sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Por que?

Vera Pinheiro

Eu estava lavando o carro quando um homem estaciona o carro em frente ao meu portão, desce e me chama. Vou até ele com a cachorrada latindo em volta. Mal podia ouvi-lo, tanto os cachorros latiam! Mas pude ver que era bonito e trajava bem.

- Pois não?
- O seu marido tem uma Pajero Mitsubishi?

Fiquei olhando para ele por alguns segundos sem dizer nada. Por que, raios, homem supõe que a gente tem marido? Perguntou para saber? Não. Supôs. Enquanto pensava nisso, silêncio. E o homem esperando.

- Desculpa, não entendi. Pode repetir?
Era uma desculpa, claro, enquanto eu ganhava tempo para pensar na resposta. Aprendi a tática com entrevistados que não queriam ou não sabiam responder.

- O seu marido tem uma Pajero Mitsubishi?
Eu continuei em silêncio e ele prosseguiu. "É que ele disse que morava nessa rua, mas esqueci o número da casa".

- Nem Mitsubishi nem marido...
Tive vontade de dizer isso, mas me contive. Respondi apenas um lacônico “não” e sugeri que ele se dirigisse à administração, indicando o caminho.

O homem sorriu e agradeceu. Continuei o meu trabalho de flanelinha doméstica, lustrando o carro como nenhum homem o faria.

- Espera aí, moço! Se tivesse um marido com uma Mitsubishi, eu estaria lavando o meu carro? Será? Já que não tenho, leva o meu cartão com telefone, celular, fax, e-mail, sinal de fumaça e pombo-correio.

Só pensei em dizer, óbvio. Fiquei quietinha, lavando o carro e adorando o brilho que arrancava da lataria! Poderia ter feito uma abordagem dessas se não tivesse certeza de que isso espanta os homens. Eles não suportam que a gente diga o que quer. E eu tenho a maior preguiça de brincar de faz de conta.

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