Vera Pinheiro
Quando, senão no escuro, vemos a luz brilhar mais intensamente? Por
isso, temer a escuridão é construir uma limitação à amplitude da luz, e a deusa
Hécate é profundamente inspiradora neste aspecto. Ao mergulharmos com Ela nos
mistérios de nosso subconsciente, nele acendemos a tocha que desvenda o que
antes era indevassável. Daí o medo que Hécate provoca em muitas mulheres, as
que estão trancafiadas em seus porões internos, sob as amarras de dores antigas
que não foram resolvidas, e escondidas no subterrâneo de sofrimentos emocionais
que não têm coragem de encarar, tampouco forças para fazê-lo.
Não
é, de fato, um caminho fácil de percorrer aquele que nos leva ao mais profundo
de nosso sagrado ser, que é feito de luz, sim, mas também de sombras, do oculto
e do revelado, do que está aparente e do que está submerso nas entranhas de nós
mesmas desde tempos imemoriais, carregando padecimentos femininos ancestrais
sem cura. Não é fácil entrar nas cavernas de nossa alma nem sempre serena, a
desvendar grutas e a revirar sentimentos e emoções que, guardados, não nos
aterrorizam, nem os outros. Mas é possível e necessário fazer isso e Hécate,
com sua tocha sagrada, ilumina a caminhada para a retirada do véu que abriga o
que não queremos expor por não sabermos lidar com isso, esse tanto que existe
no mundo intangível dentro de nós.
Hécate
nos ajuda a enfrentar os temores mais arraigados e a nos libertar de nossas
amarras interiores, e nos conduz à liberação de fatos, acontecimentos e pessoas
do passado, que ainda não passaram, e que devem ser pacificados para não mais
causar transtorno às nossas relações de toda ordem. Essa deusa poderosa entra
conosco nas intricadas grutas de nossa existência para que, em contato com a
escuridão, mais possa brilhar a nossa luz e, assim, descobrirmos os tesouros de
dons e dádivas que não supunhamos existir ou que julgávamos não merecer.
Essa
Deusa, que é doadora das riquezas e bênçãos cotidianas, faz a Sua tocha brilhar
em nossa trajetória, mas, antes, é preciso entrar em contato com a escuridão,
com o nosso subterrâneo particular, para então podermos desfrutar de toda a
fortuna que Hécate nos revela. E afortunados são os que ingressam nos túneis da
alma e dela votam em estado de refrigério. De mãos dadas com a Deusa, é ir e voltar
melhor do que sempre, para, depois de desvendados os mistérios interiores, abraçar
o oásis da existência. É um renascer compensador, que vale muito se encorajar a
fazê-lo.
Como
senhora do nascimento, vida, morte e renascimento, Hécate nos ensina a viver o
presente livre de condicionantes que limitam a magia do existir, desfazendo nós
que nos vinculam a tudo o que não nos traz felicidade. Assim, Ela nos encaminha
para a compreensão do que devemos deixar que feneça, e nos treina para o
desapego e para a confiança no Seu Poder Superior e no nosso também. O futuro,
desse modo, se desenha a nosso contento, e ainda melhor quando, invocando
Hécate, pedimos-lhe os atributos da visão, da inspiração, da criatividade, da
regeneração e todas as habilidades essencialmente femininas, dentre as quais a
intuição, a sabedoria, a magia e a cura.
Honrando
Hécate, não nos assustarão as encruzilhadas com que a nossa humanidade possa se
deparar. A nossa sacralidade vai nos orientar com segurança e, se no escuro
alguém estiver, a tocha sagrada de Hécate a tudo vai iluminar! Que assim seja e
assim se faça. Assim já é, desde sempre e por todo o tempo que o sempre possa
ser.
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