"Mãe de Hélios, Grande Thea,
deusa de tantos nomes,
graças a Ti os homens atribuem ao
ouro
um poder acima dos outros metais.
Senhora, impeça com a Tua força de luz
os combates dos navios e das
carruagens,
que se enfrentam como rivais
para receberem o cobiçado troféu
da glória dourada..."
- Pindar, Ode à Thea, século 5 a.C.
Vera Pinheiro
Simplesmente
Thea, a Deusa. Assim ficou conhecido o nome da deusa pré-helénica da luz, mãe
dos luminares e da aurora. Apesar da sua importância arcaica, nada ficou
registrado sobre seu culto ou mito. Assim como outras antigas deusas gregas,
Ela foi substituída pelas divindades dos invasores indo-europeus, permanecendo
oculta nas brumas dos tempos.
Sabe-se
apenas que Thea fazia parte da raça antiga dos Titãs, sendo filha de Urano, o
deus celeste, e Gaia, a Mãe Terra, irmã de Anfititre (ou Tetis), Dione, Fibe,
Mnemosine, Rhea e Têmis. Reverenciada como Senhora da Luz – Aetra ou Thea –,
regente do céu claro, do éter (aithre) e da luz dos olhos (thea), era também
honrada como Eurifessa, “a toda resplandecente”, regente do brilho do ouro, da
prata e das pedras preciosas.
Da
sua união com Hyperion, o deus da luz, nasceram três filhos luminosos: Hélios,
o Sol; Selene, a Lua, e Eos, a aurora.
Reverenciada
como Ichnaea, “Aquela que descobria” ou Theia, “Mãe da inspiração divina”
(theiazô significava divinação ou profecia), Thea tinha um templo oracular em
Tessália, assim como suas irmãs, também deusas oraculares, tinham os seus:
Phoebe em Delphi, Mnemosine em Lebadeia, Dione em Dodona e Têmis desfrutando de
todos estes altares.
E
como podemos trazer a luminosidade da Deusa Thea para as nossas vidas? De que
modo Ela pode orientar o caminho sagrado das mulheres, quer sejam ou não
sacerdotisas iniciadas? Como desfrutar de toda a sua resplandecência?
A
primeira condição para fazer cintilar o feminino é reconhecer que o simples
fato de ser mulher é algo tão belo quanto sagrado, e isso merece ser
reverenciado por si mesma, antes de esperar que os outros o façam. É construir
uma autoconfiança que dispense elogios alheios, embora os aprecie. É não viver
na dependência de opiniões favoráveis sobre si, e saber conviver com as divergências,
sem querer ser consenso, unanimidade.
Uma
mulher consciente de seu poder brilha naturalmente, é como o Sol, a Lua, a
Aurora, que mostram sua luminosidade independentemente de quem se extasia
diante de sua beleza, ou não. Brilham no que são e por serem o que são, e assim
também aquelas mulheres que sabem quem são, com identidade própria, que não são
pedintes da aprovação dos outros. Elas mesmas reconhecem seu valor, seu poder
feminino, a graça de ser mulher.
A
mulher que brilha exala a divindade feminina que a habita. Tem o fulgor das
pedras preciosas, a graciosidade das brisas suaves, o fascínio que as águas
despertam, o magnetismo tão atraente do fogo. Ela é a quinta essência e toda a
força dos quatro elementos. Tem uma fé em si com a mesma intensidade com que
crê na Deusa Mãe. Exerce a sua totalidade com convicção e sem titubeios. E
mesmo quando tem dúvidas não perde o esplendor nem a vivacidade. Ela é também
as suas incertezas e convive bem com isso.
Thea
ficou oculta nas brumas dos tempos e a mulher que a resplandece vivencia seus
mistérios e os guarda. É um tanto enigmática, um pouco indecifrável, o
misterioso transitando com o místico.
Suscita questionamentos, mas não se sente obrigada a responder nem a
explicar. Tem enorme capacidade de se importar pouco com o que não importa e de
desvelar com o que realmente interessa. Não estimula confrontos, rivalidades,
disputas. Conhece o próprio espaço e sabe merecê-lo. Age com justiça e
equilíbrio e tece a vida com entusiasmo e alegria.
Para
atrair a resplandecência divinal de Thea, a luminosa, é preciso cultivar a
gratidão. Agradecer traz um desvanecimento que faz a alma sorrir. E uma alma
feliz resplandece! Sejamos gratas por tudo o que vivenciamos, mesmo por aquilo
que está sob a aparência de desafios intransponíveis. É preciso amar para
resplandecer a luz. O amor é um sentimento curador que vibra emoções positivas
e felizes. Amemos, pois, cada vez mais, todos os seres do universo, e
especialmente o que se reflete em nosso espelho, mesmo com cabelos desgrenhados
e olhos inchados de chorar desilusões e desenganos.
A
mulher que brilha acende luzes nos caminhos em que os outros passam. Pelo sorriso, afasta o mau humor, provoca
simpatia, cria empatia, identificação instantânea e sem protocolo. A sua
luminar presença transforma ambientes e torna tudo melhor do que estava, antes
de ela chegar. Tem ânsia de aprendizado, desejo de sabedoria e arquejo de
conhecimento. Pratica o que aprende, exercita o que conhece, executa os
projetos e os aperfeiçoa com a experiência. Faz a vida com prazer. Desfruta a
existência em êxtase. É feliz por existir, isso basta. E brilha, resplandece,
fulgura e reluz. De bem com a vida e por ser quem é. Simplesmente mulher. Uma
deusa mulher.
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