terça-feira, 23 de novembro de 2010

Ele foi embora

Vera Pinheiro

Amiga minha está casada há alguns anos e tem um filho de sete. Outro dia, o marido comunicou-lhe que a empresa onde trabalha decidiu transferi-lo para outro estado e que, no começo, até conhecer melhor a cidade, ele iria sozinho. Depois, no período mais apropriado para mudanças escolares, viria busca-la com o menino. Ele foi embora, ela ficou.

Logo começou a estranhar a ausência dele, mas, boa de coração uma barbaridade, creditou o fato à nova etapa, o emprego novo, morando de qualquer jeito, sem ela para ajudá-lo, coitado. Estava acostumada a relevar tudo desse homem por quem era apaixonada.

Os primeiros 15 dias. Ela se revirando na cama, sozinha, a espera dele. Um mês. Bom, vou dar um jeito na vida, arrumar as coisas para mudar em breve. Dois meses, um telefonema. “Oi, amor, vou falar rápido. Estou muito cheio de serviço. Tudo bem com vocês? Mandei dinheiro”. Ah, que lindo, ele todo generoso. Três meses. Por que ele não comprou ainda um celular e por que não dá o endereço para eu visitá-lo?, pensou. Está correndo demais, tadinho. Quatro meses. Eu nem sei onde ele trabalha... Vai ver não quer me preocupar. Ela é boazinha demais mesmo.

Cinco meses depois, ele ainda não apareceu em casa, não deu endereço da empresa nem da moradia e diz não ter celular. Pacientemente, ela espera. Como sempre, aliás.

Um dia, encontrou-se com a cunhada num shopping. “Aparece lá casa pra gente conversar”, convidou a outra. No sábado, ela foi. Tomaram chá com biscoitinhos caseiros, enquanto as crianças brincavam.

- Você sabe onde está o fulano?, perguntou a cunhada, sobre o paradeiro do irmão.
- Não exatamente, titubeou a minha amiga. Ela queria dizer: não sei absolutamente nada dele, mas ficou envergonhada da própria ignorância.
- Pois eu sei!
- Sabe?!
- Sim. O teu marido saiu daqui para morar com outra em tal cidade, em tal estado.
- Cuméquié?!?! Estupefata, ela não acreditava no que ouvia.
- Verdade! E vou dizer mais: ele anda com essa mulher desde que vocês se casaram. Não é coisa de ontem!
- Não é possível...
- É possível, sim. E outra: você é muito mais bonita do que ela. Não posso entender os homens! (Nisso, a cunhada desandou em um discurso feminista daqueles!).
- Como assim? Ela não é bonita? (A minha amiga nem ouviu o mais que a outra havia dito).
- Não, minha filha. A criatura é uma coisinha assim, sabe? Tudo meio.
- Hã?!
- Meio feinha, meio burrinha, meio grossa, meio chatinha... Resumindo: é meio roceirinha.
- Isso não! (A minha amiga revoltou-se). Não admito! Pode me trocar por outra, mas que seja melhor que eu, senão me ofende! Sabe o que é isso? Não adianta a humanidade ter evoluído: homem não quer mulher que seja igual ou mais que ele.

A minha amiga contou que deu uma choradinha básica, mas depois pensou no que fazer. Rapidinho, arrumou outro e não atende as ligações do ex. Se quiser falar com ela, terá que ser pessoalmente, cara a cara. Assim, já vão direto para os “finalmente” da separação. Por que estresse se a vida é curta e sofrer não vale a pena? Foi o que ela disse.

4 comentários:

  1. Parabéns pela atitude da sua amiga. Se fosse comigo eu agiria como ela, mas aprontaria uma cilada para ele. Teria que ser pessoalmente. Tomara que ela pense em algo até ele aparecer. Esse marido dela é um canalha e covarde. Não teve a honradez de agir com diginidade e respeito.

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  2. Vocês dois estão cobertos de razão sobre esse canalha!

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  3. Uma coisa sempre me impressiona nestes casos, é o fato do homem não pensar nas consequências com os filhos, meu marido foi embora tambem, paga pensão direito, mas da pouca atenção as crianças que antes ele dizia ser tudo na vida dele, o que será que acontece para que uma pessoa mude tanto? Porque só nos, mães, temos esse apego? essa preocupação? Homem vai embora e não pensa mais se tem janta para o filho, se tem roupa limpa, se tem lição, se esta doente, se esta feliz, se esta triste...o que acontece? Claro que existem excessões mas são raras.

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