quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Amor engorda

Vera Pinheiro

Andando pelo shopping (incrível como o ser humano muda!), encontrei amiga minha a quem não via há apenas um mês e meio, se tanto. Quase não a reconheci, tão magra estava. Invejavelmente magra, acrescente-se. Magra e linda! Magra e saudável! Magra e feliz da vida! Também, pudera, quem não fica feliz com cinco quilos a menos, justamente aquele sobrepeso que academia não resolve nem jejum dá jeito? Pois ela me deu a receita.

-         Foi uma desilusão amorosa, amiga!
-         Como é que é?, perguntei, curiosa para saber dos quilos a menos e do namoro desfeito, uma combinação perfeita.
-         Larguei aquele &*@#$&*@+* e emagreci deste jeito, o que prova que amor engorda!
-         Engorda mesmo! A gente come demais e errado para compensar os desencantos da relação e quando percebe está do tamanho de um caminhão cargueiro! Mas, me conta, estás bem de saúde?
-         Estou ótima, cada vez melhor! Foi abandonar aquele cretino que mudei totalmente a alimentação. Agora realmente tenho cuidado com o que boto na boca! Literalmente!
-         Entendo, entendo. Fizeste muito bem, estás maravilhosa! Foi difícil?
-         Muito menos difícil do que eu pensava.
-         Jura?
-         Sim. Foi fácil como jamais supus que fosse! Ainda que a decisão de terminar o namoro tivesse sido minha, perdi a fome nas duas primeiras semanas. Comia bem pouquinho.
-         Comigo desilusão amorosa não funciona para emagrecer. Não perco nem o sono, tanto menos o apetite!
-         Dei um pontapé na bunda dele e entrei num período de luto por 15 dias. Uma espécie de viuvez voluntária... e curta! Aí, quando vi que tinha emagrecido, me animei e mudei completamente a alimentação! Foi um sucesso! Em vez de lanchar um salgado, como uma fruta, troquei as bobagens por algo saudável, diminuí os carboidratos e aumentei o consumo de verduras e legumes. E malho, claro.
-         Maravilha! Estou admirada da tua determinação!
-         E assim tem de ser, amiga. Olhei para o espelho, vi o quanto sou bela e o quanto fico melhor quando me amo, me cuido e faço o melhor por mim, tirando da minha vida quem ou o quê me prejudica ou põe pra baixo!
-         É isso mesmo! Parabéns!
-         Não tem coisa melhor do que autoestima!
-         Não tem mesmo!
-         Olhar-se com carinho, fazer as melhores escolhas por si mesma e não se contentar com relacionamentos insatisfatórios exige uma tomada de decisão, mas, quando a gente faz, renova as forças e o amor próprio.
-         Nada como uma desilusão amorosa para ensinar isso.
-         É. Há muitos caminhos para o aprendizado!

Essa amiga minha está numa grande fase. Que bom. Libertou-se de um fardo e livrou-se de quilos de dissabores. Lá vai ela, linda, poderosa e carregada de sacolas com roupinhas PP, 38 etc e tal... Essa é a parte mais divertida da história em que a alegria de viver faz o final feliz.

Acho que eu preciso de uma desilusão de amor urgente para perder uns quilinhos... O problema é que, para isso, eu precisaria – antes – ter uma ilusão de amor. Não é o caso, mas não lamento. Vou comer fazendo boquinha de peixe e malhar pesado.

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