A saudade é a melhor homenagem que
podemos prestar a alguém que se ausenta de nossas vidas. Por morte, afastamento
necessário ou partida decidida por escolha pessoal, quem se afasta deixa um
legado ou um vazio. Depende do que foi o tempo de convívio, que é avaliado no
distanciamento em meio a uma pergunta recorrente: por que veio?
Há pessoas que nos marcaram tão
positivamente que sua herança é farta de aprendizados a merecerem que lhes
rendamos o preito da mais sincera gratidão. Temos certeza de que os nossos
caminhos se cruzaram com os delas por alguma razão muito especial, que nem
sempre conseguimos alcançar, e concluímos que o destino se encarregou de
escolher-nos, e a elas, para a experiência de mestres e aprendizes.
Há aqueles que ficaram muito menos
do que gostaríamos e se foram. A intensidade, nesse caso, se encarrega de
recompensar o tempo que não vimos passar e que queríamos reter. Não importa se
estiveram conosco por uns dias apenas. Tudo, então, se avalia pela intensidade,
e aprendemos assim que medir quanto dura a felicidade experimentada é mera e
inútil convenção.
Há os que, com sua presença, acendem
luzes na estrada que percorremos, sinalizando atitudes que nos beneficiam. São
as que nos desafiam a ser o máximo de nossas possibilidades. Não nos dizem o
que fazer, mas nos mostram que podemos descobrir em nós todas as respostas e
nos encaminham para a vitória sobre as dúvidas e sobre os medos que nos abalam.
Impingem em nós a ousadia e a coragem para a superação de angústias que não
puderam ser resolvidas e nos estimulam a realmente confiarmos em quem somos, no
que sabemos e naquilo que podemos fazer.
Há quem se achegue para nos trazer o
bálsamo do conforto espiritual de que necessitamos em determinadas
circunstâncias. Suas palavras curadoras recuperam o viço de nossa alma que,
naquele momento, está em sofrimento. Seu abraço nos abastece de forças que
substituem as que perdemos nos embates. O seu otimismo põe um sorriso em nossas
faces e seu amparo nos reconforta em meio às lágrimas que vertemos quando conhecemos
o desalento.
Há aqueles que se destinam a ocupar
o espaço de eternidade em nossos corações como um grande e inesquecível amor. E
quem não quereria um amor desses, ainda que partisse? São os que resgatam a
nossa melhor capacidade de amar e de retribuir o amor compartilhado, os que nos
dão a sensação de que nascemos com a finalidade de amar e ser amados, os que
afirmam a nossa índole amorosa e nos validam como seres com uma dimensão humana
e espiritual que somente o amor descreve.
Há os grandes amigos, parceiros de
caminhada, com quem dividimos alegrias e desilusões. Eles conhecem as
expectativas que acalentamos, as esperanças que nutrimos e as frustrações que
amargamos. Quando eles partem ou nós os deixamos ainda assim continuamos
juntos, e basta um reencontro para avivar os laços da imorredoura amizade.
Há aqueles que sequer são nossos
amigos, mas se eternizam em nossas recordações. Eles ingressam em nossa
existência para se doarem, e nos ajudam a realizar os sonhos, desejos e
projetos que temos em mente. Não nos conhecem, mas acreditam em nós e nos dão
um voto de confiança que nos impulsiona a chegarmos aonde queremos. Raramente
permanecem. Vêm e passam depois de cumprirem o que parece ser a sua missão na
trilha que percorremos, e nos fazem saber o que é, verdadeiramente, o
reconhecimento que alguém merece por tudo o que nos deu.
E, sem dúvidas, há a família, de eterno
vínculo. Pais, irmãos e irmãs, tias e tios, avós, cunhadas, cunhados, sogros e
sobrinhos. Maridos e esposas, incluindo os ex, todos estão conosco por uma
linhagem traçada no plano divinal. Nem adianta discutir, blasfemar ou reclamar
do parentesco! Cada um está em seu devido lugar na família para que possamos
exercitar as virtudes de que somos dotados – e a paciência deve ser uma delas! No
fantástico cruzamento de nossos caminhos com os dos outros está a forma mais
original de sermos o melhor de nós, esboçando elevados sentimentos em cada
oportunidade que a vida nos apresenta. Ninguém vem ao nosso encontro por acaso.
Todos nos vinculamos de algum modo para que cresçamos e aprendamos juntos o
mistério e a beleza da vida. Antes que tudo vire saudade.
(*) Crônica publicada na edição de 17/18 de novembro de 2012 do jornal A Razão, de Santa Maria, RS.
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