Nós, mulheres, somos seres
espetaculares esculpidos pela inspiração divina. Não nascemos para passar
trabalho, mas para sermos elevadas permanentemente à condição de musas. Nossas
mãos não foram criadas para carregar baldes para faxina nem para sustentar o peso
das compras de supermercado, mas para se dedicarem a acalentos e carícias em
rostos muito amados. No máximo, poderiam carregar sacolinhas de lojas pagas por
outrem, que não nós mesmas, a custo de muito esforço. Nossos braços não existem
para medir forças com os homens, mas para dar neles abraços demorados. E para
espichar mãos a serem beijadas ou para mexer nos cabelos muito bem arrumados
sempre, a qualquer hora.
Nossas pernas caprichadamente torneadas
não são feitas para correr de um lado para outro atrás de preços baixos, mas
para ir ao encontro de namorados ou de confidentes fidelíssimas com quem
compartilhar tempo livre, que pouco temos. Se for para correr que nunca seja
atrás de alguém que nos tenha abandonado, nos despreze ou ignore. A gente só
precisaria correr atrás de duas palavrinhas irresistíveis: promoção e
liquidação. É pra já! E para marcar boa quilometragem na ergométrica em horas e
horas dentro da academia ou num SPA dentro de casa.
A cabeça linda das mulheres não
devia ocupar-se com as dores de todo mundo nem se dedicar tanto às preocupações
com a família. Bem que podíamos ser acariciadas por cafunés intermináveis, o
corpo usufruindo de massagens à disposição. Ah, massagear o ego, que bom! Ouvir
que somos belas, maravilhosas, insubstituíveis, admiráveis e arrebatadoras
quase sem fazermos nada, só pelo fato de sermos mulheres. Não haver ninguém que
nos aponte os defeitos nem cite os equívocos, ninguém a nos relembrar
imperfeições, tropeços, ambiguidades e controvérsias. Ninguém para nos dizer
que somos falíveis como não gostaríamos de ser. Merecer respeito sem precisar
reivindicá-lo e uma contemplação extasiada por quem somos.
Seria tão bom se nós, mulheres, não
fôssemos usurpadas em salários, o que nos faz trabalhar mais do que seria
justo, acumulando ainda as tarefas de que não conseguimos abrir mão, como
atender os filhos quando eles e nós voltamos para casa. Podíamos, com sobra de
merecimento, desfrutar de mais descanso, lazer e muito mais prazer em sermos
mulheres se nos sobrasse mais tempo e dinheiro para gastar conosco. Não
aprendemos o saudável egoísmo de nos dedicarmos um tanto mais para nós mesmas.
Se não temos filhos, há os pais. E irmãs, irmãos ou algum parente que precise
do amparo que não conseguimos (e podemos?) negar.
A nobre origem feminina não se
destinava à pilha de louças por lavar, um batalhão de gente esperando comer por
nossas mãos obreiras, varal cheio de roupas – ora para pôr, ora para recolher!
Enquanto tratássemos de nossa linda e delicada pele, assemelhada à textura de
um pêssego maduro e apetitoso, pensaríamos num jeito de consertar o mundo. E
acharíamos uma solução, com certeza, se não estivéssemos tomadas de obrigações
que nos tiram da cama num susto, de madrugada, e não os permitem dormir
direito, tampouco mais cedo ou até tarde. Seria ótimo se houvesse pelo menos um
turno de não fazer nada, coisa alguma! Sem sermos incomodadas por pilhas de
contas a pagar, dependendo dos ganhos para um sustento que não é compartilhado.
Nós, mulheres, merecemos que portas
se abram à nossa presença! Que cadeiras sejam puxadas para que nos sentemos em
conforto, que nos deixem passar primeiro, inclusive em meio ao trânsito maluco.
Que nos perguntem o que queremos fazer, ir aonde, beber o quê? O mundo inteiro
homenageando a formosura, o encanto e a incomparável alegria de sermos a fonte
nutridora do amor, da bondade e da compaixão. E quem melhor do que nós, fazendo
isso? Os homens não seriam capazes de nos causar nenhuma dor! Eles estariam aos
nossos pés, beijando-nos incessantemente dali até a nossa cabeça iluminada (e
com produtos e tratamentos de beleza em dia com os melhores lançamentos, claro!).
Eles seriam uma espécie de súditos privilegiados pela convivência que lhes
permitiríamos ter conosco.
Nós, mulheres, enfrentamos a parte
rude da vida com um sorriso no rosto e lágrimas trancadas na garganta.
Resistimos bravamente às dificuldades sem perder a elegância nem a fé! Tomamos sustos
sem cair da pose. Rimos e choramos ao mesmo tempo quando nos alegramos
intensamente. Sofremos com dignidade e brigamos com a coragem aprendida com o
que surpreendeu a nossa índole avessa a embates. Nós, mulheres, somos o máximo!
Podem nos aplaudir agora mesmo!
(*) Crônica publicada na edião de 24/25 de novembro de 2012 do jornal A Razão, de Santa Maria, RS (www.arazao.com.br)
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