sábado, 12 de fevereiro de 2011

Dá um tempo! (*)

Vera Pinheiro

            Ah, dá um tempo! Dá um tempo para ti, de modo que aproveites melhor a tua vida, pois ninguém a viverá em teu lugar, assim como não podes desfrutar da vida alheia. Arruma espaço no teu cotidiano para que não trabalhes somente para os outros, esquecendo dos teus prazeres e vontades. Coloca-te em prioridade ao menos de vez em quando e te proporciona momentos felizes com mais frequência. Não adies férias, aproveita bem os feriados e dedica os fins de semana aos teus interesses. Não leves serviços para casa e evita usar as noites para um terceiro expediente, porque a casa não é a extensão do teu emprego. A menos que exista a opção Home Office e que a tenhas escolhido, fecha a porta atrás de ti e retoma as atividades no dia seguinte. Aprende a separar os compartimentos familiares e laborais, e estejas inteiramente em cada um em seus respectivos turnos, lembrando-te de incluir na agenda eventos de diversão também.

            Dá um tempo, vai! Não esperes soluções rápidas para os teus dramas emocionais. Respeita o ritmo de acomodação das dores, e elas precisam de tempo, que tudo ameniza. Não te angusties por falta de respostas imediatas para os problemas que enfrentas. Serena o teu espírito e o teu Eu Superior responderá, e para ouvi-lo precisas silenciar os gritos do coração e conter a ansiedade da mente. A cada dúvida corresponde um esclarecimento que a vida dá e que serve aos propósitos de aprendizado humano e elevação espiritual. Não te revoltes contra as dificuldades, elas ensinam muito a respeito da tua força e coragem, ainda mais do que podem te aperfeiçoar as experiências de contentamento.

           Dá um tempo para cada tarefa ser feita, e bem feita. A pressa não ajuda a resolver coisa alguma, a menos que precedida de um detalhado exame das circunstâncias, antes da execução. O que importa é que faças corretamente o que te foi dado a fazer. O atraso pode ser relevado, mas a ineficiência e o desleixo são imperdoáveis. Porém, faz de tudo para cumprir prazos, ainda que exíguos, se te comprometeste com alguém que está na cadeia produtiva e depende de ti. Dá o teu melhor esforço para honrar a confiança que depositaram na tua competência e dedicação e aprende a dizer um “não” antecipado, se pensas que não poderás fazer o que te pediram. Pede um tempo razoável, que seja bom e suficiente para realizar o solicitado e acrescenta as explicações necessárias, pois isso é melhor do que justificar uma entrega fora da data combinada.

“Quero dar um tempo”. Se a pessoa amada pedir isso, dá todo o tempo de que ela precisa para acertar sua vida amorosa. Dá-lhe logo a eternidade e parte para outra, que a vida passa e não deves desperdiçar o precioso tempo de felicidade com quem não te quer. Geralmente (e não quero fazer generalizações injustas) quem pede “um tempo” no relacionamento não consegue fazer rupturas definitivas e tem enorme habilidade de aprisionar os laços do coração do outro para impedi-lo de vivenciar sua liberdade com um novo par. Não quer, mas não larga o osso, como se diz. Isso atrapalha, e muito, quem, abandonado, pretende se recobrar da perda e continuar a vida. Não te deixes enganar, portanto. E não tenhas ilusões de um retorno que pode jamais acontecer.

Ora, dá um tempo! Não te aborreças com o que não vale a pena! Não te contamines com mau humor, pessimismo e baixo astral. Há quem seja inexplicavelmente talentoso para acabar com o prazer alheio. Se encontrares um desses especialistas em desmanchar alegrias, releva-o, mas escapa dele e de sua energia densa e predadora. Procura convívios que satisfaçam a tua alma, tanto no mercado de trabalho como no campo das relações de amizade, e especialmente no âmbito do amor em suas amplas manifestações. Não te impacientes com o que não podes mudar, segura o teu ímpeto de interferir no que não é da tua alçada e não sofras pelo que não te diz respeito direta nem indiretamente e que é exclusividade de outra pessoa, e a ela cabe tomar atitudes e providências. Não permitas que invadam a tua privacidade e alcancem todos os teus segredos, pois nunca saberás o que poderão fazer com isso. Não te irrites demasiadamente nem aceites passivamente o de que não gostas. O equilíbrio é a plenitude da sabedoria, que mostra quando agir, o que fazer, onde intervir e como proceder. É escolher a ocasião adequada, selecionar os meios e se municiar de determinação e fé na vitória dos intentos. É dizer com convicção: “Dá um tempo!”, virar as costas e seguir sorrindo estrada afora.
  (*) Crônica publicada na edição de 12 e 13 de fevereiro de 2011 do jornal A Razão (www.arazao.com.br) de Santa Maria, RS.

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