sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Amigas taradas

Vera Pinheiro

Amiga minha, mãe extremada de dois lindos homens na faixa dos 20 e poucos anos, anda muito incomodada com o súbito (mas explicável e compreensível) assédio das amigas em cima dos pimpolhos dela. Ao mesmo tempo, pessoa boníssima que é, se sente mal com essa desconfiança que passou a ter, de tempos para cá, em relação a mulheres que são suas amigas do coração e, até prova em contrário, fidelíssimas à amizade, o que significa dizer que, se algum interesse houvesse delas por eles, ela seria a primeira a saber. Afinal, sempre foi a primeira a saber dos amores, dos amantes, das brigas, dos casos e descasos das amigas. Essa amiga minha, aliás, é do tipo que ganha – com sobra de méritos – a confiança de todas e logo se torna confidente de todo mundo. Agora, porém, está agastada com a situação e desabafou comigo.

- Não estou aguentaaaaaando as minhas amigas! Parece (deusoslivreeguarde!) que estão dando em cima dos meus filhos. Adoro elas, mas isso está me incomodando, sabia?
- Isso o quê, exatamente? – pergunto, cutucando-a para que libere a angústia.
- Por exemplo, se estou numa festa com meus filhos, elas dão uma voltinha e toda hora param na minha frente para dizer: “Como o teu filho está lindo!”, “Nossa, que gato o teu filho!” e por aí. Eu fico porrrr aqui com isso.
     
Foi então que meti o dedo na ferida e arregacei! Mas era uma necessidade ser clara e sincera, e é mesmo o que penso.
- Querida, queres saber? Elogio para filho da gente só até os dois anos deles, e vê lá, que já é muito. Depois disso, estão de olho neles meeeeessssmo! Vou traduzir o que elas disseram: “Como o teu filho está lindo!” = “Caralho, que homem gostoso!”, “Nossa, que gato o teu filho!” = “Quero dar pra ele”.
- Cruz e Credo! Você acha mesmo?
- Acho, não! Tenho certeza! (Apesar da sinceridade, eu não queria promover a discórdia).
- Ôxi, que qué isso?
- Ah, confessa. Tu vais me dizer que não percebes quando uma mulher está a fim de um homem? Ela exala desejo pelos poros! Ela, não. A gente, quero dizer. Só não vê quem não quer! E tem mãe que se faz de cega para não ver...
- Verdade! Eu vejo, mas queria que não fosse verdade o que estou vendo, porque fico com vontade de meter a mão nas fuças das taradas.
- E desde quando é tara olhar para homens da idade dos teus filhos? Normal, por mais que não gostes disso. Além disso, hello! Presta atenção! Eles não são mais criancinhas. Já estão no ponto de abate.
- Vou te enfiar a bolsa na cara agora mesmo!

Eu sabia que ela estava brincando. O que ela não sabia é que eu não estava brincando. Rimos e continuamos a prosa.
- Até outro dia eles usavam fraldas, como é que agora já estão atiçando as vagabundas?
- Impressionante, disse eu. Quanta maldade nesse coração materno! Antes, as amigas eram as melhores pessoas do mundo. Agora, olha do que as chamas (e me inclui fora disso!): taradas, vagabundas. Amiga, sublima isso de uma vez. Teus filhos não usam mais fraldas (e ainda bem que não usam cueca de oncinha... bem, eu não sou testemunha, é só um palpite). São homens lindos, gostosos (acho, claro, é só uma opinião), apetitosos (digamos assim, interessantes, que é mais suave). Eu também dava facinho...
- Calaaaaaada! Não completa a frase ou vou ficar tua inimiga para o resto da vida!

 Uééé... Não entendi o exagero e a ameaça. Eu ia dizer que dava facinho para um como eles. Só isso. Não quero essa amiga minha para sogra.

Um comentário:

  1. Amei a conversa. Mas não é verdade?
    Será que ela vai mandá-los pro Papa tomar conta?

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