Vera Pinheiro
Sinceramente? Não sei como consegui, ao longo da vida, tomar conta de casa, atender os filhos e trabalhar fora, tudo ao mesmo tempo. Certa vez, cheguei ao abuso de ter cinco empregos, mais dois filhos e um marido. Só um! Não me perguntem como eu conseguia dar conta de tudo, porque já me perguntei isso um monte de vezes e não encontrei a resposta. Devia ser alguma mágica, pois é algo humanamente inconciliável. Ou conciliável com altos prejuízos humanos, familiares, amorosos, sociais.
Quando, hoje em dia, olho a minha cara no espelho até que o estrago não foi tããão grande...rrsrsrs... Mas eu poderia estar bem melhor! Foi trabalho demais para uma pessoa. Não faria isso de novo. Aliás, muito do que eu fiz, não faria de novo. Mas arrependimento é o tipo de coisa inútil. A gente não deve fazer o que mais tarde pode gerar arrependimento. Porém, é fato que a gente vai “no embalo”, não avalia o nível de exigência que impõe a si mesma e não pensa no preço que vai pagar por isso.
Um pouco é por necessidade, sim, mas um bom tanto é por exagero. Eu poderia ter pensado se valia a pena me impor os sacrifícios que me impus. Sim, ninguém colocou faca nos peitos me obrigando a trabalhar feito uma condenada. Eu me envolvi demais com o prazer do trabalho e – que absurdo! – cheguei a achar bonito ser uma típica e autêntica workaholic! Eu, que nunca experimentei drogas, exceto alguns homens que conheci, fui viciada em trabalho! E é bem verdade que, em determinada época, essa dedicação extremada ao trabalho era muito valorizada. E a gente pensava que ganharia um cavalinho de ouro, que seria recompensada e reconhecida, que nos aplaudiriam para todo o sempre. Que nada!
E agora? Onde estão os que se locupletavam com esse estilo de vida que trucidou a gente e gerou enorme abandono? Os únicos beneficiados com isso foram os que pagaram pelo nosso serviço. Pagaram apenas pelo serviço executado, não pela vida que a gente perdeu, pelos amigos que cansaram de nos procurar, pelos amores que desistiram de nós, pela solidão que descobrimos ou, enfim, reconhecemos quando nos libertamos daquilo que era, praticamente, a essência de nossa vida, o trabalho. Uns se libertaram pelo desemprego; outros, por doença; alguns pela opção da aposentadoria.
Eu sei o preço que paguei pela vida que escolhi. Se tiveres chance, tempo e vida, refaz a rotina para que ela não te engula. Reconstrói a rotina, antes que ela acabe com a tua vida!
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