sábado, 16 de junho de 2012

Eles também sofrem (*)

Vera Pinheiro

           Os homens sofrem tanto por amor, assim como as mulheres? Sim, eles sofrem, e mais agudamente do que nós, porque foram adestrados a não revelarem sentimentos de modo explícito como o fazemos (e podemos, sem críticas por nos expressarmos, ao contrário deles). A dor sufocada arrebenta por dentro, mas eles se mantêm impassíveis.
          Não vemos um homem se despedaçando em convulsivo choro ou se rasgando todo quando atravessa uma crise amorosa. É possível que faça isso tendo apenas o travesseiro como testemunha, porque, no mais das vezes, os homens são discretos no esboço de sua dor, que apenas os mais íntimos conhecem. Talvez por isso a nossa desconfiança de que eles jamais sofrem e que se posicionam, sempre, na condição de algozes, jamais de vítimas numa relação de amor, e ambas são indesejáveis.
          Por não encontrarem boa acolhida à dor que sentem, os homens se escondem em suas cavernas interiores e não saem de lá antes que estejam preparados para construir uma nova história. Porém, nem todos fazem isso. Muitos tomam o exato sentido contrário e se transformam naqueles tipos execráveis, a quem chamamos de “galinhas”. Apregoam que liberdade era tudo o que queriam, mas desmentem isso com o vazio que experimentam no girar da chave na porta sem ter alguém à espera (e mãe não vale!).
          Sem avaliar os sentimentos masculinos, reproduzimos a famigerada oposição entre os gêneros, que em nada contribui para o bom convívio dos humanos. Aborrecidas e impacientes com os motivos deles, nós os deixamos de lado, os transformamos em bons amigos e não acreditamos que eles sejam capazes de estabelecer vínculos duradouros. Estas são reações adequadas às expectativas deles, pois enquanto não estiverem curados, não quererão um relacionamento aprofundado nas emoções. Ficarão com várias mulheres e nenhuma o terá por inteiro, pois parte dele está aprisionada no passado que ainda repercute mágoas não resolvidas.
          A postura da fera ferida é, de duas, uma: o recolhimento na toca ou a luta. Manter-se no refúgio representa fraqueza para eles, cobrados que sempre são em coragem e decisão. A luta não é para curar o machucado, mas para provar que está vivo, apesar da alma em frangalhos. Para o homem, lutar até que se esgote o sofrimento significa cair na farra como se estivesse feliz, para depois chorar sozinho e em silêncio. O cara que está na rua todos os dias será aquele que vai louvar a boa rotina de mãos dadas com a mulher de sua vida, quando estiver com ela.
          Os amigos contribuem, e muito, para que o homem se negue a experienciar a dor em toda a sua profundidade. Se ele sofre, os outros o catam no meio de seu caos amoroso e o chamam à diversão, que não é verdadeira, mas entretém e faz passar mais depressa as horas. A cabeça, porém, não está ali, mas junto com o coração – sim, eles têm um! – que repete incansavelmente trechos da vida com a pessoa amada, que já saiu do cenário, mas não dos sentimentos. A saudade aperta, mas ele se impõe resistir bravamente.
          Com os olhos no passado, eles não enxergam outras pessoas, por melhores que elas sejam. Nós, então, questionamos se o problema é nosso, já que não conseguimos encantá-los. Se problema existe, no caso, é com a nossa boa autoestima que está, certamente, em baixa, a ponto de sugerir indagação como essa. É de se acreditar quando eles dizem que não é nada conosco, mas com eles. Geralmente estão sinceros, mas a gente duvida.
          Se um homem está sofrendo por amor, a pior boa ideia que uma mulher pode ter é investir na iniciativa de abordagem para a conquista. É grande a probabilidade de perda de tempo, com avarias na própria autoconfiança. Para eles o assédio feminino não é tão lisonjeiro quanto parece. Além de não saberem o que fazer com isso, ficam terrível e inconfessadamente constrangidos. Esse é um papel que os homens se reservam, e a nossa alternativa é a sutileza. Afinal, a mulher permite a conquista e a ela se rende. Digam o que disserem, isso não mudou. Ainda.

 (*) Crônica publicada na edição de 15 e 16 de junho de 2012 do jornal A Razão (Santa Maria, RS) - www.arazao.com.br

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