Vera Pinheiro
Sarasvati é uma jovem conhecida por sua refulgente
beleza, deusa hindu da sabedoria universal, das artes e da música, e a shákti,
que na religião e
mitologia indianos significa, ao mesmo
tempo, “poder de um deus” e
“esposa”, de Brahma, o deus da criação universal.
Chamado de “O Avô dos Mundos”, Brahma é a primeira pessoa da trindade hindu,
descrita com quatro faces e testemunha da totalidade dos universos criados. É o
deus da sabedoria, o portador do Vedas e o cônjuge de Sarasvati, deusa adorada
pelos povos da Índia, Tibete, China e Japão.
Mãe
dos principais sábios, de ascetas (pessoas que desdenham os prazeres da vida e renunciam às coisas
terrenas) e de vários deuses do universo, Sarasvati é a protetora
dos artesãos, pintores, músicos, atores, escritores e
artistas em geral. Ela também protege aqueles que buscam conhecimento, os
estudantes, os professores, e tudo o que está relacionado à eloquência, às
artes, à literatura, sendo ainda invocada para fertilidade, procriação e purificação.
Ela é o arquétipo da criatividade humana.
Sarasvati é a “Mãe da Palavra Escrita” que trouxe os caracteres do
alfabeto Devanagari para a civilização sânscrita. Ela
preside as artes, a música e a poesia, protege os nascimentos e as mulheres, e
é a senhora do conhecimento, da fertilidade e da prosperidade. Venerada como
uma deusa dos rios, ela tem o dom da eloquência e as palavras dela fluem fácil
e suavemente.
No hinduísmo, Sarasvati representa a
consciência, a inteligência, o conhecimento cósmico, a criatividade, a educação,
a iluminação, as artes, a eloquência e o poder. Hindus adoram essa deusa
não só para “conhecimento acadêmico”, mas para “conhecimento divino”, essencial
para alcançar o “Moksha” que, em termos gerais, significa a
libertação do ciclo do renascimento e da morte, e a iluminação espiritual.
O nome dessa deusa vem de Sarasvati Saras (que
significa “fluxo”) e Wati (que significa “aquela que tem o
fluxo”. Então, Sarasvati é símbolo do conhecimento. Seu fluxo (ou crescimento)
é como um rio, e o conhecimento é extremamente sedutor, como uma mulher bonita.
Além do nome de Sarasvati, ela também é conhecida como Sarasvati, Gayatri,
Brahmani, Bharati, Vac, Vagdevi, Vagisvari, Vani, Vaani, VidhatrI, Veenapani, Sarad, Veenapani, Sharade, Sharadha,
Sharadamba, Pustaka Veena Dharini, Vaakdevi, Varadhanayagi, Vidyadayini, Kalaimagal,
Kalaivaani e por muitos outros nomes.
Sarasvati
é conhecida como uma deidade guardiã do Budismo, que defende os ensinamentos de
Gautama Buda, oferecendo proteção e assistência aos praticantes. Buda foi um príncipe
de uma região ao Sul do atual Nepal, que
renunciou ao trono e se dedicou à busca da erradicação das causas do sofrimento
humano e de todos os seres, e desta forma encontrou
um caminho até o “despertar” ou a “iluminação”, tornando-se um mestre
espiritual, fundador do Budismo.
Deusa da aprendizagem e da fala, Sarasvati
é representada com quatro braços, que representam os quatro aspectos da
personalidade humana no aprendizado: mente, intelecto, alerta e
ego. Alternativamente, estes quatro braços representam também os quatro
Vedas, os livros sagrados para os hindus primários. Vedas, por sua vez,
representam as três formas de literatura: Poesia, o Rigveda contendo hinos, representando a
poesia; Prosa, Yajurveda contendo prosa, e Música, Samaveda representando a música.
As quatro mãos descrevem-se assim
também: a prosa é representada pelo livro na mão; a poesia, pela coroa de
cristal e a música, pela Veena. O pote de água sagrada, com que às vezes é
representada, significa os poderes criativos e a pureza da arte ou o seu poder
de purificar o pensamento humano. Para outros estudiosos, as quatro mãos representam
as quatro cabeças de Brahma.
Nas
mãos do lado direito, ela segura um broto de lótus e um rosário. Nas mãos do
lado esquerdo ela traz o Livro dos Vedas, com o conteúdo do conhecimento
universal, divino, eterno e verdadeiro bem, como a perfeição das ciências e das
escrituras. Em outras descrições, Sarasvati aparece também com um pavão,
simbolizando beleza, harmonia e perfeição, mas também a arrogância e
o orgulho por sua beleza. Por
ter um pavão em sua representação, Sarasvati ensina a não se preocupar com
a aparência externa e a ter sabedoria em relação à verdade eterna. É
apresentada, ainda, sentada em um cisne, em um leão ou em um lótus que, como
fundação, representa a consciência pura e a busca da luz do conhecimento.
O
cisne é muitas vezes apresentado próximo aos pés dessa deusa. Dizem que se
for oferecida uma mistura de leite e água para essa ave sagrada, ela é capaz de
beber apenas o leite, simbolizando, assim, a capacidade de discriminar o bem e
o mal, o eterno e o efêmero. Devido à sua associação com essa ave,
Sarasvati é também referida como Hamsavahini, o que significa “aquela que tem
um hamsa (proteção) como seu veículo”. Ela é geralmente representada perto de
um rio, que pode estar relacionado à sua história inicial como uma deusa do
rio.
Pode ser vista portando uma Rudraksha
de diamantes e segurando os livros Védicos. Rudraksha é o
nome dado a uma terapia na cultura hindu, existente há vários séculos e
considerada sagrada e milagrosa. Seu nome vem das sementes oriundas da árvore
da espécie Elaeocarpus ganitrus, encontrada na Índia, no Nepal, no Tibete, na
Indonésia e na Malásia.
Segura uma seta, uma
concha, uma Sitar ou Veena, instrumento musical indiano de cordas, que é uma expressão
da sabedoria que cria harmonia no mundo e a representação da perfeição de todas
as artes e ciências. Sarasvati é também associada com anuraga, o amor e ritmo da música, que representa
todas as emoções e sentimentos expressos em palavras ou música.
Historiadores
acreditam que a Sitar originou-se da Veena, um instrumento de cordas muito
popular na Índia antiga, tocada pela deusa indiana da música e da aprendizagem,
Sarasvati. Ao norte da Índia, a Veena é considerada uma Cítara, porém tecnicamente, Cítara e
Sitar são de famílias diferentes. A Deusa
tocando Sitar significa harmonia de todas as sequências mentais, ações e
atitudes.
Ainda
que retratada de diferentes maneiras, a imagem dessa deusa é sempre associada à
cor branca, a começar por sua pele, alva como leite, expressando a pureza do
verdadeiro conhecimento, a beleza da lua cheia, conhecimento, refinamento,
memória e inteligência. A deusa adornada em traje branco radiante significa
caráter impecável e mente imaculada. Seus
símbolos são um cisne, indicativo da curiosidade
e da habilidade para discriminar as ações que são boas e sábias das que não o
são, e geralmente é apresentada sobre uma flor de lótus, que indica sua
transcendência e experiência na verdade
absoluta. Assim, Sarasvati não só tem o conhecimento, mas também a
experiência da realidade mais elevada. Ocasionalmente, no entanto, ela também
está associada à cor amarela, a cor das flores da planta da mostarda que floresce no momento da sua festa
na primavera.
Sarasvati também é o nome de um rio extinto da Índia, do
vale do rio Indo, onde se desenvolveu a civilização Sarasvati-Sindhu, por volta
de 3000 a.C.. O rio foi redescoberto por satélite no fim do século XX. Essa
deusa era homenageada no chamado dia de Savitu-Vrata, comemorado na Índia em 16
de maio e dedicado à deusa Savitri, uma das oito mães divinas, considerada a
Mãe Ancestral dos hindus. A Energia Primordial (Adi Shakti) tem duas
correntes, a espiritual e a material. A energia espiritual é chamada Gayatri, um dos aspectos da deusa Sarasvati, enquanto
a energia material é chamada Savitri. De acordo com o mito, relatado pela
escritora Mirella Faur, Savitri foi fecundada pelo
deus Brahma e sua gestação durou um século. De seu ventre nasceram a música, a
poesia, os anos, os meses, os dias, as quatro eras da criação e a própria
morte.
No sentido
mundano, Sarasvati é a Deusa da Educação. Em várias instituições educacionais,
o Vasant Panchmi (calendário indiano) é comemorado como aniversário de Sarasvati,
adorada por ensinar à humanidade a importância da educação e do avanço do
intelecto. Diz a lenda que Sarasvati era rival de Lakshimi, a deusa da riqueza.
“Assim, uma pessoa não podia ser abençoada pelas duas deusas, ou seja, não
podia ter o talento e também a prosperidade”, conta Mirella Faur. Ao
contrário da deusa Lakshimi, Sarasvati é
adornada com ouro e joias simples, representando a sua preferência pelo
conhecimento e não pelas coisas materiais do mundo.
Os sábios orientais, antes de começar
qualquer leitura, sempre invocam o nome de Sarasvati para que ela conceda a
perspicácia e o discernimento necessários para o aprendizado, pois dizem que a
chave para os planos superiores é o conhecimento. Diz a lenda que as pessoas
que buscam sabedoria devem orar para Sarasvati.
A importância de um intelecto aguçado
e puro deve ser transmitida aos outros. Deve-se também dar importância a ganhar
riqueza eticamente e a obter conforto material. O poder de Sarasvati nos ajuda
a alcançar tanto as alegrias materiais quanto o progresso espiritual, a
amadurecer a nossa capacidade intelectual e a tornar a mente mais focada,
superarando a turbulência mental. Adorar e meditar com a Deusa Sarasvati é útil
para induzir entusiasmo por estudos intelectuais e para desenvolver o estudo da
alma ou autorreflexão. Orações para Sarasvati trazem inspiração artística,
porque ela é o esclarecimento, a sabedoria da mente cósmica, a deusa da beleza
em criação. O brilho dela representa a luz poderosa e pura da sabedoria, capaz
de destruir a escuridão da ignorância.
Mirella Faur nos aconselha que, ao homenagear a deusa
Sarasvati, devemos invocar seus dons de expressão fluente e criativa para o
nosso trabalho, e recomenda limpar a escrivaninha e o computador, passando um
incenso de sândalo sobre eles. Coloque ao lado flores, uma vela amarela e uma
imagem da deusa ou, então, escreva com tinta dourada seu nome, ensina. “Entoe o
mantra OM e visualize essa linda deusa irradiando sua luz dourada sobre você e
seu local de trabalho. Peça-lhe inspiração, conhecimento, criatividade e
sucesso para os seus projetos”.
Peçamos, sobretudo, a sabedoria de Sarasvati para a nossa
melhor inspiração, as respostas mais acertadas aos nossos questionamentos e as
decisões mais corretas para o nosso caminho. Vamos pedir à deusa de todas as
artes criativas que nos favoreça com os dons necessários a fazer da vida um
aprendizado com as nuances de beleza da poesia, da prosa e da música. Que
Sarasvati toque a nossa alma com delicadeza e nos faça mais sensíveis e com a
vida exalando amor, beleza e sabedoria.
Qualidades: o sentido da
beleza, a facilidade de expressão, inspiração, eloquência, poesia, música,
receptividade, fluidez, harmonia.
Dificuldades psicológicas:
dificuldades de se expressar, opor resistência às mudanças, sarcasmo,
desarmonia interior.
Sintonia: artes, música,
poesia, incenso, o alaúde, as flores, os frutos, as folhas de palmeira, o
lótus, as pérolas, as penas de pavão, os cisnes, os rios, a cor azul.
Invocação: “Graciosa
Sarasvati, envolvei-me com os sons suaves da sua melodia, levai-me junto nas
asas do seu cisne encantado, envolvei-me com a luz misteriosa da lua brilhando
nos seus cabelos, ensinai-me a escrever certo o livro da minha vida”.
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