Deusa Ops traz abundância
Vera Pinheiro
Ops
era uma deusa romana da Terra, da fertilidade e da prosperidade, protetora da agricultura
e dos recém-nascidos e esposa de Saturno, o Deus invocado no plantio das
sementes. Como Ops Consiva, “A Senhora
que Planta”, era reverenciada nos plantios e nas colheitas. Em seu aspecto de
Opífera, era padroeira dos partos e protetora dos recém-nascidos. Considerada
um dos aspectos da Magna Mater, era também conhecida como a deusa Patella “a
que abria o invólucro das sementes para que o broto pudesse sair” e a deusa
Runcina, “a que facilitava o corte das hastes na colheita”. Deusa pré-helênica
muito antiga, foi equiparada posteriormente à Rhea, a deusa grega da Terra,
honrada com oferenda de flores, vegetais, cereais e frutas.
Em 17
de dezembro iniciava a Saturnália, 12
dias de festejos dedicados aos deuses romanos da agricultura Saturno e
Ops. Esse festival era marcado por extrema liberalidade e licenciosidade, com
orgias, fantasias com máscaras, peças burlescas e troca de presentes entre
amigos. Por ser um tempo de transição entre a morte do velho ano e o nascimento
do novo, havia um período de caos e abolição de regras e leis. Donos e escravos
trocavam de lugares, os prisioneiros eram libertados e os julgamentos eram suspensos.
As crianças recebiam presentes e tinham várias regalias. A 19 de dezembro, a
festa de Opália, em Roma, celebra o aspecto de fertilidade da Deusa Ops,
descreve Mirella Faur no livro “O Anuário da Grande Mãe” (editora Gaia).
E antes que alguém se lembre de associar a deusa Ops com a interjeição
“Oops”, que em inglês equivale a “opa”, a palavra latina ops significa “riquezas, bens,
abundância, presentes, generosidade, fartura”. A palavra
está relacionada também com opus, que significa “trabalho”, particularmente no sentido de “trabalhar a
terra, arar e semeá-la”. Esta atividade foi considerada
sagrada, e muitas vezes era realizada a partir de rituais religiosos destinados
a obter a boa vontade das divindades ctônicas como Ops. A palavra ops também está
relacionada com a palavra sânscrita ápnas, que significa “bens,
propriedade”.
Ops
era uma deusa ctônica, ou telúrica, o que em mitologia, e particularmente na grega, significa “relativo à terra”, “terreno” e
designa ou refere-se aos deuses ou espíritos do mundo subterrâneo, por oposição
às divindades olímpicas. Ops fazia crescer a vegetação.
Como o seu domicílio estava dentro da terra, a deusa era invocada pelos seus
seguidores sentados, com as mãos tocando o solo, honrando, assim, a terra,
doadora de todas as riquezas.
Ops,
a deusa mãe, também era considerada a Grande Mãe dos Deuses e a Grande Deusa. Segundo a
tradição romana, o culto a Ops foi instituído por Tito Tácio, um dos reis
sabinos de Roma. Os Sabinos habitavam as colinas próximas a Roma, no
Lácio, a oeste dos Apeninos. Atualmente a área chamada Sabina constitui uma
sub-região do Lácio, a leste de Roma. Ops logo tornou-se a padroeira da riqueza, abundância e
prosperidade e teve um famoso templo no capitólio. Ela também adquiriu status
de rainha e tinha a reputação de ser uma deusa eminente. Por decreto, todos os
templos públicos, sacerdotes e sacrifícios deveriam ser concedidos a ela.
Essa deusa romana das colheitas, prosperidade e fertilidade não é
estritamente ligada à agricultura, à vida no campo, ao trabalho na terra. Mesmo
sendo uma deidade da colheita agrícola, Ops abrange as noções mais amplas da
abundância. A Ela podemos, então, entregar os pedidos de boa sorte,
sucesso e fortuna para as nossas vidas, estabelecendo também uma
relação de gratidão pelas oportunidades de colheita farta que nos proporciona.
Ops nos sugere, ainda,
uma avaliação da semeadura que fazemos todos os dias, do cuidado com aquilo que
semeamos para evitar queixas futuras a respeito do que colhemos, e da necessidade
de paciência para a maturação dos frutos. No solo da Deusa, tudo o que for
semeado será colhido. Todos os plantios são favoráveis, prosperam todas as
sementes. Não há que se reclamar do que se colhe, mas, antes, escolher bem o
que se põe hoje no caminho futuro. Não há, também, que se comparar o próprio
farnel com o que é do alheio. Não se compara esforço individual, pois, para uns
é maior, para outros mais fácil. Importa observar que cada um(a) recolhe para
si o que espalhou, essa é a ordem universal.
Preparar a terra é
fundamental à boa colheita. Vamos avaliar o estado do zelo conosco em todos os
nossos corpos: físico, mental, emocional, energético e espiritual. Se um deles
está em desarmonia, não haverá o necessário equilíbrio para que a vida nos
entregue o seu melhor. Não há semente boa para solo fraco. Portanto, é preciso ajudar
a Deusa Ops a favorecer nossas colheitas. Cuidemo-nos bem para podermos
desfrutar toda a generosidade da Grande Mãe. Deusa dos
grãos, Ops traz a força da natureza, a abundância das colheitas. “Conecte-se à
energia da terra, caminhando descalça, abraçando uma árvore, honrando seus
irmãos de criação ou ofertando algum produto da terra à deusa”. Essa sugestão
de Mirella Faur em seu livro é um ritual a ser inserido no cotidiano, de modo
que a terra seja reverenciada constantemente.
Por fim, cabe avaliar a
contribuição de cada um(a) para o bem da Terra. Como tem sido a nossa relação
com a mais gentil doadora? Discutamos as questões do planeta, mas pensemos o
nosso comportamento no espaço que habitamos, na rua em que moramos, no bairro,
na cidade, no estado, no país. De menor a maior, façamos a nossa parte de amor
para que a terra não sofra com o nosso descuido e desatenção, que agridem tanto
quanto quem diretamente a prejudica. Não sejamos indiferentes à dor da Terra,
porque somos integrados a ela do mesmo modo que fazemos parte de uma só teia no
universo divino.
Em parceria com a Deusa Ops, vamos cuidar da semente preciosa
que cada um(a) de nós é no solo fértil da vida, para que a prosperidade
material e a abundância espiritual sejam mais do que desejos, sejam a realidade
que precisamos, queremos e merecemos.
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