segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Sarasvati, Deusa da Sabedoria e da Arte

Vera Pinheiro

Sarasvati é uma jovem conhecida por sua refulgente beleza, deusa hindu da sabedoria universal, das artes e da música, e a shákti, que na religião e mitologia indianos significa, ao mesmo tempo, “poder de um deus” e “esposa”, de Brahma, o deus da criação universal. Chamado de “O Avô dos Mundos”, Brahma é a primeira pessoa da trindade hindu, descrita com quatro faces e testemunha da totalidade dos universos criados. É o deus da sabedoria, o portador do Vedas e o cônjuge de Sarasvati, deusa adorada pelos povos da Índia, Tibete, China e Japão.
Mãe dos principais sábios, de ascetas (pessoas que desdenham os prazeres da vida e renunciam às coisas terrenas) e de vários deuses do universo, Sarasvati é a protetora dos artesãos, pintores, músicos, atores, escritores e artistas em geral. Ela também protege aqueles que buscam conhecimento, os estudantes, os professores, e tudo o que está relacionado à eloquência, às artes, à literatura, sendo ainda invocada para fertilidade, procriação e purificação. Ela é o arquétipo da criatividade humana.
Sarasvati é a “Mãe da Palavra Escrita” que trouxe os caracteres do alfabeto Devanagari para a civilização sânscrita. Ela preside as artes, a música e a poesia, protege os nascimentos e as mulheres, e é a senhora do conhecimento, da fertilidade e da prosperidade. Venerada como uma deusa dos rios, ela tem o dom da eloquência e as palavras dela fluem fácil e suavemente.
No hinduísmo, Sarasvati representa a consciência, a inteligência, o conhecimento cósmico, a criatividade, a educação, a iluminação, as artes, a eloquência e o poder. Hindus adoram essa deusa não só para “conhecimento acadêmico”, mas para “conhecimento divino”, essencial para alcançar o “Moksha” que, em termos gerais, significa a libertação do ciclo do renascimento e da morte, e a iluminação espiritual.
O nome dessa deusa vem de Sarasvati Saras (que significa “fluxo”) e Wati (que significa “aquela que tem o fluxo”. Então, Sarasvati é símbolo do conhecimento. Seu fluxo (ou crescimento) é como um rio, e o conhecimento é extremamente sedutor, como uma mulher bonita. Além do nome de Sarasvati, ela também é conhecida como Sarasvati, Gayatri, Brahmani, Bharati, Vac, Vagdevi, Vagisvari, Vani, Vaani, VidhatrI, Veenapani,  Sarad, Veenapani, Sharade, Sharadha, Sharadamba, Pustaka Veena Dharini, Vaakdevi, Varadhanayagi, Vidyadayini, Kalaimagal, Kalaivaani e por muitos outros nomes.
Sarasvati é conhecida como uma deidade guardiã do Budismo, que defende os ensinamentos de Gautama Buda, oferecendo proteção e assistência aos praticantes. Buda foi um príncipe de uma região ao Sul do atual Nepal, que renunciou ao trono e se dedicou à busca da erradicação das causas do sofrimento humano e de todos os seres, e desta forma encontrou um caminho até o “despertar” ou a “iluminação”, tornando-se um mestre espiritual, fundador do Budismo.
Deusa da aprendizagem e da fala, Sarasvati é representada com quatro braços, que representam os quatro aspectos da personalidade humana no aprendizado: mente, intelecto, alerta e ego. Alternativamente, estes quatro braços representam também os quatro Vedas, os livros sagrados para os hindus primários. Vedas, por sua vez, representam as três formas de literatura: Poesia, o Rigveda contendo hinos, representando a poesia; Prosa, Yajurveda contendo prosa, e Música, Samaveda representando a música.
As quatro mãos descrevem-se assim também: a prosa é representada pelo livro na mão; a poesia, pela coroa de cristal e a música, pela Veena. O pote de água sagrada, com que às vezes é representada, significa os poderes criativos e a pureza da arte ou o seu poder de purificar o pensamento humano. Para outros estudiosos, as quatro mãos representam as quatro cabeças de Brahma.
Nas mãos do lado direito, ela segura um broto de lótus e um rosário. Nas mãos do lado esquerdo ela traz o Livro dos Vedas, com o conteúdo do conhecimento universal, divino, eterno e verdadeiro bem, como a perfeição das ciências e das escrituras. Em outras descrições, Sarasvati aparece também com um pavão, simbolizando beleza, harmonia e perfeição, mas também a arrogância e o orgulho por sua beleza. Por ter um pavão em sua representação, Sarasvati ensina a não se preocupar com a aparência externa e a ter sabedoria em relação à verdade eterna. É apresentada, ainda, sentada em um cisne, em um leão ou em um lótus que, como fundação, representa a consciência pura e a busca da luz do conhecimento.
O cisne é muitas vezes apresentado próximo aos pés dessa deusa.  Dizem que se for oferecida uma mistura de leite e água para essa ave sagrada, ela é capaz de beber apenas o leite, simbolizando, assim, a capacidade de discriminar o bem e o mal, o eterno e o efêmero. Devido à sua associação com essa ave, Sarasvati é também referida como Hamsavahini, o que significa “aquela que tem um hamsa (proteção) como seu veículo”. Ela é geralmente representada perto de um rio, que pode estar relacionado à sua história inicial como uma deusa do rio.
Pode ser vista portando uma Rudraksha de diamantes e segurando os livros Védicos. Rudraksha é o nome dado a uma terapia na cultura hindu, existente há vários séculos e considerada sagrada e milagrosa. Seu nome vem das sementes oriundas da árvore da espécie Elaeocarpus ganitrus, encontrada na Índia, no Nepal, no Tibete, na Indonésia e na Malásia.
Segura uma seta, uma concha, uma Sitar ou Veena, instrumento musical indiano de cordas, que é uma expressão da sabedoria que cria harmonia no mundo e a representação da perfeição de todas as artes e ciências. Sarasvati é também associada com anuraga, o amor e ritmo da música, que representa todas as emoções e sentimentos expressos em palavras ou música.
Historiadores acreditam que a Sitar originou-se da Veena, um instrumento de cordas muito popular na Índia antiga, tocada pela deusa indiana da música e da aprendizagem, Sarasvati. Ao norte da Índia, a Veena é considerada uma Cítara, porém tecnicamente, Cítara e Sitar são de famílias diferentes. A Deusa tocando Sitar significa harmonia de todas as sequências mentais, ações e atitudes.
Ainda que retratada de diferentes maneiras, a imagem dessa deusa é sempre associada à cor branca, a começar por sua pele, alva como leite, expressando a pureza do verdadeiro conhecimento, a beleza da lua cheia, conhecimento, refinamento, memória e inteligência. A deusa adornada em traje branco radiante significa caráter impecável e mente imaculada. Seus símbolos são um cisne, indicativo da curiosidade e da habilidade para discriminar as ações que são boas e sábias das que não o são, e geralmente é apresentada sobre uma flor de lótus, que indica sua transcendência e  experiência na verdade absoluta. Assim, Sarasvati não só tem o conhecimento, mas também a experiência da realidade mais elevada. Ocasionalmente, no entanto, ela também está associada à cor amarela, a cor das flores da planta da mostarda que floresce no momento da sua festa na primavera. 
Sarasvati também é o nome de um rio extinto da Índia, do vale do rio Indo, onde se desenvolveu a civilização Sarasvati-Sindhu, por volta de 3000 a.C.. O rio foi redescoberto por satélite no fim do século XX. Essa deusa era homenageada no chamado dia de Savitu-Vrata, comemorado na Índia em 16 de maio e dedicado à deusa Savitri, uma das oito mães divinas, considerada a Mãe Ancestral dos hindus. A Energia Primordial (Adi Shakti) tem duas correntes, a espiritual e a material. A energia espiritual é chamada Gayatri, um dos aspectos da deusa Sarasvati, enquanto a energia material é chamada Savitri. De acordo com o mito, relatado pela escritora Mirella Faur, Savitri foi fecundada pelo deus Brahma e sua gestação durou um século. De seu ventre nasceram a música, a poesia, os anos, os meses, os dias, as quatro eras da criação e a própria morte.
No sentido mundano, Sarasvati é a Deusa da Educação. Em várias instituições educacionais, o Vasant Panchmi (calendário indiano) é comemorado como aniversário de Sarasvati, adorada por ensinar à humanidade a importância da educação e do avanço do intelecto. Diz a lenda que Sarasvati era rival de Lakshimi, a deusa da riqueza. “Assim, uma pessoa não podia ser abençoada pelas duas deusas, ou seja, não podia ter o talento e também a prosperidade”, conta Mirella Faur. Ao contrário da deusa Lakshimi, Sarasvati é adornada com ouro e joias simples, representando a sua preferência pelo conhecimento e não pelas coisas materiais do mundo. 
Os sábios orientais, antes de começar qualquer leitura, sempre invocam o nome de Sarasvati para que ela conceda a perspicácia e o discernimento necessários para o aprendizado, pois dizem que a chave para os planos superiores é o conhecimento. Diz a lenda que as pessoas que buscam sabedoria devem orar para Sarasvati.
A importância de um intelecto aguçado e puro deve ser transmitida aos outros. Deve-se também dar importância a ganhar riqueza eticamente e a obter conforto material. O poder de Sarasvati nos ajuda a alcançar tanto as alegrias materiais quanto o progresso espiritual, a amadurecer a nossa capacidade intelectual e a tornar a mente mais focada, superarando a turbulência mental. Adorar e meditar com a Deusa Sarasvati é útil para induzir entusiasmo por estudos intelectuais e para desenvolver o estudo da alma ou autorreflexão. Orações para Sarasvati trazem inspiração artística, porque ela é o esclarecimento, a sabedoria da mente cósmica, a deusa da beleza em criação. O brilho dela representa a luz poderosa e pura da sabedoria, capaz de destruir a escuridão da ignorância.
Mirella Faur nos aconselha que, ao homenagear a deusa Sarasvati, devemos invocar seus dons de expressão fluente e criativa para o nosso trabalho, e recomenda limpar a escrivaninha e o computador, passando um incenso de sândalo sobre eles. Coloque ao lado flores, uma vela amarela e uma imagem da deusa ou, então, escreva com tinta dourada seu nome, ensina. “Entoe o mantra OM e visualize essa linda deusa irradiando sua luz dourada sobre você e seu local de trabalho. Peça-lhe inspiração, conhecimento, criatividade e sucesso para os seus projetos”.
Peçamos, sobretudo, a sabedoria de Sarasvati para a nossa melhor inspiração, as respostas mais acertadas aos nossos questionamentos e as decisões mais corretas para o nosso caminho. Vamos pedir à deusa de todas as artes criativas que nos favoreça com os dons necessários a fazer da vida um aprendizado com as nuances de beleza da poesia, da prosa e da música. Que Sarasvati toque a nossa alma com delicadeza e nos faça mais sensíveis e com a vida exalando amor, beleza e sabedoria.



Qualidades: o sentido da beleza, a facilidade de expressão, inspiração, eloquência, poesia, música, receptividade, fluidez, harmonia.
Dificuldades psicológicas: dificuldades de se expressar, opor resistência às mudanças, sarcasmo, desarmonia interior.
Sintonia: artes, música, poesia, incenso, o alaúde, as flores, os frutos, as folhas de palmeira, o lótus, as pérolas, as penas de pavão, os cisnes, os rios, a cor azul.
Invocação: “Graciosa Sarasvati, envolvei-me com os sons suaves da sua melodia, levai-me junto nas asas do seu cisne encantado, envolvei-me com a luz misteriosa da lua brilhando nos seus cabelos, ensinai-me a escrever certo o livro da minha vida”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário