quinta-feira, 31 de março de 2011

Ainda ele

Vera Pinheiro
            Estou aquietada. A morte de José Alencar calou fundo no meu coração, e não poderia ser diferente. Na convivência de seis anos com ele, acompanhei a sua luta pela vida, estive na torcida pela sua recuperação, orei por ele e chorei a sua morte. Todas as histórias passaram pela minha cabeça. Preciso falar sobre elas para tirá-las do pensamento. Do mesmo modo, precisei ir ao velório para ter uma certeza íntima de que ele partiu.

            José Alencar foi cremado. Viu pó e se transformou em saudade.
Saudade desse abraço e desse sorriso...

terça-feira, 29 de março de 2011

O José Alencar que conheci

Vera Pinheiro 
Em seis anos de convívio direto com José Alencar Gomes da Silva, como sua assessora, recebi muitas lições da vida desse homem que viveu um martírio pessoal sem ares de amargura. “O senhor faz pela fé e esperança das pessoas como nenhum líder religioso o faria. Disse-lhe isso, certa vez, comentando a imensa quantidade de cartas, telegramas, cartões, bilhetes e mensagens por e-mail que recebia diariamente. Passavam por mim as mensagens enviadas e as respostas dele, e me comovi às lágrimas com muitas delas. O vice-presidente da República chorou incontáveis vezes, lendo as mensagens chegadas de todos os rincões do país. Mas a solidariedade que lhe prestavam não o envaidecia. Achava simplesmente “normal” o comportamento solidário do povo brasileiro em relação ao seu drama pessoal, e não sobrevalorizava os elogios que se colavam às manifestações de apoio. “Não me superestimem. Eu tenho de ser humilde para compreender essa reação das pessoas, pois, do contrário, isso poderia me subir à cabeça e me fazer pensar que sou o tal”.

Nem mesmo virtudes ele trazia à ponta do lápis. Todas as qualidades associadas ao seu nome – integridade, honradez, honestidade, justiça, seriedade, caráter retilíneo, e mesmo um trivial louvor ao modo como procedia na vida pública e privada, como político e empresário – eram minorados por uma modéstia desconcertante. “Isso tudo não tem de ser enaltecido. É obrigação”.

Ele se desmistificava, assegurando: “Tudo o que for verdade a meu respeito pode ser dito. E deve ser dito”. Nem mito nem herói, sequer de sua própria história. José Alencar queria apenas cumprir o que lhe disse o pai, estando de saída para o mundo com pouco mais de nada, mas municiado de vontade férrea e de crença em si mesmo. “Quando saí de casa, aos 14 anos, pedindo “bênção, mamãe”, “bênção, papai”, ele falou comigo: “Meu filho, não se esqueça: o importante na vida é poder voltar!”. Voltar a uma pessoa, a uma família, a uma casa, a uma cidade, a um emprego, a um cargo, a uma instituição, a uma entidade, a uma situação... Voltar! Poder voltar significa viver altivo, de cabeça erguida”.

Havia quem duvidasse que as correspondências chegassem ao conhecimento dele, mas chegavam, e elas se tornaram preponderantes para a força que ele demonstrou ter ao longo dos sucessivos tratamentos da doença. Chegava de tudo um pouco: orações, livros, simpatias, novenas, sugestões de tratamento, pesquisas sobre ervas medicinais, imagens de santos, velas, incensos, medalhinhas, tudo o que as pessoas imaginavam que pudesse ajudar na cura de José Alencar era enviado e entregue, embora ele nem sempre agradecesse. O Brasil, de tantas vertentes religiosas, se uniu em um só coração, fazendo um único pedido pela saúde do vice-presidente, o mais amado de todos os tempos, um “fofo” ou o “queridinho do Brasil”, como chegou a ser definido. E ele era.

Jamais poderia supor quem era esse homem quando fui nomeada assessora da Vice-Presidência da República. Para mim, era apenas mais um trabalho, não sabia o que a vida me ensinaria no convívio com José Alencar Gomes da Silva. Não o conhecia além do que a sua vida pública permitia conhecer, e aos poucos, cada vez mais, descobri a grandiosa figura humana dele, e me surpreendeu a sua elevada espiritualidade, colocada à prova dia após dia. E quanto mais o corpo físico se agredia pelo câncer, mais José Alencar se reforçava na esperança e na fé, ensinando com seu exemplo o que realmente significa superação. Na prática, na dor, no sofrimento, não em teoria. Definitivamente, não foi homem de falácias, e fugia ao arquétipo dos políticos em geral, tal como são reconhecidos num país de turbulências comportamentais nos altos poderes.

Ele não impunha sua opinião, conquistava adesão ao que queria. Não contrariava, fazia a gente concordar com ele. O vice-presidente da República era educadíssimo, atencioso, do tipo que agradece o cafezinho que lhe servia o garçom, e com uma visão panorâmica do que estava em torno, fossem acontecimentos políticos ou as unhas de seu interlocutor. Nada lhe passava despercebido, embora silenciasse. Mas sempre dava um jeito de que compreendessem o que não estava bem ao jeito como gostava e desejava. Caso contrário, não hesitava em dizer o que pensava, mas o fazia com elegância, e nunca ouvi gritos dele, mas, sim, a sua palavra, afiada e pontual, vencendo os argumentos discordantes sem ferir.

A simplicidade de José Alencar desestruturava qualquer vaidade que alguém pudesse ter. No entanto, ele sabia a medida exata da intimidade que dava a conhecer, como se traçasse um risco invisível, mas presente. Isso não me impediu de dizer que gostava sinceramente dele, que o admirava e que me honrava trabalhar com ele. Dava mesmo vontade de dizer-lhe o que diríamos a um avô muito amado, ao pai, a um irmão mais velho, a um parente a quem dedicamos especial estima, a um amigo do coração. José Alencar fazia nascer ternura, e ela se derramava em palavras e emoções. Também por isso, acredito, os brasileiros se sentiam tão à vontade para falar com ele, dispensando os limites empetecados dos vocativos institucionais e tratando-o pelo nome. Sua Excelência o Vice-Presidente da República José Alencar Gomes da Silva era, simplesmente, Zé. Não poderia ser mais nacional.
(Esse texto era parte do livro que começamos a escrever juntos sobre ele e que não tivemos tempo de realizar).

José Alencar era um querido. Sempre será.

Morre José Alencar

O ex-vice-presidente da República José Alencar morreu nesta terça (29), às 14h45, por falência múltipla de órgãos, aos 79 anos, no hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. O político mineiro lutava contra um câncer na região do abdômen.

Na última das várias internações, Alencar estava desde segunda (28) na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do hospital Sírio Libanês, em São Paulo, com quadro de suboclusão intestinal.

O ex-vice-presidente lutava contra o câncer havia 13 anos, mas nos últimos meses, a situação se complicou.
Após passar 33 dias internado – inclusive no Natal e no Ano Novo –, o ex-vice-presidente havia deixado o hospital no último dia 25 de janeiro para ser um dos homenageados no aniversário de São Paulo.

A internação tinha sido motivada pelas sucessivas hemorragias e pela necessidade de tratamento do câncer no abdômen. No dia 26 de janeiro, recebeu autorização da equipe médica do hospital para permanecer em casa. No entanto, acabou voltando ao hospital dias depois.

Durante o período de internação, Alencar manifestou desejo de ir a Brasília para a posse da presidente Dilma Rousseff. Momentos antes da cerimônia, cogitou deixar o hospital para ir até a capital federal a fim de descer a rampa do Palácio do Planalto com Luiz Inácio Lula da Silva.

Ele desistiu após insistência da mulher, Mariza. Decidiu ficar, vestiu um terno e chamou os jornalistas para uma entrevista coletiva, na qual explicou por que não iria à posse e disse que sua missão estava “cumprida”. Na conversa com os jornalistas, voltou a dizer que não tinha medo da morte. “Se Deus quiser que eu morra, ele não precisa de câncer para isso. Se ele não quiser que eu vá agora, não há câncer que me leve”, disse.

(Do G1 - http://g1.globo.com/politica/noticia/2011/03/ex-vice-presidente-jose-alencar-morre-aos-79-anos.html)

quinta-feira, 10 de março de 2011

De parto!

Vera Pinheiro
Hã? O carnaval já veio e já se foi e eu nem vi o bloco passar? Pois é fato! Passei as chamadas Folias de Momo em Campinas para as comemorações do 27º aniversário de minha filha Camila ao lado do meu filho Guilherme e da nora Renata. Na data, 6 de março, estávamos em São Carlos, na casa de amigos muito queridos, o jornalista Cirilo Braga e sua esposa Rosana, mais os filhos do casal, Vitor e Thales, com sua amada Suelen.

Tenho mil fotos do aniversário, porém, todas na máquina fotográfica do Gui. Não as trouxe, mas ele ficou de me enviar na próxima semana, o que fará, com certeza, e postarei aqui para alegria da torcida da minha filha encantadora, nascida em uma terça-feira de carnaval, em 1984.

Estou duplamente "de parto", que é como me sinto a cada aniversário dos meus pimpolhos, rememorando momentos felizes e inesquecíveis. O outro motivo é que adotei mais um felino. Agora, com a chegada do pequeno Honey, são três, ele mais o Happy e o Shinny.






Honey é muito lindinho! Carinhoso que só! Fica colado em mim o tempo todo! E dorme no meu braço, claro. Enquanto escrevo está no computador comigo, como os outros dois fazem.

A diferença é que ele se apóia no meu braço, o que dificulta a minha mobilidade tanto quanto me enche de alegria. E lá estou eu, de máquina fotográfica em punho, registrando tudo.

Rolou um clima de ciúme com os mais velhos, mas já foi superado. Honey foi muito habilidoso na aproximação dos seus irmãos postiços. Preciso aprender o método! Em quatro dias, já estavam comendo e dormindo juntos. Os humanos têm mais dificuldade para se achegarem aos seus iguais.

Amo gatos! Adotaria uma dúzia deles! Não dão trabalho, são silenciosos, limpinhos, fazem xixi e cocô na caixinha de areia, e parecem um tratorzinho quando estão felizes, ronronando. Uma graça!

Fiquei tão envolvida com o novo membro da família que quase não tive tempo para fazer outra coisa. No começo, o bichinho precisa de muita atenção. Um olho nele e o outro nos demais gatos para que o reconheçam como irmão. Depois é um abraço! Flui fácil a convivência.

Happy é o dono da casa, ele se acha! Quando zangado, fica com um olho verde e outro azul, muito incrível. Shinny é mais ciumento do que eu pensava, mas logo se acomodou. Camila cuidou de lembrá-lo que, um dia, ele também foi adotado – junho de 2009 - e recebido em nosso lar com muito amor e carinho. Hora de retribuir! Deu certo. Agora mesmo, o pequenino de dois meses está no colo e Shinny dorme sobre a mesa de trabalho. Tudo é paz.


Sou uma mãe responsável, adoto bichinhos a cada dois anos. Já levei Honey ao veterinário para apresentá-lo ao Dr. Augusto e fazer exames de rotina. Tudo certinho com ele! E eu, babando. Nem quero sair de casa, onde fico lambendo as crias. Qualquer semelhança com meus bebês humanos não é mera coincidência. Sou mãe babona mesmo! Agora imaginem quando eu for avó!

sábado, 5 de março de 2011

Obstáculos (*)

Vera Pinheiro
            Tudo o que está em nosso caminho carrega uma lição e nos ensina. Precisamos estar atentos e receptivos às mensagens que o universo envia. Coisas simples, que estão na rotina, podem ter muito significado. Os quebra-molas, por exemplo. Se passarmos em alta velocidade por eles o carro vai sofrer um solavanco e, talvez, danos. Isso acontece quando andamos distraídos, não olhamos por onde trafegamos e não observamos o que está à frente. Atentos à sinalização (e aos sinais da vida), veremos os quebra-molas (e os estorvos) e poderemos passar suavemente sobre eles, sem sustos nem sacudidas bruscas.

            E o que são quebra-molas? São obstáculos colocados sobre as ruas ou estradas para obrigar os motoristas a reduzirem a velocidade dos veículos. Não parece a definição de algumas dificuldades que enfrentamos? Alguns problemas nos ensinam a baixar o ritmo, a andar mais devagar, a diminuir a velocidade com que andamos pela vida. Com isso aprendemos um pouco mais da suavidade necessária à vida.

            Quantas situações nos fariam esbravejar, pular, gritar, chorar? Depois de tantos “quebra-molas” que a vida coloca no caminho, um dia aprendemos a suavidade. E passamos por muitas coisas e pessoas sem solavancos. Com delicada suavidade. 

            Porém, “tem dias que a gente se sente como quem partiu ou morreu”, diz uma música do Chico Buarque (se não estou enganada quanto à autoria). Sim, às vezes, a gente entra na segunda-feira já sonhando com o próximo final de semana ou, no mínimo, esperando que o dia acabe logo para se voltar à toca, que parece um abrigo seguro do mundo. Há um peso que os nossos ombros parecem não suportar, por mais forte que seja o esforço para carregá-lo sem queixas.

            O que fazer num dia assim? Muda a sintonia! Troca de pensamento! Modifica o estado de espírito! Não te deixes abater! Sacode o desânimo! Pensa em algo feliz! Projeta um desejo! Faz um plano! Sonha com algo maravilhoso! Pensa em algo positivo! Refaz o otimismo! Anima a perseverança! Confia no Poder Divino! Entra em conexão com o teu eu interior! Ergue a cabeça! Anda ereto! Olha para o alto! Sorri! Canta! Ilumina a vida! Pensa no sucesso! Ativa o poder que habita a tua alma! Restaura a harmonia! Aciona a intuição! Abre o coração para as boas influências! Vislumbra a felicidade! Rememora os momentos de vitória! Persevera! Não deixes que as preocupações tirem a capacidade de solucionar o que for preciso! E olha de frente para o problema que te tira a paz. Ele pode ser menor do que imaginas. O medo engrandece as situações e imobiliza a gente. Segue adiante, confiante, amoroso e seguro. E repete com persistência: tudo vai dar certo! Eu sou capaz!

            Os quebra-molas não impedem a passagem, apenas nos alertam para uma travessia mais cuidadosa. Os obstáculos não haverão de te impedir de seguir adiante em busca da vitória das tuas aspirações e a tua tenacidade, e a tua coragem e a fé que tens em ti e na vida precisam ser maiores do que os problemas. Todos nós temos algum momento da vida em que estamos carentes, frágeis, pedindo colo, querendo conforto, com a autoestima em queda livre. Negar isso é negar as próprias emoções. Ou pregar uma mentira para os outros, querendo convencer a si mesmo.

            Um momento desses requer acolhimento. Quando admitimos as carências, as dificuldades, os problemas, a situação começa a se resolver e fazemos alguma coisa para modificá-la a favor das nossas melhores intenções. Deixamos, então, de agir como reflexo e de receber os estilhaços dos problemas. Quando os encaramos, começamos a buscar soluções para resolvê-los por inteiro.

            É saudável e positivo à realização de nossos projetos evitar a insistência na conexão com fatos e ou pessoas que representam obstáculos e que nos aborrecem, magoam ou irritam. Tudo passa, tudo já se foi, mas a gente continua lembrando e revivendo a ferida. A vida é leve! Não é preciso carregar o mundo nos ombros. Não podemos nos deter no sofrimento nem nas dificuldades. Caminhemos! A gente precisa fluir com a vida para ser feliz e ter o coração alado para chegar mais depressa aos lugares onde moram os nossos sonhos mais bonitos.

 (*) Crônica publicada no jornal A Razão (www.arazao.com.br) de Santa Maria, RS, edição de 5 e 6 de março de 2011.