Amigo meu estava inconsolável com o
término do namoro. Chorou copiosamente no conforto dos meus ombros e deitou
queixas nos meus ouvidos até acalmar a dor que, sinto avisar, demora bastante
para passar. O inusitado despertou em mim uma sincera solidariedade com o
sofrimento masculino, sem deixar de me sentir, de certa forma, vingada por
todas as lágrimas que derramei em circunstância assemelhada.
A conclusão óbvia: eles, como nós,
sofrem em lágrimas de esguicho por suas frustrações de amor. O sinal de mudança
é não esconderem mais isso, se mostrarem frágeis no relacionamento e se
acabarem de chorar com o final infeliz da história. Nas curvas do passado, essas
eram cenas protagonizadas pelas mulheres tão somente. Eles faziam, sim, todos
os lamentos, mas confidenciavam apenas aos amigos, que mantinham o fato em
segredo para não desmerecer o sujeito. Nisso os homens são admiráveis: mantêm a
classe unida na dor, no amor e nas safadezas. Já nós, mulheres, estamos
aprendendo o sentimento de irmandade que para muitos é inconveniente pela força
que isso representa.
Voltando ao meu sentimental e
sofredor amigo, vou descrever o tipo. Pensem num homem alto, forte, com belíssimos
olhos verdes, culto, simpático e de boa condição social. Ele é muito mais que
isso. Nada tendo que mereça críticas na performance sexual (dizem!), é um amante
do tipo que manda flores, diria Roberto Carlos, emendando “esse cara sou eu”.
Romântico, faz de tudo para a mulher se sentir o máximo! Demonstra amor como
poucos que conheço. E se enquadra naquele modelinho que a gente cresce querendo
um que seja igual: abre a porta do carro, puxa a cadeira, dá a vez no elevador...
e não esquece datas! Enfim, um bípede evoluído que não se compara a muitos
trogloditas que algumas adoram, vai saber por quê! Bem educado e de boa
formação, é um cavalheiro de comportamento irretocável. Um gentleman!
- E sozinho!, reclama ele.
Eu tentava consolá-lo, enumerando
virtudes que enxergo nele e que, certamente, não passam despercebidas, porque a
gente, afinal, é boa nisso: num olhar de relance identificamos todas as qualidades
e defeitos, e temos um desenho pronto do homem perfeito que queremos ao nosso lado.
- Faço de tudo pela mulher que amo e
ainda assim não consigo agradá-la. Além disso, sou sincero e sou fiel. Será que
as mulheres gostam de cafajestes?
Ainda bem que ele não usou o
detestável “vocês”, que eu rejeitaria. Até em estado de padecimento amoroso ele
é gentil. Atenção, desconfiadas de plantão: não tenho qualquer motivo, mínimo
que seja, para não acreditar no que ele diz, o que me autoriza a confiar no
relato que faz de si mesmo.
Por que uma mulher dispensa um homem
como esse, que a todos encanta e que muitas, tenho certeza, se rasgam e
esbofeteiam as outras para estar ao lado dele? Será que ainda funciona conosco
o que nossas mães e avós diziam, que a dificuldade atiça a vontade? Isso lá nos
tempos em que se dava “prova de amor”, totalmente dispensável hoje, pois esse
sentimento vai muito daquilo que preocupava as gerações passadas em termos de
relacionamentos.
O que, afinal, nós queremos dos
homens? Que eles nos conquistem ou que nós possamos conquistá-los para depois
exibi-los como condecoração enquanto desfilamos de salto e homem a tiracolo?
Não queremos ser paparicadas por medo da opressão que possa vir embutida?
Queremos inverter o processo de dominação que tanto fizemos para derrubar?
Preferimos aqueles que dão assunto com as amigas, os de quem temos motivos para
reclamar, pois os muito perfeitinhos nos cansam facilmente? Essa postura tem
muito do que era discurso masculino.
“Homem bom não dá em touceira”, dizia a
mamita, que se casou uma única vez na vida e, viúva, ficou sozinha. Muitas
mulheres reclamam da qualidade dos homens, mas rejeitam o tipo bonzinho que aparece
em sua frente, isso é fato. Não me demorei procurando respostas, que são
individuais, para dar a ele. Eu me debrucei nos ombros do meu amigo e suspirei:
“Eu também”. E assim a vida segue, entre solidões compartilhadas e o passar do
tempo com aprendizados e lições. Uma delas, antes que me perguntem: a maneira
mais eficiente de afastar um possível enamorado é transformá-lo em amigo que
chora junto. Era melhor no tempo em que a gente chorava apenas com as amigas...
(*) Crônica publicada na edição de 13/14 de abril de 2013 do jornal A Razão, de Santa Maria/RS (www.arazao.com.br)
É com um imenso prazer que faço sim parte do seu blog....Recordo-me como se fosse hoje quando criei meu blog....todos os dias ficava acinoso q espera de um rosto no meu espaço....Hoje vim fazer parte do seu lindo espaço em expançao....Quero sim ver-te em www.uanderesuascronicas.blogspot.com
ResponderExcluir