sábado, 27 de novembro de 2010

Os instrutores (*)

Vera Pinheiro
            Vive a tua vida de modo que não precises franzir o cenho por contrariedades. Que não te falte a serenidade que amaina a forma de encarar os acontecimentos e permite resolver os problemas sem aflições. Que o teu olhar seja manso, suave e iluminado de contentamento. Que não se inquiete o teu espírito perante as dificuldades e que elas sejam reais oportunidades de aprendizado. Que as tuas palavras sejam temperadas de doçura e que a tua voz não se eleve além do tom de uma carícia, mas sê firme no que dizes, e seguro do que expressas até mesmo com o silêncio.

            Não permitas que outras pessoas comandem as tuas vontades. Só tu podes – e deves – ser dono de ti mesmo, do que queres para o teu destino e o único responsável pela maneira como escolheste viver. Exerce pleno domínio sobre as tuas atitudes e te sentirás fortalecido. Procura conhecer-te ao máximo para que as tuas reações não sejam imprevisíveis ao teu conhecimento e para que possas esquivar-te das ciladas e dos perigos que tu mesmo podes, inadvertidamente, armar.

Não te deixes embalar pela vaidade, que cobre de ilusões o teu auto-retrato e o faz muito diferente do que, na realidade, és. Cuida da tua essência para que ela se mantenha íntegra e não se esfacele com apelos que são o vazio disfarçado de alegria. Não esperes lucros fáceis nem vantagens que não venham com o trabalho de cada dia e a dedicação somada a esforço. Desconfia de garantias de sucesso sem custo e observa se o pagamento, em troca, não será a entrega da tua alma, começando pela perda de valores. Não te deixes corromper e vigia o teu comportamento para que ninguém faça a vigilância que te cabe. Nada faças sem a aprovação da tua consciência, e que ela seja transluzente.

Ousa na medida da confiança que tiveres do que podes fazer na circunstância que exige que sigas em frente ainda que não conheças bem o caminho. Avalia as possibilidades, mede os riscos e toma os cuidados necessários para que todos os resultados sejam benéficos, ainda que eles contrariem as tuas expectativas.

Evita os derrotistas e os invejosos, e não gastes teus argumentos para convencê-los de que devem agir em sentido contrário. Não há o que fazer por quem não quer fazer por si e o crescimento individual se dá no ritmo de cada um. Não te desgastes em aborrecimentos pelo que fazem contra ti, entrega tudo à perfeita ordem do universo e ela se encarregará de responder aos teus algozes. Jamais queiras o que pertença a outrem. Busca por teus méritos o que desejas sem prejudicar quem quer que seja, para que não geres um débito futuro com a vida, e ela te cobrará inapelavelmente todo o mal que praticares assim como te recompensará generosamente por todo o bem que tu fizeres.

Não te revoltes com pessoa que, a um olhar distraído e de pouca sabedoria, pareça estar no mundo para te causar desagrado e por quem nutres antipatia que não é gratuita por ser, aquela criatura, muito hábil em tirar a tua paciência. O que nos causa repugnância é um instrumento para a nossa evolução e aquele a quem rejeitamos, com ou sem razão, atua como instrutor do nosso processo evolutivo, verdadeiro mestre que nos ensina virtudes cada vez mais raras como a compreensão e o perdão. Mantém distância sem terceirizar o poder sobre as tuas decisões e sobre o teu humor. Não te empenhes tanto em fazer amigos e, sim, em não colecionar inimigos, pois a ajuda que podes receber por meio de uma amizade não é tão grande como o mal que impulsiona as ações de quem te odeia. Porém, apesar de tudo, não retribuas ódio com sentimento de igual natureza. Eleva-te acima das provocações e das ofensas e não sintonizes com energias densas, que diferem da tua, que a paz habita e a brandura é a maior aliada.

Age em vez de preocupar-te e sorri mais vezes e para quem cruzar contigo. Poucos adentrarão no convívio com o teu ser mais profundo e, assim, nem todos te conhecerão. Então, pode acontecer de que chores sozinho e venças sem auxílio, mas não te amargures pela solidão nem te sintas como um abandonado pela humanidade. A fé preenche o coração e nos põe em contato com forças que nos amparam nos momentos mais difíceis, tenhamos gente por perto ou não. E se tuas feridas emocionais sangrarem, o bálsamo ao alcance da mão é o amor, que se fundamenta na bondade. Ocupa-te, portanto, em ser bom e serás o refúgio em que o amor repousa e vibra, se recompõe e se resguarda para depois se espargir por onde andares.


(*) Crônica publicada na edição de 27 e 28 de novembro de 2010 do jornal A Razão (www.arazao.com.br) de Santa Maria, RS.

3 comentários:

  1. olá,gosto muito das suas publicações. Sâo temas que mexem e fazem as pessoas refletirem suas atitudes.Precisamos de provocações sadias. sempre que leio estes textos seus tomo a liberdade de colocar no meu blog também ( claro com sua autoria).parabéns!!!adicionei você no meu blog.... estou de seguindo...obrigada..
    www.rosethies.blogspot.com rosemar thies , Deus e os bons anjinhos te protejam sempre... uma ótima semana

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  2. Querida Rose, muito obrigada pelo recado generoso e carinhoso. Visitei o teu blog e coloquei o link entre os "adoráveis", aí ao lado! Tenhas uma vida feliz e abençoada.
    Beijos e o meu melhor carinho.

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  3. Mãe amada, tenho muito a aprender contigo e com esse teu espírito elevado. Amei essa crônica, foi uma das mais belas que fizeste até hoje. Um beijo em teu coração iluminado.

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