro imediato, então. Dez a zero da panela queimada contra mim!
Articulando mentalmente um adeus honroso e digno para ela, enchi de água a panela e quase verti lágrimas dos olhos! Lamentei a total impossibilidade de aproveitar o conteúdo e toquei a vida de cozinheira em frente naquele dia, não sem pensar que havia despencado alguns degraus na minha qualificação doméstica. A tempo de evitar ficar deprimida, tomei o ocorrido por mero tombo no percurso.
Três dias se passaram e a panela, recostada na pia, esperava a minha decisão sobre o que fazer com ela. Finalmente, então, enfrentei a situação. Vou jogar fora! Mas não precisou. Ao retirar a água, o fundo queimado havia se soltado e pude lavar a panela sem qualquer dificuldade. Foi assim que aprendi a não tomar decisões precipitadas com relação a fatos e a pessoas. Quando a raiva queima, a gente bota água na panela das emoções e deixa de lado. A raiva se solta e a gente fica livre de sentimentos negativos que não prestam para nada!
(*) Crônica publicada na edição de 20/21 de outubro de 2012 do jornal A Razão, de Santa Maria, RS (www.arazao.com.br).

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Que tempo é esse?!


Vera Pinheiro
Que tempo é esse, meus Deuses? De repente se passaram meses do meu último post, mas a sensação é de que tudo foi ontem, no máximo na semana passada. Às vezes tenho a sensação de que habito uma nave supersônica. Não consigo mais vislumbrar o transcurso do tempo. É num piscar de olhos que o dia passa, o mês passa, o ano passa. Num piscar de olhos eu passo sem deixar rastro de saudade a ninguém. Então, sigo sem saudade que seja recente, porque a vida passa rápido demais e não dá, sequer, tempo de viver alguma coisa que deixe saudade.

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

*Os segredos das pessoas que nunca adoecem!*

- Mais um texto da minha série "recebi, gostei e repasso". A colaboração é de Ceura Fernandes, de Santa Maria, RS.

Cinco povos ao redor do mundo se destacam pela longevidade: eles vivem, em média, dez anos a mais do que o restante da humanidade. Conheça agora seus principais hábitos de viver:

*As respostas estão no livro Os segredos das pessoas que nunca ficam doentes, recém-lançado nos EUA. Em suas andanças, Stone percebeu que cinco povos eram os mais saudáveis: a Barbagia, na Itália; Okinawa, no Japão; a comunidade dos Adventistas do Sétimo Dia, na Califórnia; a Península de Nicoya, na Costa Rica; e a ilha grega de Ikaria.*

 *Outro americano, Dan Buettner, escreveu sobre o tema em um livro que virou best-seller: Blue Zones: lições de pessoas que viveram muito para quem quer viver mais. Ambos os autores nos ajudaram a traduzir as experiências dessas pessoas. Confira dicas eficazes, comentadas por 21 especialistas brasileiros*.

 *1**. Beber água mesmo sem ter sede *
  A água está para o corpo humano assim como o combustível para o carro. Isso porque, sem manter os nossos níveis hídricos sempre abastecidos, todo o organismo sofre. O líquido ajuda a aumentar a saciedade, evitando compulsões que podem levar ao sobrepeso e ao aparecimento de diversas doenças, ao mesmo tempo que mantém a saúde do sistema renal. "É o baixo consumo de água que resulta em urina concentrada e na maior precipitação de cristais, justamente o que leva à formação das pedras nos rins", adverte a
nutricionista amanda epifânio Pereira, do Centro Integrado de Terapia Nutricional. sucos naturais, chás e água de coco também podem ser usados.

 *2**. Ir ao dentista regularmente*
  A boca é como um espelho a refletir a saúde do organismo. Daí a importância de permitir que um profissional a examine a cada seis meses. "Muitas doenças sistêmicas, como diabetes, alterações hormonais e lesões cancerígenas podem ser detectadas numa consulta de rotina", diz o periodontista Cesário Antonio Duarte, professor da Universidade de São Paulo (USP). Além disso, o tratamento das cáries deixa o organismo protegido contra inúmeras doenças. "Cáries não tratadas podem se tornar a porta de entrada para micro-organismos, que poderão atingir órgãos nobres como coração, rins e pulmões", alerta o especialista.

  *3**. Ingerir mais nozes*
 Bateu aquela fome de fim de tarde? Experimente comer duas unidades de nozes todos os dias. Esse é um dos segredos dos Adventistas da Califórnia. Cerca de 25% deles comem nozes cinco vezes por semana. E diminuíram pela metade o risco de problemas cardíacos.

 *4**. Temperar com alho*
 "Ele melhora a saúde do coração, diminui os níveis de colesterol, a pressão arterial e potencializa as nossas defesas", afirma a nutricionista funcional Gabriela Soares Maia.

  *5**. Comprar alimentos regionais*
 Se puder privilegiar alimentos produzidos na sua região, sua saúde sairá ganhando. Isso porque os produtos da safra, que não recebem uma grande quantidade de conservantes, em geral, são muito mais ricos em nutrientes. Agora , se você puder ir pessoalmente à feira ou à quitanda do bairro, tanto melhor.

 *6**. Comer mais frutas*
Aumentar o consumo de produtos de origem vegetal é uma das medidas mais significativas na prevenção de doenças crônicas. A prática foi observada em pelo menos quatro das cinco Blue Zones e é fácil entender o porquê. "Frutas, legumes e verduras possuem uma quantidade de vitaminas antioxidantes, boas gorduras e fibras que supera em muito a dos alimentos industrializados", diz Isis Tande da Silva, do Ganep Nutrição Humana.

*7**. Aprender a planejar*
A tensão constante é extremamente prejudicial à saúde. "Ela afeta o funcionamento do sistema nervoso, hormonal e imunológico", alerta o psicólogo Armando Ribeiro das Neves Neto, professor da USP. Uma boa maneira de controlar essas reações é não deixar todos os compromissos para a última hora. "Acostume-se a anotar suas pendências em uma lista", diz o especialista em produtividade pessoal Christian Barbosa.

*8**. Fracionar a dieta*
Comer mais vezes ao dia e optar por porções menores é um jeito inteligente e manter o peso estável. "Os jejuns prolongados desencadeiam uma fome tão intensa que é fácil se exceder nas refeições", explica a endocrinologista Ellen Simone Paiva, do Centro Integrado de Terapia Nutricional. Quando dividimos a nossa alimentação diária em cinco ou seis refeições, também estamos dando uma forcinha ao processo de digestão e ao intestino, evitando sobrecargas.

*9**. Aproveitar o contato com a natureza*
Sinta o cheiro da grama molhada, escute os pássaros, sente-se na sombra de uma árvore... Pratique essa terapia sempre que possível, já que ela é altamente relaxante. "A vegetação transfere umidade ao ar e, portanto, o ambiente fica ionizado negativamente. Isso provoca uma reação química no organismo, gerando uma sensação de muita calma", explica a arquiteta Pérola Felipetti Brocanelli, professora da Universidade Presbiteriana Mackenzie. A psicóloga Solange Martins Ferreira, do Hospital Santa Catarina, garante que as atividades ao ar livre também contribuem para recuperação de pacientes: "Quando observam a natureza, eles tiram a atenção da doença".

 *10**. **Levantar peso*
 A ideia não é apenas ficar forte. "Um dos principais benefícios é o aumento da densidade óssea, auxiliando na prevenção da osteoporose e na reversão da sarcopenia (diminuição no número de sarcômero, a unidade do músculo esquelético). Isso evita a incapacidade funcional, muito comum em idades avançadas", diz Ricardo Zanuto, fisiologista e professor de Educação Física das Faculdades Integradas de Santo André.

  *11**. Ser um voluntário*
Se você ainda não conseguiu um tempo para isso, é bem provável que não tenha encontrado a causa certa. "Quando se apaixonar de verdade por um trabalho social, acabará colocando-o na lista de prioridades", garante o especialista em produtividade pessoal Christian Barbosa. "Dedicar uma noite por semana já é um bom começo", diz Dan Buettner.

*12**. Celebrar a vida*
Não espere algo de extraordinário acontecer, mas acostume-se a comemorar as pequenas vitórias. Essa é a receita de longevidade dos italianos que vivem na Sardenha, uma das Blue Zones. Eles chamam a atenção pela disposição que têm para festejar tudo e todos.

*13**. Cultivar a sua fé*
"A religião empresta sentido às buscas e conquistas do ser humano, dá uma nova dimensão às vitórias e também às perdas. Além disso, orienta e ajuda as pessoas a tomar decisões difíceis", explica Jorge Claudio Ribeiro, professor de Teologia da PUC-SP.

*14**. Trocar o café pelo chá-verde*
Ainda que você precise do café para acordar, faça a substituição. Afinal, o cháverde também contém cafeína, que funciona como estimulante. O bom é que ele oferece outros extras. "Diversos estudos mostram que a bebida atua na prevenção e no tratamento de doenças como Alzheimer e Parkinson", afirma a nutricionista Andréia Naves.

*15**. Pegar leve com as carnes vermelhas*
Embora sejam importantes fontes de ferro, são alimentos de difícil digestão e, portanto, retardam o funcionamento intestinal. Então, se você é do tipo que não pode viver sem um bifinho, contente-se com um filé médio por dia.

  *16**. Praticar mais atividade aeróbica*
Pode ser uma caminhada ou uma corrida. Esse tipo de exercício tem impacto direto sobre os fatores de risco associados à hipertensão, ao diabetes e à obesidade. "A prática regular melhora a força e a flexibilidade, fortalece ossos e articulações, facilita a perda de peso e diminui o colesterol", afirma Zanuto.

*17**. Encontrar a sua tribo*
Se você gosta de esportes, certamente irá sentir-se bem com amigos que também gostam. Portanto, faça um esforço para encontrar pessoas com quem possa compartilhar e trocar ideias. "Uma das atitudes mais importantes para garantir a longevidade é cercar-se de pessoas que vão lhe dar suporte e que conectam ou reconectam você com o sentido maior que você dá à sua vida", diz Dan Buettner.

*18**. Ser agradável*
Facilita a convivência social e cria vínculos com pessoas que poderão apoiá-lo quando necessário. Mas como tornar-se uma pessoa agradável? O autor Dan Buettner é quem responde: "Para isso, é preciso ser interessado e não apenas interessante. Pessoas simpáticas perguntam a você como está em vez de falarem apenas de si mesmas".

*19**. Definir seus objetivos*
É o que os moradores de Okinawa chamam de ikigai e os habitantes de Nicoya nomeiam de plano de vida. Seja como for, o fato é que eles têm muito bem definidas as suas razões de viver e investem nesses propósitos.

 *20**Conhecer melhor a ioga*
Ela une princípios da meditação, exercícios para o equilíbrio, alongamento e o treinamento de força, com foco na respiração. Tudo isso graças à execução de movimentos sequenciados. "A ioga é ótima para a longevidade, porque fortalece os músculos e ligamentos. Então, os movimentos tornam-se mais fluidos e seguros. A prática tem ainda um efeito importante na redução do estresse", diz Dan Buettner.

 *21**. Guardar o despertador na gaveta*
Dormir bem significa dar ao corpo a chance de se recompor totalmente. "Se você se deita, dorme logo e acorda bem disposto, pode dizer que tem um sono de qualidade", ensina o neurofisiologista Flavio Alóe, do Centro de Estudos do Sono do Hospital das Clínicas (SP). Quem não tem, corre um risco muito maior de adoecer. "Aqueles que dormem pouco podem ter um aumento do colesterol e dos triglicérides", complementa Alóe.

*22**. Apostar nos integrais*
Não basta comer pão integral. Com um pouco de criatividade, é possível incluir a farinha e aveia integrais na preparação de inúmeros pratos. Quer um bom motivo para fazer isso? Pois saiba que os alimentos não processados oferecem um aporte muito maior de nutrientes. "No processo de refinamento, o germe dos grãos são retirados, restando praticamente o amido", explica a nutricionista Patrícia Morais de Oliveira, do Ganep.

*23**. Pensar na sua vocação*
Fazer o que gosta é uma forma eficiente de afastar o estresse. Além disso, é interessante que o seu tipo de trabalho seja capaz de fazê-lo sentir-se realizado. Por último, saiba que aquele que se empenha em uma carreira para a qual há um sentido profundo, além da manutenção da renda, se sente mais motivado a investir na atualização dos conhecimentos. E estudar, como já vimos, é um santo remédio para o cérebro.

*24**. Doar seus pratos grandes*
A população de Okinawa descobriu um jeito de comer 30% menos: eles utilizam pratos de apenas 23 cm de diâmetro. "Há experiências promissoras sendo realizadas por meio da restrição calórica orientada, que já se mostrou capaz de aumentar o tempo de vida de animais de laboratório em 60%", afirma Ellen Paiva.

*25**. Ter atitudes positivas*
"As emoções fazem parte daquilo que somos e, portanto, são capazes de provocar reações físicas muito claras. As positivas curam e determinam uma maior e melhor qualidade de vida", diz Armando Ribeiro das Neves Neto.

 *26**. Emagrecer a despensa*
Na hora da compra, elimine os alimentos que possuem qualquer quantidade de gordura trans e evite os que contêm gorduras saturadas. E por um motivo simples: as chamadas gorduras ruins têm relação com o aumento dos níveis de colesterol LDL e triglicérides, fazendo crescer o risco de infarto e de acidente vascular cerebral. "Além dos industrializados, convém tomar cuidado com os alimentos de origem animal, como carnes gordas", alerta a nutricionista Andréia Naves, da VP Consultoria Nutricional.

 *27**. **Saber como usar soja*
Em Okinawa, no Japão, o consumo de produtos de soja é o maior de todo o mundo. O resultado? Dos cerca de 1 milhão de habitantes locais, mais de 900 pessoas já passaram dos 100 anos. "O consumo frequente reduz os riscos de doenças cardiovasculares", afirma a nutricionista Renata C. C. Gonçalves, do Ganep.

*28**. Estudar sempre*
Manter as atividades intelectuais é uma maneira de garantir anos extras de vida e muito mais saúde, principalmente nas idades avançadas. "Exercitar o cérebro vai deixá-lo mais protegido contra doenças. Na prática, isso significa um risco menor de limitações físicas, mesmo se algo der errado porque, nesse caso, a recuperação será muito melhor", explica o neurologista André Gustavo Lima, do Hospital Barra D´or.

*29**Ter um dia só para você*
Os Adventistas do Sétimo Dia que vivem em Loma Linda , na Califórnia, recolhem-se em suas casas aos sábados e aproveitam a ocasião para meditar e orar. E esse parece ser mais um bom hábito que poderíamos nos esforçar em copiar. Afinal , essas pessoas vivem de cinco a dez anos mais que o resto da população americana. "Se for impossível fazer isso, tente conseguir pelo menos 15 a 20 minutos por dia para não fazer nada, ou melhor, para pensar apenas. É como marcar uma reunião consigo mesmo", diz Christian Barbosa

*30**. Apagar o cigarro*
Quem tem menos 40 anos e fuma até 20 cigarros por dia tem quatro vezes mais chances de infartar. Agora, se o consumo for maior, o risco sobe 20 vezes. A explicação é simples: as substâncias do cigarro levam à contração dos vasos sanguíneos, à aceleração dos batimentos cardíacos, além abaixar o HDL, que age como um protetor das artérias.

 *31**. Ouvir a sua música*
A musicoterapeuta Maristela Smith, das Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU), tem uma receita interessante para quem quer tirar proveito da terapia da música. "Faça um CD com as músicas que marcaram positivamente a sua vida para criar a sua identidade sonora musical. Escute-o regularmente, principalmente quando estiver precisando melhorar o astral", ensina a especialista.

*32**. Respirar com consciência*
Quando estiver precisando relaxar ou desacelerar seu ritmo, faça a respiração completa. "Inspire calmamente o ar pelo nariz, contando três segundos. Então, bloqueie a respiração por um tempo, retendo o ar, e expire pela boca em seis segundos. Assim, você estará atuando diretamente sobre o sistema nervoso autônomo", ensina o educador físico Estélio Dantas, professor da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro.

*33**. Curtir os animais*
Mesmo que não possa ter um em casa, descubra aqueles com os quais possui mais afinidades e dê a si mesmo a oportunidade de tocá-los. Para a veterinária Maria de Fátima Martins, professora de Zooterapia da USP, a convivência com os bichos é uma rica fonte de benefícios psicológicos, físicos e sociais. Ela coordena uma experiência de terapia assistida com animais em asilos. "O contato com os animais tem melhorado a vida dessas pessoas. Para alguns idosos, a experiência foi tão positiva que eles chegaram a diminuir o número de medicamentos que tomavam", conta.

*34**. Ser muito mais ativo*
Comece descendo alguns pontos antes do ônibus. Fazer mais atividades a pé ou de bicicleta, cozinhar, cuidar do jardim, brincar com o seu cachorro, todas essas maneiras de se mexer são válidas. "Um dos segredos da longevidade é encontrar meios de se manter sempre em movimento. De preferência, concentre-se em atividades que também lhe dão prazer, e os benefícios serão maiores", sugere Dan Buettner.

*35**. Desacelerar o ritmo*
 "Se você não cria um tempo para estar bem, terá que ter tempo para se cuidar quando ficar doente", alerta Dan Buettner. O primeiro estágio do estresse é a fase de alerta. Ele nos permite realizar muitas tarefas em pouco tempo e aí nos sentimos bem. Porém, quando persistimos na tensão, o organismo entra em fadiga.

 *36**. Comer mais iogurtes*
"Eles reforçam a nossa imunidade", explica a nutricionista Gabriela Maia, da Clínica Patricia Davidson Haiat. O que as bactérias vivas contidas nesses potinhos também fazem é melhorar o nosso humor. Afinal, é o intestino que responde pela produção de 95% da serotonina de todo o corpo.

 *37**. **Investir no** **ômega-3*
 Peixes de água fria (salmão, arenque, sardinha, atum), sementes de linhaça moídas e óleos de peixe, de soja e de canola são ótimas fontes desse nutriente, que tem ação comprovada na redução dos níveis de colesterol e de triglicérides, além de ajudar no controle da pressão e de prevenir o risco de tromboses, que danificam os vasos sanguíneos. O composto ainda é coadjuvante em tratamentos neurológicos e de osteoporose.

*38**. Controlar o álcool*
A curto e médio prazos, o álcool pode engordar, acelerar o processo de envelhecimento e ainda aumentar a pressão arterial. A longo prazo, causa dependência e ainda compromete o funcionamento de todos os sistemas docorpo, com danos mais sérios para o fígado.

*39**. Brincar com as crianças*
É uma excelente estratégia para tirar o foco das preocupações, aproximar a família ou amigos e facilitar o contato intergeracional. E todos esses aspectos estão associados à longevidade. Porém, para funcionar, é preciso que se tenha um mínimo de afinidade com os pequenos.

*40**.Construir o próprio jardim*
  Mexer com plantas e flores pode ser um hobby interessante e saudável, desde que você realmente consiga tirar prazer da atividade. "Esse tipo de passatempo é muito válido para prevenir o estresse, tanto quanto fazer trabalhos manuais ou cozinhar. Só não pode virar rotina e obrigação. Se a pessoa tem que cozinhar ou cortar a grama todos os dias, por exemplo, isso passará a representar, na vida dela, mais uma fonte de tensão. E aí os
benefícios não virão", explica Armando Ribeiro Neto.


 *41**. Desfrutar do sol*
Sentir na pele o calor dos raios solares não é somente uma receita para adquirir disposição e ânimo. Com cerca de 15 minutos de exposição, oferecemos ao corpo algo que só o sol pode dar: a energia necessária para a síntese de vitamina D. "O composto é importantíssimo na fixação de cálcio no organismo, prevenindo a osteoporose, além de fortalecer o sistema imunológico", afirma a endocrinologista Bárbara Carvalho Silva, da
Universidade Federal de Minas Gerais.

*42**. Perdoar mais*
"Para envelhecer bem, é preciso olhar para a nossa trajetória de vida aceitando os erros cometidos e desculpando-se por eles. Da mesma forma, é interessante perdoar aos outros, percebendo que não fomos apenas vítimas", diz a psicóloga Dorli Kamkhagi, colaboradora do Laboratório dos Estudos do Envelhecimento do Hospital das Clínicas (SP). "Perdoar é retirar objetos pesados de uma mochila que carregamos", compara.

*43**. Dar uma chance à laranja*
Uma única unidade é capaz de prover a necessidade que o nosso corpo tem de vitamina C a cada dia. "Protege contra o câncer, afasta aquela gripe chata e até ajuda a pele a se recuperar mais rapidamente dos estragos promovidos pelo sol", diz a nutricionista Gabriela Soares Maia.

*44**. Alongar o corpo todo*
Os problemas mais frequentes do aparelho locomotor, e que estão relacionados ao envelhecimento, são a perda da mobilidade e a osteoporose


*45**. Cochilar após o almoço
Na Península de Nicoya, na Costa Rica, a sesta é um costume institucionalizado. E, em muitas outras partes do mundo, as pausas para um cochilo também são comuns. "Para quem dorme pouco, essa pode ser uma estratégia compensatória", diz o neurofisiologista Flavio Alóe. É como renovar as energias, antes de recomeçar a jornada.

*46**. Priorizar as pessoas amadas
Este é outro ponto comum dos que vivem nas chamadas Blue Zones. "Eles contam com famílias fortes e se apoiam mutuamente", conta Dan Buettner. Relações verdadeiras nos protegem de situações adversas.

*47**.  Esquecer do sal
A redução de seu consumo é imprescindível para prevenir e controlar a hipertensão que, por sua vez, oferecem as condições favoráveis para que inúmeros problemas de saúde progridam rapidamente, tais como a insuficiência renal e as complicações cardíacas. "O sal em excesso faz o corpo reter mais líquido, o que, além de causar inchaço, também aumenta o volume sanguíneo, elevando a pressão nas artérias", explica a nutricionista Andréia Naves. Para passar bem longe desse drama, vale cortar o sal de cozinha que adicionamos aos pratos durante a preparação, para colocá-lo apenas no momento de consumir, e sempre usando o bom senso. Outra dica é reduzir o consumo de condimentos, pratos prontos, embutidos ou enlatados.

*48**. Praticar sexo com prazer
A atividade sexual ajuda a aliviar as tensões, já que, durante a relação, ocorre a liberação de endorfinas, substâncias que melhoram o humor. O sexo ainda faz bem para a circulação. Por fim, vale como um excelente exercício e ajuda a reforçar vínculos de afeto.

*49**.  Criar um tempo para a família
A união e o apoio mútuo entre cônjuges, pais e filhos precisam certo investimento de tempo e atenção. Mas como encontrar períodos livres para dedicar a essas pessoas todo o carinho que merecem? "Vale programar um jogo que possam fazer juntos, que permita confraternizar e trocar ideias", diz Christian Barbosa.

*50**. Usar as dicas diariamente
Caminhar só aos finais de semana ou encontrar mais tempo para os amigos apenas nos períodos em que a rotina de trabalho sossega um pouco podem ser um bom começo, na tentativa de transformar a sua vida para melhor. É preciso, porém, garantir que mudanças pontuais se transformem em hábitos, para colher resultados significativos no que diz respeito à saúde e à longevidade. "As pessoas que eu conheci enquanto preparava o livro possuem diferentes segredos, mas uma coisa que todas elas têm em comum é a disciplina; elas usam seus segredos diariamente, ou seja, fazem da boa saúde uma prioridade, um hábito mesmo", finaliza Gene Stone.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Jin Ji Du Li - Faça este exercício!

Faça este exercício da cultura chinesa simples e eficaz... e verá. A essência é que seus olhos devem estar fechados quando você pratica "Jin Ji Du Li" ... preste atenção.

Eis o exercício:
Fique sobre uma só perna, com os seus olhos abertos. É só isso.
Experimente agora fechar os olhos.

Se você não for capaz de ficar em pé por pelo menos 10 segundos seguidos, isso significa que seu corpo se degenerou ao nível de 60 a 70 anos de idade. Em outras palavras, você pode ter apenas 40 anos de idade, mas seu corpo envelheceu muito mais rápido. Ficar sobre um pé com os olhos abertos, é uma coisa e  fazer o mesmo com os olhos fechados... a história é outra! Não precisa levantar muito a perna. Se os seus órgãos internos estão fora de sincronia, mesmo levantando a perna um pouco vai fazer você perder o seu equilíbrio.

Os chineses estão bem avançados no conhecimento do corpo humano. A prática frequente e regular do "Jin Ji Du Li" pode ajudar a restaurar o sentido de equilíbrio. Na verdade, os especialistas chineses sugerem que a prática diária por 1 minuto, ajuda a prevenir a demência. Primeiramente, você pode tentar fechar os dois olhos, não completamente. Na verdade, é isso que o especialista de saúde Zhong Li Ba Ren recomenda.

A prática diária de Jin Ji Du Li, pode ajudar na cura de muitas doenças, tais como:
Hipertensão;
Altos níveis de açúcar no sangue ou diabetes;
O pescoço e doenças da coluna vertebral;
também pode impedi-lo de sofrer de demência senil.

Diz-se que, de acordo com o entendimento de médicos chineses, a doença pode aparecer no corpo devido a problemas surgidos na coordenação entre os vários órgãos internos, o que faz com que o corpo perca o seu equilíbrio. Jin Ji Du Li pode zerar esta inter-relação dos órgãos e como eles funcionam juntos. Zhong Li Ba Ren disse que a maioria das pessoas não consegue ficar sobre um pé com os olhos fechados por 5 segundos, mas depois, praticando todos os dias, são capazes de fazer por mais de 2 minutos.

Quando você conseguir ficar mais tempo, a sensação de peso desaparece. Ao praticar Jin Ji Du Li, você vai notar que sua qualidade do sono fica melhor, a mente limpa e melhora a memória significativamente. A coisa mais importante é que se for praticado Jin Ji Du Li com os olhos fechados por 1 minuto todo dia, você não irá sofrer de demência senil (o que significa que o cérebro continuará saudável). Zhong Li Ba Ren explicou que há seis meridianos principais que passam por entre as pernas. Quando você ficar em uma perna, você sente dor devido ao exercício e, quando isso ocorre,
os órgãos correspondentes a esses meridianos e suas formas começam a receber os ajustes necessários. Este método é capaz de se concentrar a consciência e canalizar o corpo até os pés.

Os efeitos benéficos da prática de Jin Ji Du Li em várias doenças como a hipertensão, diabetes, pescoço e coluna vertebral, começarão a ser sentido rapidamente. Problemas como a gota também poderá ser prevenido. Cura doenças básicas como "Pés Frios"
e também pode reforçar a imunidade do corpo. Você não precisa esperar até que você tenha uma doença para começar a praticar Jin Ji Du Li. É adequado para quase qualquer tipo de pessoa e especialmente benéfico em pessoas jovens, se praticadas diariamente,
a probabilidade de adquirir problemas naturais da idade, será menor. Não recomendado para pessoas cujas pernas são fracas e não podem ficar por longos períodos em pé.

domingo, 19 de agosto de 2012

De amor e perdão (*)

Vera Pinheiro
            O tempo cura todas as dores? “O tempo não cura tudo. Aliás, o tempo não cura nada, o tempo apenas desloca o incurável do centro das atenções”. Desconheço a autoria dessa frase, mas concordo com ela. É bem isso. Quando estamos em sofrimento profundo, a nossa atenção se fixa no motivo da dor e ela se agiganta em vez de se acalmar. Olhando o tempo todo para a dor, e o que a provocou, nós a animamos, mantendo-a viva. Não deixamos a dor morrer de inanição se a alimentamos com dedicada atenção. Incentivamos a dor quando a cutucamos sem trégua, não permitindo que sua ferida cicatrize. Então, a dor se prolonga, o sofrimento se demora e a cura se distancia.
            O tempo não faz milagres; o amor, sim. O amor é capaz de fazer com que as dores serenem e de colocar no lugar delas o perdão que apazigua as emoções que nos fazem sofrer. O perdão é o inefável bálsamo curador do sofrimento que aceitamos que alguém nos cause. E aceitamos o sofrimento da mesma forma que podemos nos recusar à sua tirania. O perdão redime, liberta, nos alforria da dor. Ele nos traz uma inexprimível sensação de paz, pois nos desamarra do sofrimento.
            O amor e o perdão andam juntos, de mãos dadas, em nossa caminhada e na de todas as pessoas. Todos nós devemos amor e perdão a alguém. Cada um com suas razões, a cada instante precisamos perdoar um acontecimento, uma situação, uma palavra, uma omissão, um silêncio, uma desatenção, uma palavra rude, um esquecimento, um afeto que não foi compartilhado, um comportamento, uma mania, um desamor, uma irritação, uma chateação, uma intenção não cumprida, uma promessa desfeita, uma lista enorme de defeitos insuportáveis e erros injustificáveis. Com amor, o perdão não pede muito esforço, mas a melhor boa vontade para se realizar. E ouvidos moucos às opiniões daqueles que colocam o ego acima das necessidades e vontades do espírito, pois o amor tem disposição para perdoar, mas o ego ferido impede o perdão ou o complica muito. Movido pelo amor e livre da influência e do peso que o ego impõe às atitudes, o espírito perdoa sem objeções nem dificuldades. Assim, a sentença que se proclama é: eu te perdoo com todo o meu ser! E vem a libertação!
            Perdoar e amar são faces da mesma moeda. São indissociáveis. Que ninguém acorde nem se deite sem expressar amor e perdão, mesmo que tenha a sensação de amar muito todos, e de pensar que nada tem a perdoar em quem quer que seja. Ama perdoando e perdoa amando! E se de pronta memória não te lembrares de nenhum fato ou pessoa que mereça ou precise ser perdoado, ainda assim te coloca em disponibilidade para o perdão. Perdoa o teu passado, as mágoas antigas, os desacertos cometidos, as frustrações inesperadas, as tristezas experimentadas, os desgostos acumulados. Perdoa os infortúnios que tu conheceste, os que te feriram, os que abusaram da tua confiança, os que te tiraram o sossego, os que falaram mal de ti, quem te enraiveceu, traiu e decepcionou.
            Perdoa quem cruzou o teu caminho e se tornou um desafeto, perdoa quem tu amaste, mas não te amou, perdoa quem te enganou ou iludiu. Perdoa aquilo de que não tens vívida lembrança. Perdoa o que está no mais profundo do teu subconsciente, o de que não tens clara recordação. Perdoa o mal que te fizeram sem que dele saibas, as pragas que te rogaram, as maldições que te enviaram, a inveja que tiveram de ti, os maus olhados, quebrantos e olho gordo. Perdoa tudo e todos! Perdoa o imperdoável para que te libertes do jugo que o ódio decreta em tua vida. Não é necessário que ninguém saiba do teu perdão. Ele vai beneficiar primordialmente a ti mesmo e alcançará o outro, favorecendo-os com serenidade.
            E porque há amor e perdão, os corações pulsam juntos na mesma sintonia e se acolhem mutuamente. Há uma vibração em idêntica energia. A dor de um reverbera no outro e a alegria de um contenta o outro, e ambos, com amor, caminham juntos em direção à solução das dores e à felicidade. O tempo não cura: o amor, sim. O tempo não desculpa; o amor, sim. O tempo não releva; o amor, sim. É o amor, e não o tempo, que eleva nossas vidas em aprendizado de perdão e magnitude espiritual, tornando qualquer convívio uma estação de êxtase!
            Crônica publicada no Jornal A RAzão, de Santa Maria, RS, edição de 18 e 19 de agosto de 2012 (www.arazao.com.br)

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Amigos (no Dia deles)

Vera Pinheiro

            “Amigos posso contar nos dedos... e não enchem uma mão”. “Amigos são meus dentes... e me mordem”. Assim como essas definições negativas a respeito dos amigos, tudo já foi dito de mais lindo sobre eles. Da memória da minha juventude, uma frase recorrente que minha mãe dizia: “não namores vizinho, porque, se o namoro acaba, perdes também o amigo”. Naqueles tempos, segui a lição, mas me pergunto que futuro teria se me deixasse embalar pelos olhinhos verdes do vizinho da casa ao lado, tão meu amigo de todas as horas, que ficava perto quando eu adoecia e, por horas, conversava comigo sob o sol das manhãs de inverno.
Adulta, excluí os amigos das possibilidades do amor. “Amigo, não” era um lema para mim. Sempre evitava que amigo se transformasse em namorado, talvez por acreditar, à época, mais na permanência da amizade do que na eternidade do amor. Mais tarde, usei a amizade para me escudar do amor. Quando alguém me encantava e eu já mostrava sinais de paixão, logo transformava a relação em amizade, para fugir do amor. Hoje confesso que amei amigos sem que eles soubessem, sem jamais ter revelado. Admito que renunciei ao amor por quem, pensava, me via tão-somente como amiga, e estava na idade em que me poupava de riscos, o que agora, na fase pós-adulta, encaro sem medo nem travas, pois nada me impede de escancarar emoções e de deixar a alma nua diante de sensações e lembranças.
Como teria sido a minha vida se eu tivesse dito aos amigos que os amava mais do que amigos que eram, e muitos ainda são? Essa é uma pergunta sem resposta. Não há diálogo com o passado, apenas reflexão sobre ele em busca de compreensão a respeito do presente, enquanto o futuro se constrói a cada dia. Das poucas certezas, as de que tive mais amigos do que amores, vivi mais alegria com amizade do que fui bem-sucedida no amor e colecionei muitos amigos, mas poucos enamorados por mim. Não comparo uns e outros, pois todos estão na minha história. Ainda tenho por alguns amigos um profundo querer, enquanto outros habitam um recanto de saudade, sendo, todos, parte de mim.
Tive amigos que me traíram e enganaram, roubaram a minha confiança, desmereceram meu carinho, me deram rasteira, me derrubaram na primeira chance que tiveram, sem piedade ou compaixão, na crueza de sua vontade de me tirar do caminho que eles queriam fazer mais depressa, ainda que pisassem em mim ou me varressem do lugar. Tive amigas falsas, enquanto eu era devotada à sinceridade. Confidentes que não honraram a minha intimidade. Braços que deram abraços e depois, cotoveladas. Sorriso largo na frente e boca maldita nas minhas costas. Há histórias que pelo simples fato de rememorar ainda magoam, por isso jogo essas lembranças onde estavam: na busca do esquecimento, que vai além da desculpa e do perdão.
Todos os que cultivaram a traição serviram para me tornar uma pessoa mais atenta e, diria, seletiva, até. Aprendi como se separa o joio do trigo, a identificar uma jóia rara diante do falso brilhante, o que são cores firmes, nuanças e tintura que logo desbota. Ainda me engano, sem dúvida. Mas o espaço de tempo é mais largo entre as ocorrências. Amizade, não raro, parece um campo minado: a um passo em falso tudo explode. Mas não choro como antes, continuo meu aprendizado sobre mim e sobre pessoas. Com faro de bicho e alma de quem, lentamente, encontra sabedoria nas relações.
Ficaram os verdadeiros. Os amigos e amigas que fincaram – para sempre – bandeira na minha vida são os que importam, muito mais do que outros, que nunca foram. Permanecem os que cultuam a lealdade, os que vêm para trocar, não apenas para pedir ou só para se dar por um tempo, até que se completem. Os que abraçam com o coração e colam a alma na minha. Os que compreendem limitações, erros, imperfeições. Os que aceitam o perfil humano e a história que o construiu. Os que entendem dores alheias e as acolhem sem críticas. Os que não partem quando a festa e o dinheiro acabam nem se a fama e o sucesso passam. Os que ouvem sem condenar; os que falam, mas não o tempo todo, pois aprenderam silêncios cúmplices e a partilhar palavras boas. Os que nunca se ausentam, mesmo não estando perto. Os que atravessam madrugadas insones por solidariedade, os que seguram a mão que treme, o coração que dói, a tristeza que não passa. Os que respeitam sentimentos e ficam firmes quando minha determinação fraqueja. Os que não resolvem tudo por mim, mas me encorajam a fazê-lo e esperam junto pela solução. Os que atravessam meus dias de humor nublado, tempestades de emoções, furacão de ansiedade, medo maior que a coragem.
Ficam os que andam de mãos dadas sobre pontes que balançam, até cruzar todos os riscos e enfrentar todos os perigos. Os que são minhas asas se sozinha não posso voar, riso de vitória, acolhimento, oração. Ficam os amigos que vieram para unir seus caminhos ao meu e atar laços de coração que jamais se rompem, mesmo quando o tempo passa e apesar das ausências e distâncias que resultam das impossibilidades. Ficam os essenciais. Os que se importam comigo e me importam.