Vera Pinheiro
Ísis (em egípcio, Aset) é uma das principais divindades da mitologia egípcia que foi cultuada e adorada no Egito, no Império Romano, na
Grécia, na Alemanha, e ainda venerada em
inúmeros lugares em todo o mundo, como deusa
da maternidade e da fertilidade,
modelo de mãe e de esposa ideais, protetora da natureza e da magia. Além de ser considerada a representação maior da essência materna
e da esposa perfeita, é atribuído a Ela também velar pelo reino natural,
portanto, por todas as dimensões da existência e da magia. Deusa lunar, Ísis
simboliza o princípio feminino personificado na natureza e no cosmos,
outorga a vida e a saúde, e é
protetora e condutora dos mortos.
Os primeiros registros escritos
acerca de sua adoração surgem pouco depois de 2500 a.C, durante a V dinastia
egípcia, período em que são encontradas as primeiras inscrições literárias a
seu respeito, embora o seu culto apenas tenha proeminência ao final da história
do antigo Egito, quando se iniciaram
também cultos firmemente estabelecidos de muitas outras deusas.
O culto à Ísis difundiu-se além das fronteiras do Egito e se alastrou por todas as partes do Império Romano. Na península Itálica, a fé nessa deusa egípcia
era uma força dominante. Em Pompeia,
evidências arqueológicas revelam
que Ísis desempenhava um papel importante. Em Roma,
templos e obeliscos foram erguidos em sua homenagem. Na Grécia Antiga, os tradicionais centros
de culto em Delos, Delfos e
Elêusis foram retomados por seguidores de Ísis, e isso ocorreu no
norte da Grécia e também em Atenas. Inscrições mostram que Ísis possuía
seguidores na Gália, na Espanha, na Alemanha, na Arábia Saudita, na Ásia Menor, em Portugal, na Irlanda e na Grã-Bretanha.
A morte e o renascimento de
Osíris eram revividos anualmente em rituais e o Egito preserva uma cerimônia
denominada a Noite das Lágrimas, lembrando as lágrimas de Ísis durante a
busca de seu amado Osíris. Ela ocorre em junho, portanto é conhecida como
Festival Junino de Lelat-al-Nuktah. Nessa tradição, mantida pelo povo árabe,
revive-se o enlace de Geb e Nut, ou seja, da Terra e do Firmamento, e o
surgimento de sua descendência, que inclui Ísis e Osíris, além de seus irmãos,
que assim totalizam nove deuses, a famosa Enéada, que teve seu princípio com a
Divindade criadora originária.
Juntos, Ísis e Osíris simbolizavam
a realeza do Egito. Ela representava o trono no qual despontava o poder real do
marido. O culto desta deusa foi de grande importância na Antiguidade,
especialmente no Império Romano, no qual ela obteve muitos discípulos como Senhora da Lua e Mãe do Sol, rainha da Terra e
das estrelas, deusa-mãe do amor e da magia, perdurando o seu culto até à supressão do paganismo na
Era Cristã. Hoje a arqueologia comprova este
fato, e é possível encontrar vestígios de templos e monumentos piramidais em
todas as partes de Roma.
A
estrela Spica (“Alpha Virginis”) e a constelação, que modernamente
corresponde aproximadamente à de Virgo,
surge no firmamento acima do horizonte em
uma época do ano associada à colheita de
trigo e grãos e, desse modo, ficou associada a divindades da fertilidade, como Hathor. Ísis viria a
ser associada a esses astros devido à posterior fusão de seus atributos com os
de Hathor.
Ísis também assimilou atributos
de Sopdet, deusa
da mitologia egípcia descrita como uma mulher com uma estrela de cinco pontas
sobre a cabeça, que foi a deificação de Sothis,
a estrela considerada por quase todos os egiptólogos como a Sirius. O nome
Sopdet significa “Ela quem é”, uma referência ao brilho de Sirius, que é a
estrela mais brilhante no céu noturno. Logo após Sirius aparecer no céu de julho, o rio Nilo começa seu ano de
inundação, e assim os antigos egípcios ligaram os dois fenômenos. Consequentemente,
Sopdet foi identificada como uma deusa da fertilidade do solo, que foi trazida
a ele por inundações do Nilo. Outras fontes indicam que o surgimento de Sirius no firmamento
significava o advento de um novo ano e que os antigos egípcios acreditaram que
as cheias anuais do rio Nilo ocorriam por causa das
lágrimas de tristeza de Ísis pela morte de seu marido Osíris.
O mito sobre Ísis, de grande importância
nas crenças religiosas egípcias, retrata-a como
uma linda mulher, de longos cabelos negros, pele morena, olhos brilhantes como
duas contas de ônix, usando um vestido ricamente bordado com esmeraldas e
rubis, adornada com uma tiara e várias pulseiras de ouro, e coroada com o hieróglifo (um sinal de escrita de antigas civilizações) que
significava “trono”.
Embora Ísis fosse considerada como
mãe universal, ela era venerada como protetora das mulheres em particular.
Sendo aquela que dá a vida, que preside a vida e a morte, ela era protetora das
mulheres durante o parto e confortava aquelas que perdiam seus entes queridos.
Em Ísis as mulheres encontravam o apoio e a inspiração para prosseguirem suas
vidas. Ísis proclamava ser, em hinos antigos, a deusa das mulheres e dotava
suas seguidoras de poderes iguais aos do homem.
O MITO - Ísis é a primeira filha de Geb (deus egípcio da terra) e Nut (deusa do firmamento), esposa de seu
irmão Osíris e
mãe de Hórus (deus dos céus deus do firmamento,
inebriado de energia solar, cuja
designação na língua egípcia era Horu-sa-Aset,
que significa exatamente Hórus,
Filho de Ísis), com os quais integra a principal
tríade (ÍSIS, Osíris, Hórus) da religião do antigo Egito. O outro irmão, Seth,
responsável pelos desertos, se transforma no principal inimigo do casal.
Seth invejava profundamente Osíris, que
tinha como missão governar a terra, mais especificamente o Egito, e assim tinha
a oportunidade de transmitir aos homens conhecimentos preciosos sobre
agricultura e trato com os animais. Segundo a mitologia egípcia, Osíris é
traído por Seth, morto e esquartejado por esta divindade que é associada à
essência do mal.
Ísis, desesperada, procurou e conseguiu reunir
todas as partes do corpo que tinham sido despedaçadas e
espalhadas por todo o Egito por Seth e, por meio de suas habilidades mágicas e de seu poder da
cura, recompõe o corpo do
amado Osíris,
com exceção do genital masculino, trocado por um órgão de ouro. Após isto, ela consegue procriar com
o corpo de Osíris, gerando o filho solar Hórus, e manteve o corpo recomposto do marido para proteger Hórus enquanto
criança, para que ele crescesse e então tivesse direito a reivindicar o trono
usurpado por seu tio Seth, a quem ele mata.
Após
ter assimilado muitos dos papéis da deusa Hathor, a cobertura de cabeça de Ísis
passa a ser a de Hathor: os cornos de uma vaca, com o disco solar inscrito
entre eles. Às vezes, também representada como uma vaca, ou uma cabeça de vaca.
Frequentemente, porém, era retratada com o seu filho pequeno, Hórus (o faraó),
com uma coroa e um abutre. Também foi representada ou como um abutre pairando sobre o corpo de Osíris, ou
com Osíris morto em seu colo enquanto o trazia de volta à vida por meio de
artes mágicas.
Literalmente, o seu nome significa "Ela do trono". A sua cobertura original para a
cabeça foi um trono. Como personificação do trono, ela foi uma representação
importante do poder do faraó, assim como o faraó foi representado como seu
filho, que se sentou no trono que ela forneceu. Na maioria das vezes, Ísis é
retratada segurando apenas o símbolo Ankh, cruz
ansata, que na escrita hieroglífica
egípcia era o símbolo da vida, conhecido
também como símbolo da vida eterna. Os egípcios usavam-na para indicar a vida
após a morte. Entretanto, no período final de sua história, as imagens
mostram-na com itens geralmente associados apenas a Hathor: o sistro sagrado e o
colar símbolo de fertilidade “menat”.
O sistro é um
instrumento de percussão que produz um som de chocalho. O instrumento
já existia na Suméria do ano 2500 a.C. No Antigo Egito recebia o
nome de sechechet e era
utilizado por mulheres da nobreza e pelas sacerdotisas. Geralmente feito em
bronze, também existiam exemplares em madeira e em faiança, uma
espécie de cerâmica branca. Os sistros estavam particularmente associados ao
culto da deusa Hathor, mas poderiam também ser empregados no de Ísis.
Agitando-se o sistro pelo cabo produzia-se um som agudo e prolongad, muito
apropriado para acompanhar ou ritmar o canto.
Acreditava-se que o sistro
tivesse virtudes de apaziguamento, aliviasse as mulheres no parto, afastasse os
malefícios e abrandasse os modos das pessoas. Eram sempre tocados em momentos
de alto significado religioso como, por exemplo, quando chegavam os que estavam
de luto, quando o faraó e a rainha apareciam, quando as cantoras começavam a
cantar. As sacerdotisas de Hátor e as de Bastet costumavam agitá-los como parte
dos rituais que realizavam e, ao que parece, supunha-se que eles estimulavam a
fecundidade. A própria forma do instrumento tinha conotações com a junção das
energias masculina e feminina: sua parte superior continha as sementes ou
címbalos, simbolizando o ventre da mulher e o cabo alongado simbolizava o falo do homem. Quando o culto de Ísis
se difundiu na bacia do Mediterrâneo, o
sistro tornou-se um instrumento popular entre os romanos.
O menat é um misto
de instrumento musical e colar. Eram largom e pesadom colares feitos com
pérolas ou contas coloridas de cerâmica, pedra dura ou metal precioso, montadas
em semicírculo formando um grande crescente. A borda externa podia ou não ser
guarnecida por pingentes. Eram dotados de longos contrapesos, os quais
equilibravam seu peso considerável quando eram colocados no dorso do portador.
Ao serem agitados nas festividades produziam o ruído característico do choque
das miçangas. Esse som transmitia vida e poder, tornava as jovens mulheres
fecundas, mas também favorecia o renascimento espiritual do ser no além-túmulo.
Esses
instrumentos também eram empunhados e agitados principalmente pelas
sacerdotisas, que podiam usar o colar no pescoço ou, levando-o nas mãos,
apresentá-lo à pessoa a quem desejasse oferecer boas vibrações. Diversos
estudiosos concordam que o menat simbolizava prazer e júbilo, tanto
do ponto de vista da fertilidade, quanto da perspectiva da satisfação sexual.
As suas fileiras de contas e o contrapeso de aparência fálica parecem combinar
os princípios feminino e masculino em ação. Ele evocava a união de Ísis e
Osíris na criação de Hórus e, ao ser oferecido aos mortos, o instrumento
permitia a revitalização deles no outro mundo.
Por fim, na mitologia egípcia, Hórus (ou Horu-sa-Aset, Heru-sa-Aset, Her'ur, Hrw, Hr ou Hor-Hekenu)
é segunda pessoa da divina família egípcia,
composta por Osíris, o pai; Hórus, o filho e Ísis,
a mãe. Hórus tinha cabeça de falcão e
os olhos representavam o Sol e a Lua. Matou Seth, tanto por vingança
pela morte do pai, Osíris, como pela disputa do comando do Egito. Após derrotar
Seth, tornou-se o rei dos vivos
no Egito. Perdeu um olho lutando com Seth, e o Olho de Hórus, anteriormente chamado
de Olho de Rá, que simbolizava o
poder real, foi um dos amuletos mais usados no Egito em todas as épocas. Depois
da recuperação, Hórus conseguiu organizar novos combates que o levaram à
vitória decisiva sobre Seth.
O olho que Hórus feriu (o olho
esquerdo) é o olho da Lua, o outro é o olho do Sol. Esta é uma explicação dos
egípcios para as fases da lua, que seria o olho ferido de Hórus. O Olho de
Hórus, um dos amuletos mais importantes no Egito Antigo, tornou-se um importante símbolo
de poder também conhecido como udyat
e significa poder e proteção e
era usado como representação de força, vigor, segurança e saúde.
E como, afinal, podemos trazer a
deusa Ísis para a nossa vida? As Melissas, em canção de Clarissa Vargas, sugere
apelar: “Ísis, me proteja! Oh, Grande Ísis, me proteja nas suas asas, gavião.
Ísis me preencha! Oh, Grande Ísis, me preencha com sua cura e visão! ÍSIS me
preencha! Oh, Grande Ísis, me preencha de amor e gratidão! ÍSIS que abençoa,
faz a cura e voa. Ísis eu sou tua!”. E assim tem de ser, com entrega, qualquer
apelo à Grande Ísis. Não apenas pela hora da morte, para que nos conduza e
proteja, mas para que nos traga a vida plena, com exuberante saúde em nossos
corpos físico, mental, espiritual, emocional e energético, para que possamos
revivescer de pequenas mortes cotidianas em forma de sofrimentos causados por
decepções, desilusões, angústias e tristezas, quando então mais precisamos do
amparo dessa deusa amorosa para nos conduzir em nossa jornada humana e
espiritual. Ísis, nos proteja!!! Sigamos, pois, confiantes de que estamos,
desde já e para sempre, sob a proteção de Ísis. Que seja assim. E assim é!
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