Quando a gente vê... já passou dos
30! Num repente, o meu filho Gui já passou dos 30 também e a minha filha Camila
é uma mulher de quase 30. Ela está chegando à fase que inspirou o francês
Honoré de Balzac a enaltecer as mulheres emocionalmente
amadurecidas para viver o amor em plenitude. Digam o que disserem sobre as
virtudes e alegrias da chamada melhor idade, mas como é bom ter 30 e poucos
anos... ou quase 30.
Animadíssima com o aniversário, Camila celebrou a data
exatamente sob o slogan “Uma mulher de quase 30”, enquanto sua aparência gera
desconfiança de que ela aumenta a idade. Não é raro que lhe peçam documento que
ateste maioridade e que surpreenda positivamente a capacidade profissional avantajada
para “uma menina”. De vez em quando percebo seus esforços para mostrar-se um
tanto mais velha e logo a demovo da ideia, até porque, se aumenta a idade dela,
a minha também cresce, e estou confortável nos meus, digamos, 50 e alguns, e não
me apresso.
Três gerações de mulheres na família mostram que a vida
muda muito, e os 30 anos não escapam disso. Aos 30, minha mãe era dona de casa,
tinha cinco filhos e eu não era nascida ainda. Nos meus 30, tinha dois filhos, carreira,
casa e marido para atender e fazia o segundo curso superior. Aos quase 30,
minha filha é solteira convicta, faz pós-graduação e mantém o foco no
desenvolvimento da carreira profissional. Eu não a censuro, pois de tudo, o que
ninguém nos tira é o estudo, já sentenciava a mamita, priscas eras.
Quase 30 ainda não são 30, mas dá ares de mulher ao
rostinho de menina. Porém, como tudo na vida, ainda não é o que poderá ser,
quando puder vivenciar todas as possibilidades de determinada fase, e vale para
todas. Por isso eu comemoro a idade que tenho até a virada! E quase, afinal de
contas, não é tudo.
Quase é uma palavrinha que coça a ansiedade da gente. Quando
esperamos um encontro que festeja todos os sentidos, o coração pulsa no ritmo
dos segundos: “Está quase chegando a hora!”. O noivo no altar respira curtinho
e mal se aguenta sobre as próprias pernas na espera que quase o faz correr à
porta. O casamento está quase acontecendo e a noiva não chegou!
Na escola e também na faculdade, um suspiro desolado
acompanha o aborrecimento de quase ter sido aprovado. Faltou pouco, terá que ir
à mais uma prova. E antes, a determinação de passar no vestibular faz tentar a
seleção de novo. Quase foi selecionado, então precisa estudar mais um
pouquinho! Um ponto pode ser decisivo para chegar lá, deixar o quase que não
inclui o nome da lista de aprovados.
O esforço para emagrecer não permite aos olhos
desgrudarem da balança. O peso ideal está quase ali, requer um esforço extra
para manter os propósitos da reeducação alimentar. Quase sucumbiu aos apelos do
paladar, mas bravamente resistiu!
Ainda não foi desta vez! Quase acertou na loteria.
Confere os números, quase deu, na
próxima quem sabe acerta, e até não se importa em dividir o prêmio milionário
com outro apostador. Quase! Tirou uma lasquinha para acabar de vez com os
problemas financeiros! E tem quem quase passou no concurso para um emprego
fabuloso, mas o nome ficou no cadastro reserva, talvez mais tarde chamem os
excedentes, que quase puderam assumir o cargo. E quase foi chamado para uma
vaga que outro conseguiu. Na trave! Quase gol.
Nas
atividades cotidianas, o quase está quase sempre presente. Não raro, a gente
levanta meio atrasado e quase se atrasa para o trabalho, e se chegar tarde o
chefe quase nos bota para fora! Na cozinha, se não houver boa atenção e máximo
cuidado, a comida quase queima na panela, o leite quase vira e a água para o
chimarrão quase ferve.
Nos
relacionamentos, então, o quase é figurinha carimbada! Bem que a gente queria
se apaixonar por alguém que, realmente, quase nos pegou de jeito o coração, mas
ainda não esquecemos de outra pessoa, com quem quase nos casamos, mas não deu
certo. E há quem esteja em nosso encalço e quase nos conquista, mas estamos
dando um tempo que já demora demais e quase beira a eternidade. O quase ronda as
histórias da vida de dois que ficam e quase namoram, mas ainda não.
- Foi bom
pra você?
- Quase.
Vira para o
lado, disfarça ou ri da situação. Nada a fazer nem a declarar no caso. O que
não dá para admitir é viver pela metade, quase ser feliz, quase amar de novo,
quase realizar os sonhos. Viver e ser feliz dependem da inteireza das vontades,
saindo do quase foi para o já é!
Você já leu o poema "Quase" do Luís Fernanda Veríssimo? Ele fala justamente sobre as pessoas que vivem no "quase"....
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