sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Mendicância amorosa

Faz parte da minha rotina diária trocar a água dos cães e gatos e alimentá-los. Logo cedo faço isso e, invariavelmente, os cachorros ficam à espera de que eu derrame no chão algumas migalhas da ração dos felinos. Pelo desespero com que abocanham uma ou outra migalha que escapa da minha mão, até parece que eles não têm sua própria ração, a canina, que lhes sirvo em boa quantia. Hoje aconteceu de novo.

A situação no mundo dos meus animais me fez lembrar dos humanos apaixonados que, não sendo correspondidos em seus sentimentos, se dedicam à mendicância amorosa e suplicam migalhas de amor. Tantas vezes eles são amados por outras pessoas, mas não se importam com elas, querem aquela pessoa que os despreza. Homens e mulheres insistem nisso e mantêm, à custa de muita humilhação e falta de autoestima, um vínculo de mão única, porque ama sozinho, quer quem não o quer e, o que é devastador, se satisfaz com o pouco que recebe, como se mais não merecesse.

Amor é para dar e receber. Quem ama sozinho não consegue amar por dois, mas se infelicitar, sim. Não é fácil, mas é necessário sair fora dessa relação que não conhece troca. É menos doloroso ficar sozinho, e na boa companhia de si mesmo, do que se deixar sugar por um sentimento que não é compartido.

Quem se submete a isso age como os meus cãezinhos. O prato deles está cheio de ração, mas eles querem o que não pode ser deles. Uma migalha, ao menos.

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