sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Brincando de casinha

Vera Pinheiro

Eu me aborreço profundamente com pessoas que se metem na minha vida ou que se atrevem a avaliar o que sinto e que é tão profundamente meu, um sentimento que somente compartilho em toda extensão com quem priva da minha intimidade. É algo que também recheia os meus escritos, porque escrevo com emoção, sempre. Fico muito chateada, por exemplo, com quem quer me botar no tronco, a levar chibatadas de horários, cobranças, humores vacilantes e nada de vida pessoal. E com aquelas que acham que, por não trabalhar (hã?!), estou deprimindo. Bah!

Essas pessoas imaginam que não posso viver longe do trabalho, esquecendo-se que estou aposentada há três anos e ainda não tinha parado de trabalhar. Estou me dando a chance de ver se gosto de brincar de casinha, cuidar do que é meu, ter toda liberdade e tempo só para mim. Estou adorando tudo isso, que nunca experimentei. E é claro que estou brincando quando digo que só faço trabalhar em casa. Na realidade, estou aprendendo a administrar o meu tempo, tendo a mim como prioridade máxima. Se quero fazer, faço e com prazer. Se não quero, não preciso fazer e pronto, ninguém me cobra. Deito e dou uma bela descansadinha na rede ou na cama pelo tempo que quiser. Tem luxo maior que isso?

Tem, sim. O silêncio, a paz, o sossego. Fazer compras em supermercado à tarde, sem correria nem cansaço e filas. Almoçar com uma amiga maravilhosa – né, Adriana? – e jogar conversa fora por horas, sem se preocupar em voltar ao trabalho. Poder ir a uma consulta sem dar explicações ao chefe e sem enfrentar a desconfiança do colega que olha imediatamente para o relógio, quando chegamos. Olhar vitrinas e não comprar, só pelo prazer do passeio. Tomar banho quando sente calor, a qualquer hora do dia. Esvaziar a mente de preocupações. Relaxar. Orar. Preparar a própria refeição sabendo da higiene da cozinha. Cuidar da casa como o melhor lugar do mundo, e é! Chegar ao requinte de simplicidade de escolher um shortinho e uma regata como roupa do dia. Usar chinelos, andar descalça, maquiar-se apenas quando quer e usar salto por opção. Ver um filme à tarde. Ir à podóloga e ao cabeleireiro, tudo à tarde. Ir para um SPA, preparar-se com calma para mais uma iniciação na Religião da Deusa, ficar três dias no meio do mato sem precisar pedir licença a chefe e sem ter de arrumar tudo à noite,  porque de dia se trabalha.

Ah, nunca tive um vidão desses! Eu quero, posso e mereço esse momento! E se quiser, volto ao mercado. Se EU quiser. Esse também é um luxo, depois de quase 40 anos de trabalho, que não é coisa pouca! Ufa. Vou descansar, que só de pensar já cansei.

2 comentários:

  1. Florzinha,

    Concordo em gênero, número e grau com você.

    Curta todos os momentos da tua vida, pelos quais você pode se dar ao luxo de escolher o tempo qe desejar investir em cada coisa que fizer.

    Saudades!!!!

    ResponderExcluir
  2. Lindinha, vou nessa porque a vida paaaaassa! Saudade de ti também, querida. Vamos agendar um encontrão aqui! Beijos e carinho.

    ResponderExcluir