segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Deusa Ops traz abundância
Vera Pinheiro

            Ops era uma deusa romana da Terra, da fertilidade e da prosperidade, protetora da agricultura e dos recém-nascidos e esposa de Saturno, o Deus invocado no plantio das sementes. Como Ops Consiva,  “A Senhora que Planta”, era reverenciada nos plantios e nas colheitas. Em seu aspecto de Opífera, era padroeira dos partos e protetora dos recém-nascidos. Considerada um dos aspectos da Magna Mater, era também conhecida como a deusa Patella “a que abria o invólucro das sementes para que o broto pudesse sair” e a deusa Runcina, “a que facilitava o corte das hastes na colheita”. Deusa pré-helênica muito antiga, foi equiparada posteriormente à Rhea, a deusa grega da Terra, honrada com oferenda de flores, vegetais, cereais e frutas.
            Em 17 de dezembro iniciava a Saturnália, 12  dias de festejos dedicados aos deuses romanos da agricultura Saturno e Ops. Esse festival era marcado por extrema liberalidade e licenciosidade, com orgias, fantasias com máscaras, peças burlescas e troca de presentes entre amigos. Por ser um tempo de transição entre a morte do velho ano e o nascimento do novo, havia um período de caos e abolição de regras e leis. Donos e escravos trocavam de lugares, os prisioneiros eram libertados e os julgamentos eram suspensos. As crianças recebiam presentes e tinham várias regalias. A 19 de dezembro, a festa de Opália, em Roma, celebra o aspecto de fertilidade da Deusa Ops, descreve Mirella Faur no livro “O Anuário da Grande Mãe” (editora Gaia).
            E antes que alguém se lembre de associar a deusa Ops com a interjeição “Oops”, que em inglês equivale a “opa”, a palavra latina ops significa “riquezas, bens, abundância, presentes, generosidade, fartura. A palavra está relacionada também com opus, que significa “trabalho, particularmente no sentido detrabalhar a terra, arar e semeá-la. Esta atividade foi considerada sagrada, e muitas vezes era realizada a partir de rituais religiosos destinados a obter a boa vontade das divindades ctônicas  como Ops. A palavra ops também está relacionada com a palavra sânscrita ápnas, que significa “bens, propriedade”.
            Ops era uma deusa ctônica, ou telúrica, o que em mitologia, e particularmente na grega, significa “relativo à terra”, “terreno” e designa ou refere-se aos deuses ou espíritos do mundo subterrâneo, por oposição às divindades olímpicas. Ops fazia crescer a vegetação. Como o seu domicílio estava dentro da terra, a deusa era invocada pelos seus seguidores sentados, com as mãos tocando o solo, honrando, assim, a terra, doadora de todas as riquezas.
            Ops, a deusa mãe, também era considerada a Grande Mãe dos Deuses e a Grande Deusa. Segundo a tradição romana, o culto a Ops foi instituído por Tito Tácio, um dos reis sabinos de Roma. Os Sabinos habitavam as colinas próximas a Roma, no Lácio, a oeste dos Apeninos. Atualmente a área chamada Sabina constitui uma sub-região do Lácio, a leste de Roma. Ops logo tornou-se a padroeira da riqueza, abundância e prosperidade e teve um famoso templo no capitólio. Ela também adquiriu status de rainha e tinha a reputação de ser uma deusa eminente. Por decreto, todos os templos públicos, sacerdotes e sacrifícios deveriam ser concedidos a ela.
            Essa deusa romana das colheitas, prosperidade e fertilidade não é estritamente ligada à agricultura, à vida no campo, ao trabalho na terra. Mesmo sendo uma deidade da colheita agrícola, Ops abrange as noções mais amplas da abundância. A Ela podemos, então, entregar os pedidos de boa sorte, sucesso e fortuna para as nossas vidas, estabelecendo também uma relação de gratidão pelas oportunidades de colheita farta que nos proporciona.
            Ops nos sugere, ainda, uma avaliação da semeadura que fazemos todos os dias, do cuidado com aquilo que semeamos para evitar queixas futuras a respeito do que colhemos, e da necessidade de paciência para a maturação dos frutos. No solo da Deusa, tudo o que for semeado será colhido. Todos os plantios são favoráveis, prosperam todas as sementes. Não há que se reclamar do que se colhe, mas, antes, escolher bem o que se põe hoje no caminho futuro. Não há, também, que se comparar o próprio farnel com o que é do alheio. Não se compara esforço individual, pois, para uns é maior, para outros mais fácil. Importa observar que cada um(a) recolhe para si o que espalhou, essa é a ordem universal.
            Preparar a terra é fundamental à boa colheita. Vamos avaliar o estado do zelo conosco em todos os nossos corpos: físico, mental, emocional, energético e espiritual. Se um deles está em desarmonia, não haverá o necessário equilíbrio para que a vida nos entregue o seu melhor. Não há semente boa para solo fraco. Portanto, é preciso ajudar a Deusa Ops a favorecer nossas colheitas. Cuidemo-nos bem para podermos desfrutar toda a generosidade da Grande Mãe. Deusa dos grãos, Ops traz a força da natureza, a abundância das colheitas. “Conecte-se à energia da terra, caminhando descalça, abraçando uma árvore, honrando seus irmãos de criação ou ofertando algum produto da terra à deusa”. Essa sugestão de Mirella Faur em seu livro é um ritual a ser inserido no cotidiano, de modo que a terra seja reverenciada constantemente.
            Por fim, cabe avaliar a contribuição de cada um(a) para o bem da Terra. Como tem sido a nossa relação com a mais gentil doadora? Discutamos as questões do planeta, mas pensemos o nosso comportamento no espaço que habitamos, na rua em que moramos, no bairro, na cidade, no estado, no país. De menor a maior, façamos a nossa parte de amor para que a terra não sofra com o nosso descuido e desatenção, que agridem tanto quanto quem diretamente a prejudica. Não sejamos indiferentes à dor da Terra, porque somos integrados a ela do mesmo modo que fazemos parte de uma só teia no universo divino.
            Em parceria com  a Deusa Ops, vamos cuidar da semente preciosa que cada um(a) de nós é no solo fértil da vida, para que a prosperidade material e a abundância espiritual sejam mais do que desejos, sejam a realidade que precisamos, queremos e merecemos.



Nenhum comentário:

Postar um comentário