Vera Pinheiro
Tudo na vida é perfeito e está como deve ser. O Bondoso Pai e a Generosa Mãe, ambos divinos, não se equivocam, não cometem erros, não se enganam e, portanto, não mudam de ideia nos planos que têm para nós. Se Eles traçaram um projeto divinal para as nossas vidas, certamente é o melhor destino o que nos oferecem, não importa que não possamos compreender, dadas as limitações humanas de que padecemos enquanto caminhamos rumo à evolução espiritual, e para isso estamos neste plano terreno de tantos desafios e aprendizados.
Somos desafiados a todo instante a confirmar a fé que temos na vida, em nós e no sagrado que existe em todos os acontecimentos, por isso o esforço em não sucumbir ao desespero quando as dificuldades nos visitam. Ao compreendermos que a cada problema corresponde uma solução o medo se dissipa. Qualquer questão que dá margem à angústia se resolve com a confiança de que somos amparados em nossas necessidades e que jamais estamos sozinhos nas dores e vicissitudes.
O desafio do sofrimento não é medir a capacidade de enfrentá-lo, mas não permanecer nele para sempre, ainda que sofrer seja conseqüência natural e óbvia de uma situação grave à qual não podemos ser indiferente e que parece estar além das forças que temos para suportá-la. É quando entra em teste a nossa resistência e, também, o poder de decisão em relação ao estado de ser que escolhemos viver. Como aliada temos a resignação, que demonstra humildade diante do imutável e daquilo que está além de nossas possibilidades alterar para que fique como gostaríamos. Nem tudo está sob o nosso controle e, em sendo assim, a aceitação traz a conformidade, um atalho para a paz.
Conviver é igualmente desafiador. Em todos os ambientes de que participamos ativamente deveríamos nos posicionar como observadores do comportamento próprio e alheio para extrair incomensuráveis aprendizados, não apenas sobre os outros, mas, principalmente, a respeito de nós mesmos, de como somos e a extensão de nossas ações e reações. Vislumbraríamos, então, quão melhores podemos ser se não nos deixarmos contaminar por posturas que privilegiam a iniquidade, a vaidade, a arrogância, a maledicência, a perversão e tudo o que desbota a natureza humana e a enfeia. Se podemos aperfeiçoar gestos e atitudes, somos capazes de retocar a índole, com uma firme contenção de tendências e propensões malignas e indignas, prejudiciais a todos e mais dolorosamente a nós mesmos, porque tudo o que vai, volta ao ponto de saída com a força do bumerangue existencial, que prima por recompensar e retribuir o que fazemos, e de forma triplicada. O desafio é não esperar ser indenizado por ter sido bom e justo, isso é apenas o mínimo do que cada um tem obrigação de ser.
Amar é um enorme desafio. Amar com o coração inteiro, com as melhores emoções, com o olhar compreensivo, com magnanimidade, com as mãos estendidas para acolher o outro nas horas boas e nas nem tanto, com risos fartos e lágrimas compartilhadas, com alegria por estar junto e com admiração, com benevolência e valentia para defender-se e à pessoa amada, dedicando-lhe ternura e afeto, aconchego e motivação para estar junto por todas as felizes razões do amor correspondido na mesma inteireza. Amar é desafiador por exigir desprendimento, independência, interesses comuns, partilha, confiança mútua, respeito e preservação da identidade a fim de que cada um possa dar a sua parte para formar um par, e já não serão dois, mas devem manter-se como indivíduos que continuam sendo.
O maior desafio do existir é ser feliz. Encontrar motivos para felicidade é realmente desafiador, já que para o sentimento contrário se multiplicam causas. O que precisamos entender são os propósitos para os quais fomos criados. Que Pai e qual Mãe escolheriam direção infeliz para seus filhos? Sendo o casal divino os nossos pais amorosos, não nos conceberiam para a eterna experiência da desventura. O desafio é orientar o nosso livre arbítrio para rumo que nos conduza à felicidade. Decisão de ser feliz inclui julgar-se merecedor e tudo fazer para que o caminho trilhado seja de plena luz a cada passo. Porque, se depender de destino divino, tudo o que vem de quem nos deu a Vida, é bom, é um bem e é sagrado. Então, tudo está conforme deve ser. Aceitemos o desafio de ser feliz e elevemos uma oração de gratidão por tudo o que nos é dado viver.
(*) Crônica publicada na edição de 18 e 19 de dezembro de 2010 do jornal A Razão (www.arazao.com.br) de Santa Maria, RS.
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