terça-feira, 12 de junho de 2012

Dia dos (que não têm) Namorados

Vera Pinheiro

Estou que olho as horas, esperando que a noite passe para terminar logo esse tal Dia dos Namorados, uma data que não existe no meu calendário! Ao quase final deste 12 de junho estou enjoada de coraçõezinhos vermelhinhos e saltitantes e de mensagens de amor por todo lado. Os shopping centers estão insuportáveis de tantas promoções ...para o Dia dos Namorados, claro. Se a gente entra e pergunta o preço de algum produto, a balconista logo quer saber da comemoração. Se dermos conversa, viramos amigas de infância no ato!
-  Não tenho namorado.
- Nããããão? Como assim?
A julgar pelo tamanho do espanto, parece que está me faltando uma peça! Não, eu sou normal, apenas não tenho namorado. Isso acontece!
            A outra pessoa não entende – ou será que não expliquei direito?!
            - Mas tão jovem, tão bonita...
            A afirmação tem certo “coitadismo” que me irrita, e vou ficando impaciente com o rumo que a prosa toma!
            - Ah, pois é. Mas não tenho namorado. Sabes me explicar por quê?
            Pronto! A mulher puxa a gola da minha blusa e começa a sussurrar no meu ouvido.
            - A culpa é deles!
            Nossa, que susto! Olhei rapidamente ao redor e não vi nenhum ET por ali, tampouco assombração na área.
            - Deles quem?!
            - Esses homens são os culpados da nossa solidão!
            Ahah! Ela confessou! É uma das minhas! Das muitas mulheres que não têm namorados era mais uma!
            Nisso me deu uma pena dos homens a ponto de quase chorar.
            - Ah, os pobres, a coisa não é bem assim, amiga.
            A essa altura eu também já cochichava no ouvido dela, segredando como velhas amigas.
            - A gente tem responsabilidade nisso. Para muitas de nós a solidão é uma escolha. E um dia como esse passa batido, nem damos importância, pois estamos acostumadas a ficar sozinhas e não fazemos disso um problema.
            Ela não se rende e continua:
            - Ah, mas como é bom a gente ter alguém para beijar na boca, andar de mãos dadas, dormir juntinho (ainda mais num frio desses), acordar junto, fazer planos junto, sonhar a dois, se ajudar, se amparar, trocar idéias, compartilhar vida...
            - Para! Stop! Nem continua que estou de saída! Os homens têm chulé, acordam com mau hálito, deixam as coisas espalhadas no banheiro, enchem a pia de louça, são exigentes demais, chatos demais, aborrecidos demais, mal humorados demais... Sempre me lembro de todas as coisas ruins deles no Dia dos Namorados, sabias? Afinal, é insuportável admitir que o abraço deles é um ninho quentinho para o aconchego da alma, que eles são adoráveis quando tratam a gente com carinho, que o olhar doce deles nos eleva à condição de rainhas! Que basta um chamado para que corram e nos dêem colo, que jamais se esquecem de mandar um recado mesmo quando atarefados, que ligam e mostram que se importam, que dizem “eu te amo” de um jeito inesquecível, que nos fazem sentir a primeira e única dentre todas as mulheres. Sem falar que nos amam de um jeito que nos fazem tocar o céu em instantes, e que se ilumina a nossa vida sobre a terra à simples menção do nome deles...
            Peguei o lencinho de papel que a moça me estendeu. Coisa ruim quando cai um cisco no olho da gente...

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