terça-feira, 5 de outubro de 2010

Cenas

Vera Pinheiro

Contando, quem acredita? Se fotografo, a pessoa fica zangada e parte para a agressão. Mas quem entende certas cenas do cotidiano, que deviam ser registradas para não pensarem que é mentira?

Outro dia Camila e eu fomos a uma padaria, onde tinha algumas mesas à sombra e ali resolvemos tomar um sorvete. Não era ainda duas da tarde e aproveitamos para espichar a conversa e refrescar a garganta num dia quente, depois do almoço.

Apenas outra mesa estava ocupada por uma jovem mãe e sua criança de colo. Ela conversava com uma amiga.

Dali a pouco, a mulher começa a despir o filho em cima da mesa e – pasmei! – a trocar a fralda cagada dele no mesmo lugar onde servem uma refeição, café, chá, sei lá, o que se põe à mesa. Fralda cagada em cima da mesa da padaria. E aquele cheirinho característico de merda de criança exalando...

Olhei para a minha filha e ela olhou para mim. Cadê o dono da padaria para indicar o banheiro? Não. Cadê a compostura da pessoa?! E o respeito pelos outros? Ah, as pessoas estão ficando muito mal educadas, desrespeitosas com o que é do alheio, perderam o senso de civilidade e esqueceram dos bons modos!

Ficamos com vontade de falar com a moça, mas resolvemos sair dali. A gente cansa de tentar reformar o mundo... Mas não desiste. Vamos à próxima situação, outra cena lamentável, embora não fôssemos nós as prejudicadas.

Estávamos paradas em um semáforo e ao lado, o carro de uma empresa. O motorista, jovem, e outro rapaz no banco do carona falavam tão alto que podíamos ouvir o que diziam – pura bobagem. Quando abriu o sinal verde, um idoso terminava a travessia da rua na faixa de pedestres. Pois os idiotas arrancaram cantando os pneus, causando o maior susto no velhinho, que quase foi atropelado.

-  Que bom de ter um telefone para responder “Como estou dirigindo?”, disse para Camila.

Foi pra já que ela olhou o número de telefone que constava no carro e memorizou a placa. Ô cabecinha boa! Camila pegou o celular e ligou imediatamente para a empresa, reclamando dos rapazes. É possível que não dê em nada a denúncia, mas ela cumpriu a sua parte. Não queremos nos acomodar ao que desrespeita a vida e as pessoas, mesmo quando não tem nada a ver diretamente conosco, porque um desconhecido – no caso, o idoso – é um ser humano, e isso basta para merecer consideração. E não vai ser um idiota no volante que vai zombar dele na cara da gente.

3 comentários:

  1. A verdade é que tem muita gente folgada no mundo mesmo...

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  2. Amiga, a falta de consciência das pessoas tem me assustado muito. Não quero e nem posso acreditar que o ser humano perdeu o bom senso.

    Graças a Deus, existem pessoas como vocês, eu e muitos outros, que não se acomodam quando presenciam barbaridades como essas.

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  3. A gente não pode mudar o mundo nem mudar as pessoas, mas a gente pode e deve fazer a nossa parte e eu acredito muito na atitude tomada pela Camila.
    Isso sim que é gente!

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