Vera Pinheiro
Ao contrário do que afirmam os românticos incorrigíveis, é possível ser feliz sozinho. Há quem duvide, tais como as pessoas que não sabem viver sem um par; as que acreditam piamente ser metade de alguém que é a sua outra parte; as que peregrinam de coração a coração em busca de sua alma gêmea, confiando que ela existe, e as que tornam os outros o centro de sua existência, abdicando de si para se dedicarem ao penoso esforço de fazer feliz a pessoa amada.
Existem mulheres que não conseguem se imaginar sem um homem ao lado, por isso, mal terminam um relacionamento já partem para nova investida amorosa, movidas pelo extremo otimismo de que a próxima tentativa vai dar certo. Se não der, elas sacodem as emoções, sorriem e logo estão beijando na boca de novo. Adeptas do jargão “a fila anda”, elas têm excelente capacidade de virar páginas e de soterrar histórias. Não raro, se metem em encrencas, pois no afã de conquistar companhia, passam por cima de qualidades humanas absolutamente essenciais. Apesar das decepções e por não gostarem de ficar sozinhas, fazem tudo para sustentar a relação e apenas situações-limite levam-nas à ruptura do vínculo, o que imediatamente as repõem na busca de outro alguém. Elas juram que a dor de um amor com outro amor se cura.
Outras mulheres pensam que a vida só faz sentido se encontram a sua cara-metade para compartirem sonhos, realizações, alegrias, contas a pagar e problemas cotidianos. Nessa divisão dual, falta a esse tipo de mulher a completude do ser em si mesmo e a inteireza que não está no outro, por mais que ele a faça sentir-se plena. Essas precisam de homens que construam e reforcem a sua autoestima, o que não é missão deles, mas delas como indivíduos que se valorizam. Tornam-se dependentes do afeto alheio e se desnutrem emocionalmente se abandonadas. Têm dificuldade de refazer-se sem ajuda masculina, pois a sensação de merecimento vem de fora, não é intrínseca. Passam seus dias à procura do idealizado, sofrem por não encontrarem o que procuram, não lidam bem com a realidade e colocam a felicidade como bem exequível somente ao lado de um homem. Essas se veem incompletas e inacabadas quando sozinhas.
Por não terem aprendido a vislumbrar a totalidade do seu ser, algumas mulheres não percebem que são constituídas de todas as suas partes e nada lhes falta, portanto não precisam esmolar carinho e atenção, tampouco amor. Porém, estão acostumadas à prática da mendicância afetiva e se humilham demasiadamente para não perder os homens, como se a permanência deles dependesse do quanto elas conseguem ser servis e submissas ao massacre de sua individualidade, e resignadas ao desrespeito.
As que sonham encontrar sua alma gêmea desperdiçam valiosos dessemelhantes que cruzam o seu caminho. São as iludidas do amor perfeito, as que acreditam em contos de fada com final feliz e na existência de príncipes encantados em cavalos brancos, jogando versos, promessas e flores na janela. Eles não existem, mas não é de se lamentar. Homens perfeitos são mais falsos que uma nota de 30 reais. No entanto, as sonhadoras irremediáveis contrariam os fatos e transformam todos os sapos que lhe pulam ao colo no homem de sua vida, aquele por quem derramarão mares de saudade quando ele se for ou ao se revelar absolutamente comum e cheio de defeitos como todos os mortais.
Enquanto atravessam a vida procurando alma que seja como a sua, espelho em que vê a própria imagem – o cúmulo da vaidade e da soberba – as mulheres querem um espécime masculino que reúna todas as virtudes e, além disso, tenha ótima formação, conta bancária recheada, que não recorra a cheque especial e pague em cartão de débito todas as necessidades e extravagâncias femininas, totalmente compreensíveis, claro. Cansadas dessa labuta, ficam com caras errados, mas bem intencionados, dizem elas.
Finalmente, há muitas mulheres que descobriram – e adoraram – o aprendizado da solidão cheia de prazeres. São as que administram a vida sem apresentar relatórios a ninguém, gastam o seu dinheiro e a sua energia consigo, elaboram planos de voo sem auxílio de co-piloto e se abastecem de seu sucesso individual, seguras de quem são, do que querem e sabendo aonde pretendem chegar. Sentem-se felizes e não condicionam o seu bem estar à presença ou à ausência masculina, que é acessório, não o principal. Sobretudo, estão focadas em seus quereres e não se rasgam em paparicos aos homens. Curiosamente, são as que mais os atraem. E a fila só aumenta. De mulheres assim e de quem as queira.
(*) Crônica publicada na edição de 5 e 6 de fevereiro de 2011 do jornal A Razão (www.arazao.com.br) de Santa Maria, RS.
Eu acho que o ditado popular "Antes só, do que mal acompanhado", ainda é a melhor opção para conviver com a solidão. Faço parte do rol de mulheres que depois do fim de um relacionamento, seria mais egoísta, teria mais cuidado com as escolhas e pensaria duas vezes em dividir, além da escova de dente, despesas e diversos outros ítens que vem no pacote.
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